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segunda-feira, 29 de abril de 2013
Manfred Hauke - "A Santa Missa, Sacrifício da Nova Aliança"
A Santa Missa, Sacrifício da Nova Aliança
1. Em busca do “centro” da celebração eucarística
O Motu Proprio Summorum Pontificum deu um espaço maior à celebração da Santa Missa no rito romano antigo. Essa nova situação está influenciando também a conscientização sobre o que é a Santa Missa, a celebração eucarística.
Nos anos sessenta do último século, dominava a idéia de que a Eucaristia é sobretudo um banquete. Por isso seria justo usar um altar reconhecível como mesa. Não tão raramente, se celebravam Missas nas quais os participantes se sentavam em torno de uma mesa, pretendendo seguir deste modo o exemplo da Última Ceia. Esta tendência foi vigorosamente sustentada por uma corrente que ir ao encontro dos protestantes. Assim como os reformadores refutam o fato que a Santa Missa torna presente o sacrifício de Cristo na Cruz, também um certo tipo de ecumenismo colocava em cena que a Eucaristia seria sobretudo a “Ceia do Senhor”.
Assim como “Ceia do Senhor” é uma expressão usada pelo apóstolo Paulo, pensava-se ter o suporte da Sagrada Escritura para afirmar isso. Até mesmo a primeira redação da Introdução ao Missal do Papa Paulo VI, em 1969, descreveu a Santa Missa como a “Ceia do Senhor” ou também como santa assembléia do povo de Deus na qual é celebrada, sob a presidência de um sacerdote, a memória do Senhor[1].
Esta descrição provocou a ira dos Cardeais Ottaviani e Bacci os quais criticaram que aí não se levava em conta o carater sacrifical da Eucaristia[2]. Como reação, Paulo VI fez publicar um ano depois (em 1970) uma edição corigida da Introdução na qual vem reproposta com clareza a doutrina do Concílio de Trento sobre a Santa Missa como sacrifício, uma doutrina em todo caso mencionada em outros lugares, mesmo na primeira edição do texto[3]. Também o texto corrigido, porém, parte da descrição da Missa como “Ceia do Senhor”.
Essas mudanças redacionais põem a pergunta sobre o que é a Santa Missa. Os dois significados de “banquete” e de “sacrifício” são realidades de igual nível? Ou um significado é mais amplo que o outro? De onde é preciso partir para se aproximar do centro do mistério eucarístico?[4]
Não basta colocar vários matizes da Eucaristia um ao lado da outro, sem investigar a coesão “orgânica” dos vários aspectos entre si. Para ver a necessidade de um tal equilíbrio, cito-vos os títulos reportados numa introdução divulgativa à Santa Missa, um texto publicado nos anos 70 por Theodor Schnitzler, um liturgista alemão na Diocese de Colônia:
A Santa Missa – o que é? Assim pergunta o primeiro capítulo. “A Missa não é uma aposta [mercantil]. A Missa não é uma representação (teatral)… não é magia… não é um exercício obrigatório. A Missa é uma festa, uma assembléia, uma memória, um jogo, um contrato de aliança, um sacrifício, um banquete” etc.[5]
Um elenco desse tipo põe em discussão aspetos significativos, mas de valor muito diverso. Não se podem pôr no mesmo nível, por exemplo, o aspeto do sacrifício e aquele de “jogo”. Como “jogo”, Schnitzler entende (nas pegadas de Romano Guardini) não uma espécie de jogo de divertimento com regras inventadas por nós, mas antes um “santo jogo”, isto é, uma ação sagrada não orientada a um fim de trabalho ou de pedagogia[6]. Guardini, na sua conhecidíssima obra sobre o espírito da liturgia, compara a festa cultual com o jogo das crianças e com as obras dos artistas que não são destinadas ao consumo ou ao lucro.
O jogo das crianças, segundo Guardini, não tem um fim que se quer alcançar e pelo qual o jogo serve somente como meio. O jogo tem o seu sentido, mas não está submetido a um outro fim como instrumento[7]. Guardini reafirma que a liturgia, enquanto tal, não é um processo educativo, mas um evento orientado à glorificação de Deus. O homem deve aprender a dedicar tempo a Deus, a ter palavras, pensamentos e gestos para o “santo jogo” sem se perguntar sempre logo: por quê? Basta ocupar-se em liberdade, beleza e santa serenidade em fazer diante de Deus o jogo ordenado da liturgia[8].
Na abordagem de Guardini se vê a justa preocupação de não submeter a liturgia, especialmente a Santa Missa, a fins que a usem como simples meio para alcançar outra coisa que não seja a glorificação de Deus e a salvação do homem. Todavia, o termo “jogo” é ambíguo e pede uma explicação atenta. A categoria de “jogo” falta, costumeiramente, nas explicações históricas e sistemáticas da Eucaristia, como nos textos de dogmática ou no Catecismo da Igreja Católica. Antes seria problemático, por exemplo, promover um inteiro programa de catequese às crianças sob o título: “A Eucaristia como jogo”. Seriam criados tremendos mal entendidos.
2. A problemática da “figura fundamental” da Eucaristia
Mas de onde partir para uma aproximação sistemática do mistério eucarístico? Com esta pergunta chegamos à discussão teológica sobre a “estrutura fundamental” da celebração eucarística. O debate parte de uma reflexão de Romano Guardini de 1939. Conforme esse teólogo, protagonista da renovação litúrgica, “toda ação litúrgica genuína” contem uma “Grundgestalt” “que a sustenta e lhe dá a vida específica”.
A palavra alemã Grundgestalt podemos traduzi-la como “figura fundamental“ (pode-se também relacionar o termo com “estrutura“ ou “forma“ fundamental). Especialmente os sacramentos “não são simples formas de aplicação dos dons divinos, mas eventos vitais, costruídos conforme a essência do homem cuja alma se exprime no corpo e cujo corpo vem formado pela alma. ‘Forma’ (Gestalt), porém, é o modo pelo qual o ser humano é vivo… Por isso é uma das exigências mais importantes da educação litúrgica fazer ver a forma interior das ações santas de um modo quanto mais claro e quanto mais forte forem possíveis. Mas em que consiste a estrutura fundamental da Missa? É a do banquete (Mahl)”. No mesmo momento Guardini afirma: “A sua forma é o banquete; atrás do qual, porém, não como forma mas como realidade, como fonte, como pressuposto, se acha o sacrifício”[9].
Falar de uma “forma fundamental” da Eucaristia foi um novo passo. Joseph Ratzinger observa: “Tratava-se de reconhecer, por trás da casualidade de cada um dos ritos em si mesmos, a forma geral e portadora que enquanto tal é contemporaneamente a chave para atingir a substância do evento eucarístico. Com o conceito de forma, entrara no diálogo teológico uma categoria desconhecida cuja dinâmica reformadora era inegável. Antes, pode-se dizer que a liturgia em sentido moderno nasceu com a descoperta desta categoria”[10].
É preciso compreender o acento dado à ceia respectivamente ao banquete da situação do tempo. No fim do séc. XIX, os fiéis recebiam a Eucaristia somente pouquíssimas vezes por ano. O Papa Pio X, no início do último século, encorajava os fiéis a se aproximarem mais vezes da Santa Comunhão. Já as criancinhas deviam se unir ao Senhor eucarístico. Para favorecer a participação ativa das pessoas a toda a liturgia eucarística, o movimento litúrgico punha então no primeiro plano da atenção o fato de que nos nutrimos com o corpo e o sangue de Cristo, acolhido em comunidade[11].
A proposta de Guardini vai ainda mais longe, apresentando o banquete como forma fundamental de todo o mistério eucarístico. Essa impostação tinha como conseqüência mudanças radicais nos edifícios de culto. Buscava-se estruturar as igrejas de modo a manifestar antes de tudo o aspeto de banquete, especialmente ao colocar a altar no meio para a celebração versus populum. O problema não está na devida redescoberta da categoria de banquete, mas na diferença entre “interno” e “externo”. Numa correta relação entre interno e externo, a realidade interior e a forma exterior deveriam corresponder-se mutuamente.
Se vamos, por exemplo, a um banquete nupcial, não saímos com roupas adaptadas para fazer uma escalada na montanha, mas sim com uma roupa festiva. E, vice-versa, nenhum esportista teria a idéia de subir ao topo da montanha com roupas próprias a um banquete nupcial. Essa correspondência entre “interno” e “externo” deveria valer também para a celebração eucarística. O Cardeal Ratzinger sublinha justamente que a distinção entre sacrifício e banquete, entre forma e conteúdo, entre dogmática e ciência litúrgica foi o problema central da reforma litúrgica, um peso negativo que explica a maior parte dos problema particulares no âmbito da liturgia[12].
3. A preeminência do “banquete”: o exemplo negativo do Catecismo Holandês
Se a forma exterior é totalmente determinada pela dimensão do banquete, arrisca-se colocar em primeira linha, até de modo exclusivo este aspeto. O Catecismo Holandês por exemplo, publicado em 1966, apresentou a Eucaristia como agradecimento e como banquete feito em comum.
A categoria do sacrifício é mencionada, mas explicada do seguinte modo: “Banquete e sacrifício não são duas coisas diversas. O sacrifício é o banquete, isto é, nós o recebemos enquanto o tomamos e comemos”[13]. Nesta explicação, o sacrifício desaparece no banquete. Identifica-se o sacrifício com a comunhão. Está por trás disto uma falta na cristologia: o Catecismo Holandês não professava claramente o sacrifício expiatório de Jesus, oferecido na cruz para a nossa salvação. Exatamente este ponto é salientado pela comissão cardinalícia que se ocupou criticamente deste catecismo. Por isso os cardeais pediram uma modificação:
“É preciso dizer claramente que Jesus se ofereceu ao Pai em reparação pelos nossos delitos como santo sacrifício no qual Deus acha seu beneplácito. Porque Cristo nos ‘amou e deu a si mesmo por nós, oferecendo-se a Deus em sacrifício de suave odor’ (Ef 5,2).
O sacrifício da cruz, porém, é perpetuado na Igreja de Deus incessantemente no sacrifício eucarístico (veja-se Vaticano II, Cost. Sacrosanctum Concilium, n. 47). Na celebração da Eucaristia, Jesus, o sacerdote principal, se oferece a Deus por meio da oferta consacratória a qual é realizada pelos sacerdotes e à qual se unem os fiéis. Essa celebração é sacrifício e banquete. A oferta do sacrifício é completada pela comunhão na qual o sacrifício oferecido a Deus é recebido como alimento para unir os fiéis com ele e entre si no amor (cf. 1 Cor 10,17)”[14].
O exemplo do Catecismo holandês mostra até que ponto extremo podia chegar a tese que vê a estrutura fundamental da Santa Missa no banquete.
4. A correta relação entre sacrifício e banquete
Mas como pôr em relação os elementos do sacrifício e do banquete? E como enquadrar os outros aspetos fundamentais da Eucaristia?
É elementar sublinhar o conjunto entre sacrifício e banquete na celebração eucarística. Este ponto básico se mostra, por exemplo, em um livro de Joseph Goldbrunner, a seu tempo muito difundido para a preparação catequética das crianças para a Primeira Comunhão, um texto que por vários aspetos é precioso ainda hoje: para explicar o que é a Santa Missa, o catequista desenha na lousa três quadros, dois no alto e um em baixo. Os dois quadros no alto representam a Última Ceia e o sacrifício da cruz no Calvário. Destes desenhos partem flechas que apontam para o terceiro quadro em baixo: ali se vê o altar, semelhante à da Última Ceia, junto a uma cruz que manifesta o evento do Calvário. Por fim o catequista escreve sob o terceiro quadro: “A Santa Missa é sacrifício e banquete”[15].
É interessante que Goldbrunner não diz: “A Santa Missa é banquete e sacrifício”, mas “sacrifício e banquete”. Aí se acha uma preeminência do sacrifício, se bem que este ponto evidentemente não seja exposto às crianças da Primeira Comunhão.
Uma precedência do sacrifício é estabelecida com clareza na Istrução Redemptionis Sacramentum (2004): “A ininterrupta doutrina da Igreja sobre a natureza não só de convívio, mas também e sobretudo sacrifical da Eucaristia é justamente considerada entre os principais critérios para uma plena participação de todos os fiéis num tão grande sacramento”[16]. O documento refere-se entre outras cosas à encíclica Ecclesia de Eucaristia de 2002. O primeiro ponto posto em evidência no capítulo sobre o “Mistério da fé” é exatamente o sacrifício:
“O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue’ (1 Cor 11,23), instituiu o Sacrifício eucarístico de seu corpo e sangue. As palavras do apóstolo Paulo nos reportam à circunstância dramática na qual nasceu a Eucaristia. Ela leva indelevelmente inscrito o evento da paixão e da morte do Senhor. Não é apenas a evocação dele, mas sua representação sacramental. É o sacrifício da Cruz que se perpetua nos séculos. Bem exprimem essa verdade as palavras com as quais o povo, no rito latino, responde à proclamação do ‘mistério da fé’ feita pelo sacerdote: “Anunciamos a tua morte, Senhor!”[17]
O papa acena depois às palavras da Última Ceia que manifestam a doação do corpo e do sangue de Cristo “por” nós[18]. O “per” (hyper em grego) indica duas coisas: a oferta de Cristo em nosso favor e em nosso lugar. A expiação vicária de Cristo por nós na cruz é antecipada já na Última Ceia. A Santa Missa, como já a Última Ceia, não é um ato independente da oferta no Calvário, mas toma a sua força do único sacrifício de Cristo, oferecido uma só vez e uma vez por todas, como reitera a Carta aos Hebreus (Eb 7,27; 9,12.26.28; 10,10). João Paulo II, com o Catecismo da Igreja Católica, sublinha pois: “o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício”[19]. A Eucaristia “aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida uma vez por todas por Cristo para a humanidade de todos os tempos”. “A Missa torna presente o sacrifício de Cristo, não se acrescenta a ele e não o multiplica”[20].
O papa oferece depois uma reflexão de grande importância também para a questão da “estrutura fundamental”:
“Por força de sua íntima relação com o sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não só em sentido genérico, como se se tratasse do simples oferecer-se de Cristo como alimento espiritual aos fiéis [como pretendia o Catecismo holandês, podemos acrescentar].
De fato, o dom de seu amor e da sua obediência até o extremo da vida (cf. Jo. 10,17-18) é em primeiro lugar um dom ao seu Pai. Certamente, é dom em nosso favor, antes de toda a humanidade (…), mas dom antes de tudo ao Pai: “sacrifício que o Pai aceitou, devolvendo essa total doação de seu Filho, que se fez ‘obediente até a morte’ (Fil 2,8), com a sua paterna doação, isto é, com o dom da nova vida imortal na resurreição”[21].
O sacrifício é pois uma doação de si feita a Deus, antes de tudo por Cristo ao Pai. A glorificação de Deus é o primeiro objetivo intrínseco da Eucaristia vista como sacrifício visível. Este sacrifício consiste em louvor, agradecimento, súplica e expiação. O sacrifício do Calvário, tornado presente na Santa Missa, se dirige ao Pai como mediação ascendente que sobe (por assim dizer) de baixo para o alto. O efeito desse movimento ascendente é a mediação descendente que faz descer (por assim dizer) o dom salvador da graça, oferecida aos homens a fim de que a recebam com a fé formada pela caridade. Há pois uma mediação ascendente, o sacrifício, da qual resulta uma mediação descendente, a comunicação da vida de Deus nos sacramentos, entre eles no banquete eucarístico. Para orientação dirigida a Deus, o sacrifício tem uma precedência lógica diante de seu efeito sacramental: antes se glorifica a Deus, por meio de Cristo, depois se recebe o efeito da graça. Em outras palavras: a dimensão anabática, a adoração de Deus que sobe como o incenso, tem uma precedência lógica frente à dimensão catabática, o efeito salvífico voltado aos homens.
Desta reflexão resulta a prioridade do sacrifício na celebração eucarística, uma prioridade que deve exprimir-se também no aspeto exterior. A comunhão com Deus e entre nós é um resultado do sacrifício de Cristo. Certo: também a oferta do Salvator é tornada possível por um processo catabático, por uma mediação descendente, isto é, pela Encarnação como “descida” do Filho de Deus que assume uma natureza humana. O sacrifício, no qual Jesus Cristo se oferece a Deus enquanto homem, traz consigo uma eficácia infinita por causa da união hipostática da humanidade de Cristo com a pessoa do Verbo: pois se o Cristo crucificado é o Filho de Deus encarnado, o seu oferecimento no Calvário é a máxima glorificação possível de Deus. Primeiro vem a glória de Deus, depois a salvação dos homens. Assim também o banquete eucarístico se manifesta como conseqüência lógica do sacrifício de Cristo: recebemos o corpo e o sangue de Cristo, oferecidos ao Pai no momento da consagração que torna presente o sacrifício do Gólgota. Esta estrutura é óbvia também no rito da Santa Missa: primeiro vem a oração eucarística e só depois a comunhão.
Tenhamos em conta, depois, ainda um outro fato: já no Antigo Testamento encontramos sacrifícios aos quais se associa um banquete, por exemplo na conclusão da aliança no monte Sinai (Êxodo 24,4-11). Aí se fala de um “sacrifício de comunhão” (Es 24,5). O sacrifício deve, pois, ser visto como evento que inclui, para a sua conclusão, um banquete. Similarmente, em vez de falar da “Ceia do Senhor”, seria preciso salientar o vocabulário sacrifical, por exemplo os termos “sacrifício da Missa”[22] e “sacrifício eucarístico”[23].
O primeiro grande opositor da tese de Guardini foi o liturgista austríaco Josef Andreas Jungmann, conhecido entre outras coisas por sua obra fundamental “Missarum solemnia”, uma explicação histórica da Santa Missa. Jungmann é, pois, diferentemente de Guardini (que é mais um filósofo e fenomenólogo), um profundo conhecedor da história da Eucaristia. Já é significativo, segundo ele, o fato de que a Santa Missa jamais era chamada simplesmente de “ceia” ou “banquete”. Os nomes dados nos primeiros séculos realçam o agradecimento (“eucharistia”) e, com vários termos, o sacrifício (como as palavras gregas “tusia” e “prosfora”)[24],não se presta como termo técnico hoje, porque se presupõe ainda a integração do ágape na mesma celebração. O ágape, um banquete para saciar-se materialmente e para favorecer a comunhão fraterna, separou-se, depois, da celebração litúrgica que se chamou “eucaristia”. O aspeto mais típico e fundamental é visto na oração de agradecimento dirigido a Deus, uma oração que leva consigo a presença corporal do Cristo crucificado e ressurrecto, uma oração e uma ação explicada em termos sacrificais, como “tusia” e “prosfora”.. O apelativo “ceia do Senhor”, utilizado por São Paulo (1 Cor 11,20).
As observações de Jungmann foram aprofundadas depois pelo Cardeal Ratzinger em suas contribuições magistrais sobre a “Festa da fé e sobre o espírito da liturgia”, um título inspirado na obra já citada de Guardini. “A última ceia é certamente o fundamento de cada liturgia cristã, mas ela mesma não é ainda uma liturgia cristã.
O ato de instituição do cristianismo ocorreu no judaísmo, mas ele não havia encontrado ainda uma forma própria enquanto liturgia cristã. A última ceia fundamenta o conteúdo dogmático da Eucaristia cristã, mas não a sua forma litúrgica”[25]. De fato, a Igreja não repetiu a última ceia, mas sim a ação eucarística. Enquanto a festa da Páscoa ocorre uma vez por ano, já a Igreja primitiva celebrava a Eucaristia todo domingo para recordar a resurreição do Senhor. A Eucaristia traz consigo a presença de Cristo crucificado e ressurecto.
5. As dimensões de sacrifício e de comunhão na completa apresentação da Eucaristia
A discussão contemporânea pôde integrar a contribuição de Jungmann, sobretudo nos trabalhos de Walter Kasper e de Joseph Ratzinger. Antes de nos determos sobre essas contribuições preciosas, quereria mencionar brevemente o êxito da pesquisa ecumênica sobre a Eucaristia. Aqui é importante o trabalho feito por Max Thurian († 1996), monge de Taizé proveniente do protestantesimo; no fim de sua vida ele recebeu a ordenação sacerdotal na Igreja Católica. O documento de Lima de 1982, do Conselho ecumênico das igrejas, inspira-se em suas pesquisas e põe em relevo cinco aspetos importantes: 1) a Eucaristia como agradecimento ao Pai, 2) como anamnese ou memorial de Cristo, 3) como invocação (epíclese) do Espírito Santo, 4) como comunhão dos fiéis e 5) como banquete do reino de Deus. Esta estrutura quer reunir todos os aspetos essenciais da Eucaristia[26].
Uma recente abordagem católica, de Lothar Lies (dogmático em Innsbruck falecido a poucos meses), integra essas dimensões, ainda que estendendo-as com algum aspecto mais preciso: a Eucaristia como anamnese da salvação, como epíclese, como celebração da presença da salvação, como prosfora (palavra grega que significa “oferta” ou “sacrifício“) e como koinonia (comunhão)[27].
Poderemos precisar ainda esta estrutura. A base é sem dúvida a anamnese que não é apenas uma recordação, mas mais ainda uma ação comemorativa que torna presente a eficácia do evento mencionado. Por isso, já o Concílio de Trento não se contenta em falar de uma memória, mas acrescenta duas outras categorias: a da applicatio (a Santa Missa aplica os frutos do único sacrifício para o bem da Igreja) e a da rappresentatio (a celebração eucarística é uma representação sacramental do sacrifício no Gólgota). Na proposta de Lothar Lies, a importäncia deste fato se manifesta na insistëncia sobre a categoria da prosfora, uma precisão não tão evidente para o documento de Lima. A Santa Missa não é só uma recordação do Gólgota, mas a presença de Cristo crucificado que se oferece ao Pai. A Missa e o evento do Gólgota são o mesmo sacrifício, se bem que seja diversa a modalidade da oferta: cruenta no Calvário, incruenta sob as espécies de pão e de vinho nas nossas igrejas. Por isso é legítimo o que fazia anos atrás um pároco alemão: antes de sair da sacristia para a Santa Missa, ele perguntava aos coroinhas: “Onde vamos?” E a resposta era sempre: “Vamos ao Gólgota”.
Portanto, a memória do evento salvífico contém o sacrifício. O sacrifício, por sua vez, não deve ser reduzido ao momento do agradecimento: há o elemento da adoração (de per si distinta do agradecer), mas também a súplica e a expiação. Os protestantes facilmente podem conceder que a “Ceia do Senhor” seja um sacrifício de louvor e de agradecimento (de fato, toda oração nossa dispõe destas qualidades), mas isso não vale outro tanto para a dimensão da expiação, reservada por eles somente ao evento da cruz e negada à Santa Missa. A anamnese contém em vez o sacrifício de Cristo com todas as suas dimensões e não só o elemento importante do agradecimento. Em vez de falar de “Eucaristia”, que significa agradecimento, parece preferível usar a expressão “Santa Missa” que inclui o louvor e o agradecimento, mas também a súplica e a expiação.
Anamnese e eucaristia trazem consigo por sua vez à epiclese, isto é à invocação de Deus, especialmente do Espírito Santo que desce sobre os dons eucarísticos e sobre a assembléia. O envio do Espírito Santo depois torna possível a comunhão entre os membros da Igreja, sobretudo quando se aproxiamam do corpo eucaristico de Cristo.
Diante destas visões panorâmicas permanece ainda a questão da “estrutura fundamental”: onde pôr o acento, como descrever a relação entre os vários elementos? Entre as tentativas publicadas nas últimas décadas, sobressaem as de Joseph Ratzinger e de Walter Kasper que nesse ponto são antes próximas[28]. Ratzinger trata o tema sobretudo em seu livro “A festa da fé” e retoma alguns elementos no “Introdução ao Espírito da Liturgia”[29].
Existe também em italiano um artigo significativo de Kasper: “Unicidade e multiplicidade dos aspetos da eucaristia: Em vista do recente debate sobre figura e sentido fundamentais da eucaristia”[30]. Ambos autores reafirmam a orientação teocêntrica da Eucaristia como memorial eficaz do sacrifício de Cristo e são críticos diante da teoria que vê a “estrutura fundamental” no banquete.
Sacrifício e banquete são dimensões que não devem se contrapor entre si, mas que devem ser integradas, ainda que dando uma certa precedência ao sacrifício. O Catecismo da Igreja Católica formula brevemente: “A Missa é, a um só tempo e inseparavelmente o memorial do sacrifício no qual si perpetua o sacrifício da Cruz e o sagrado banquete da comunhão do corpo e do sangue do Senhor”[31].
Seja a dimensão de sacrifício, seja a de banquete devem ser aplicadas de algum modo à toda celebração eucarística, mas o aspeto de banquete se refere principalmente à recepção da comunhão, enquanto o sacrifício se exprime de modo mais forte na parte mais central da celebração, na oração eucarística que culmina nas palavras da Última Ceia.
6. A preeminência do sacrifício na oração “versus orientem”
A preeminência do sacrifício pela descrição da Santa Missa tem tembém suas conseqüências para a orientação da oração. Ao sacrifício corresponde o voltar-se para Deus por parte do celebrante e de toda a assembléia litúrgica[32]. Quando o sacerdote fala com Deus, não faz sentido pedir que ele se volte em direção à assembléia. É melhor, se o celebrante se volta junto com toda a assembléia para a cruz e para o altar, possivelmente na direção do oriente. O oriente, o sol nascente, está no lugar de Cristo ressurrecto cujo retorno esperamos no fim dos tempos. Um voltar-se ao povo, pelo contrário, é conveniente para a proclamação da Palavra de Deus e pela comunicação da graça nas saudações, na bênção e na distribuição da Comunhão. Esta orientação é possível também no rito de Paulo VI, mas as disposições do rito antigo parecem mais propícias a este fim, colocando no centro a cruz, o altar e o próprio Senhor no Tabernáculo.
7. A centralidade do sacrifício na forma extraordinária do rito romano
A realidade do sacrifício está presente com particular clareza na forma mais antiga do rito romano. Esta clareza não é tanto uma conseqüência do Concílio de Trento, que, com um decreto adequado, defendeu a Santa Missa como sacrifício contra os reformadores[33], mas estava já presente em tempos antiqüíssimos. Já antes da trasmissão dos primeiros formulários da celebração eucarística, as fontes da Igreja antiga falavam disso com clareza. A carta do Papa Clemente aos Coríntios, por exemplo, escrita no ano 96, apresenta como função mais típica dos presbíteros (e dos Bispos) o oferecimento dos sacrifícios[34]. A mesma observação é reportada pela Didaché que fala do “sacrifício” (tusia) no qual se cumpre a profecia de Malaquias: “Em todo lugar se me oferece um sacrifício puro” (Ml 1,11)[35]. Quando os Padres antigos falam da Santa Missa, costumeiramente não usam a expressão “Ceia do Senhor”, mas termos que põem em destaque o sacrifício ou o culto prestado a Deus.
A idéia do sacrifício está presente, de algum modo, em todas as orações eucarísticas admitidas pela autoridade eclesiástica, mas encontramos um acento particular no Cânon Romano e na terceira oração eucarística[36]. Os primeiros testemunhos do Cânon Romano (também chamado “primeira oração eucarística” no Missal de Paulo VI) remontam ao quarto século, e ao tempo de Gregório Magno (início do séc. VII) o texto encontrou na sua substância aquela forma na qual ele existe ainda hoje[37]. Por isso, podemos falar também do “rito gregoriano”[38].
O sacerdote que celebra a Santa Missa no rito antigo recebe uma consciência mais intensa da centralidade do sacrifício. Para ilustrar esta afirmação, quereria só recordar as orações recitadas em voz baixa durante o ofertório sobre o pão e sobre o vinho. Conforme a avaliação di Robert Spaemann, trata-se aqui da mais radical do Novus Ordo na liturgia romana precedente[39]. No rito de Paulo VI, as duas orações se inspiram em fórmulas hebráicas de agradecimento pelas refeições, acrescentando muito discretamente a idéia de oferta”: “apresentamo-lo a ti, a fim de que se torne para nós alimento de vida eterna” respectivamente “bebida de salvação”.
No texto latino, Paulo VI insistiu em colocar o verbo offerimus (“oferecemos”) contra a maior parte dos liturgistas, que consideravam que se deveria remover a idéia do sacrifício do ofertório[40]. É verdade que o sacrifício verdadeiro e próprio se desenvolve durante a consagração, mas nos ritos eucarísticos a idéia do sacrifício vem já antecipada antes, no rito de são João Crisóstomo até mesmo desde a proscomídia, quando se preparam as hóstias no início da Divina Liturgia.
Na forma extraordinária do rito romano, a oração para oferecer o pão inclui uma descrição muito precisa de toda a ação litúrgica:
“Aceita, Pai santo, Deus onipotente e eterno, esta vítima imaculada, que eu, teu indigno servo, a ti ofereço, meu Deus, vivo e verdadeiro, pelos meus inumeráveis pecados, as minhas ofensas e as minhas faltas, e por todos aqueles que me estão aqui em torno, mas também por todos os fiéis cristãos vivos e defuntos: a fim de que a mim, e a eles, esta oferta produza a vida eterna”.
É evidente aqui que a Santa Missa é um sacrifício oferecido pelos vivos e pelos defuntos, em expiação dos pecados e para alcançar a vida eterna. É claro também que o oferecedor, operando em nome de Cristo cabeça da Igreja, é o sacerdote, embora os fiéis sejam convidados a se associarem ao ato sacrifical.
A oração para oferecer o cálice traz uma bela formulação poética, diferente da sobriedade talvez por demais grande da oração mais recente:
“Nós Te oferecemos, Senhor, o cálice da salvação, implorando a tua clemência: a fim de que suba como perfume agradável na presença de tua divina majestade, para a nossa salação e de todo o mundo”.
A imagem que o cálice “suba” com perfume agradável a Deus, corresponde a várias descrições do Antigo Testamento. Assim se reforça o primeiro objetivo do sacrifício, o que visa glorificar a Deus. Em seguida se acentua ademais que a ação sagrada não aproveita unicamente à assembléia visível, mas que se extende além “para a salvação de todo o mundo”.
Quando o sacerdote recita as orações de oferecimento sobre o pão e sobre o cálice, ele volta os olhos à cruz (no início para a oferta do pão e durante toda a oração para a oferta do cálice). Depois das orações, ele traça o sinal da cruz seja com a hóstia seja com o cálice. Aqui se vê muito bem a ligação intrínseca com o sacrifício da cruz representado durante a Santa Missa.
8. Uma visão de Santa Hildegarda
A correta relação entre sacrifício e banquete, entre mediação ascendente e descendente, mostra-se muito bem numa visão de Santa Hildegarda sobre a Eucaristia. Desejaria terminar minha exposição com este aceno. Santa Hildegarda viveu no século XII e foi também chamada de prophetissa teutonica, isto é, a “profetisa alemã”. A santa, dotada de carismas místicos, viu como um sacerdote, vestido de vestes sagradas, subiu ao altar para celebrar os divinos mistérios. “De repente, um resplendor de luz desceu do céu. Chegaram anjos e a luz circundava o altar. Esse resplendor permaneceu até que o sacerdote, depois de realizar o santo sacrifício, se afastou.
Quando foi lido o Evangelho da paz e foi apresentada a oferta sobre o altar para a consagração, o sacerdote cantou o louvor de Deus onipotente: ‘Sanctus, sanctus, sanctus, Dominus, Deus Sabaoth!’, iniciando o mistério indizível. Nesse momento se abriu o céu. Raios de fogo com uma limpidez indescritível cairam sobre as ofertas e as transformaram totalmente com a sua glória, como o sol penetra o objeto irradiado com a sua luz. O esplendor fulminante levou a oferta às alturas invisíveis até o íntimo do céu e depois a fez descer de novo sobre o altar …”[41].
Na visão, a luz celeste desce para trasformar os dons de pão e vinho. Depois as ofertas são levadas ao alto, sinal do sacrifício que se dirige a Deus, para descer depois de novo sobre o altar e servir para a santa comunhão. Procuremos associarmo-nos ao sacrifício da nova aliança, levando assim a luz celeste - a verdade de Deus e o mistério da graça - neste mundo que tem tanta necessidade dele.
[1] Novus Ordo Missae, Introductio generalis, primeira versão, § 7, citado in A. Ottaviani – A. Bacci, Kurze kritische Untersuchung des neuen “Ordo Missae”, in Aa. Vv., Liturgie und Glaube, Düsseldorf-Gerresheim 1971, 68-92 (73); E. J. Lengeling, Die neue Ordnung der Eucharistiefeier. Allgemeine Einführung in das Römische Messbuch … Einleitung und Kommentar, Münster 41972, 166: “Cena dominica sive Missa est sacra synaxis seu congregatio populi Dei in unum convenientis, sacerdote praeside, ad memoriale Domini celebrandum. Quare de sanctae Ecclesiae locali congregatione eminenter valet promissio Christi: ‚Ubi sunt duo vel tres congregati in nomine meo, ibi sum in medio eorum’”.
[2] Cf. A. Ottaviani – A. Bacci, op. cit.
[3] Cf. E. J. Lengeling, Die neue Ordnung der Eucharistiefeier. Allgemeine Einführung in das Römische Messbuch … Einleitung und Kommentar, Münster 41972, 166s. Eis a versão amplificada do § 7: “In Missa seu Cena dominica populus Dei in unum convocatur, sacerdote preside personamque Christi gerente, ad memoriale Domini seu sacrificium eucharisticum celebrandum. Quare de huiusmodi sanctae Ecclesiae coadunatione locali eminenter valet promissio Christi: ‚Ubi sunt duo vel tres congregati in nomine meo, ibi sum in medio eorum’ (Mt 18,20). In Missae enim celebratione, in qua sacrificium Crucis perpetuatur, Christus realiter praesens adest in ipso coetu in suo nomine congregato, in persona ministri, in verbo suo, et quidam substantialiter et continenter sub speciebus eucharisticis”. Citado in E. J. Lengeling, p. 165.
[4] As exposições seguintes já se encontram de modo semelhante em boa parte em um ensaio precedente: Hauke, "La Santa Messa – che cosa è? La “struttura fondamentale” della celebrazione eucaristica", in G. Borgonovo – K. charamsa (edd.), Eucaristica e libertà. Percorsi di formazione sacerdotale, vol. II, Libreria Editrice Vaticana: Città del Vaticano 2006, 37-52. Veja também M. Hauke, L’eucaristia: fonte e culmine della vita cristiana. L’enciclica Ecclesia de Eucaristia, in G. Borgonovo – A. Cattaneo (edd.), Giovanni Paolo teologo. Nel segno delle encicliche. Mondadori: Milano 2003, 253-270.
[5] T. Schnitzler, Was die Messe bedeutet. Hilfen zur Mitfeier, Freiburg i. Br. 1976, 16-43.
[6] Op. cit., 28-31.
[7] Para quem conhece alemão: o jogo tem um sentido (Sinn), mas sem nenhum fim (Zweck).
[8] R. Guardini, Vom Geist der Liturgie, Freiburg i. Br. 1934, 52-65.
[9] R. Guardini, Besinnung vor der Feier der heiligen Messe, Mainz 21939, 70. 72s. 76s.
[10] J. Ratzinger, La festa della fede, Milano 1984, 34 (or. td. 1981).
[11] Vejam-se as observações de A. Ziegenaus, Die Heilsgegenwart in der Kirche. Sakramentenlehre (Katholische Dogmatik VII), Aachen 2003, 344.
[12] Cf. J. Ratzinger, Festa della fede, 40.
[13] Glaubensverkündigung für Erwachsene. Deutsche Ausgabe des Holländischen Katechismus, Freiburg i. Br. 1969, 383.
[14] Op. cit., 55 (= AAS 60, 1968, 688).
[15] Cf. J. Goldbrunner, Sakramentenunterricht mit dem Werkheft. Beicht – Erstkommunion – Firmung, München 61963, 90-103.
[16] Redemptionis Sacramentum, 38.
[17] Ecclesia de Eucharistia, 11.
[18] Cf. Ecclesia de Eucharistia, 12.
[19] Ecclesia de Eucharistia, 12; CCC, 1367.
[20] Ecclesia de Eucharistia, 12. Para o ensinamento magisterial e a discussão teológica sobre o sacrifício da Santa Missa, veja-se entre outros A. Piolanti, Il Mistero Eucaristico, Libreria Editrice Vaticana: Città del Vaticano 31983, 375-556; A. Garcia Ibanez, L’Eucaristia, dono e mistero. Trattato storico-dogmatico sul mistero eucaristico, Edizioni Università della Santa Croce: Roma 2006,536-551.
[21] Ecclesia de Eucharistia, 13, com uma citação da Encíclioca Redemptor hominis, 20.
[22] Veja-se p.ex. Concílio de Trento, Doutrina e canonês sobre o sacrifício da Missa: DH 1738-59.
[23] Veja-se p.ex. CCC, 1356-72. Somente em seguida se trata do “banquete pascal”: CCC, 1382-1401.
[24] Cf. J.A. Jungmann, Missarum solemnia. Eine genetische Erklärung der römischen Messe I, Wien 1948, 217-224.
[25] J. Ratzinger, La festa della fede, 40.
[26] Cf. Documento de Lima: Batismo, eucarista e ministério (1982): Enchiridion oecumenicum I, Bologna 1986, nn. 3032-3181, qui 3071-3110.
[27] L. Lies, Eucharistie in ökumenischer Verantwortung, Graz ecc. 1996.
[28] Para uma resenha bibliográfica, veja-se H.B. Meyer, Eucharistie. Geschichte, Theologie, Pastoral (Gottesdienst der Kirche 4), Regensburg 1989, 443s.
[29] J. Ratzinger, Introduzione allo spirito della liturgia, Cinisello Balsamo 2001, parte II, cap. 3 (or. td. 2000).
[30] W. Kasper, Teologia e Chiesa, Brescia 1989, 313-334 (or. td. 1987).
[31] CCC, 1382; vedi anche Ecclesia de Eucharistia, 12.
[32] Sobre este aspecto, veja-se U.M. Lang, Rivolti al Signore: l’orientamento nella preghiera liturgica. Prefazione di Joseph Ratzinger, Cantagalli: Siena 2006.
[33] Cf. Denzinger-Hünermann, 1738-59.
[34] Cf. 1 Clem 44,4 (prosenenkontas ta dora) (ed. J.A. Fischer, 80).
[35] Didache 14,1-3 (Sources chretiennes 248, 192).
[36] Cf. V. Raffa, Liturgia eucarística. Mistagogia della Messa: dalla storia e dalla teologia alla pastorale pratica, Roma 1998, 571-575. 585-590. 614. 617. 620s (sobre os conteúdos das orações eucarísticas pósconcilares, veja-se op. cit., 599-694).
[37] Cf. Garcia Ibanez, op. cit., 145s; Raffa, op. cit., 547-558.
[38] A descrição mais antiga do antigo rito romano remonta ao fim do século XII, veja, por ex. A descrição in Raffa, op. cit., 79-96 (Ordo I: ed. M. Andrieu, Ordines Romani du haut moyen age II, Louvain 1948, 65-108
[39] Cf. R. Spaemann, Bemerkungen eines Laien, der die alte Messe liebt, in A. Gerhards (ed.), Ein Ritus – zwei Formen. Die Richtlinie Papst Benedikts XVI. zur Liturgie, Freiburg i.Br. 2008, 75-102 (89).
[40] Cf. A. Bugnini, La riforma liturgica (1948-1975), Roma 1983, 373s. Uma boa síntese, mesmo “antiga”, sobre a teologia do ofertório se acha in J. Brinktrine, Die heilige Messe, Paderborn 31950, 130-167. Um breve resumo sobre a discussão pós-conciliar vem fornecido entre outros (com posterior bibliografia) in J. Hermans, Die Feier der Eucaristie. Erklärung und spirituelle Erschließung, Regensburg 1984 209-228; veja-se também a bibliografia sobre o ofertório Raffa, op. cit., 324.
[41] Scivias, livro II, visão 6: Hildegard von Bingen, Wisse die Wege. Scivias, aos cuidados de Maura Böckeler, Salzburg 61975, 192.
Manfred Hauke - "A Santa Missa, Sacrifício da Nova Aliança"
Fonte:MONTFORT Associação Cultural
Mas de onde partir para uma aproximação sistemática do mistério eucarístico? Com esta pergunta chegamos à discussão teológica sobre a “estrutura fundamental” da celebração eucarística. O debate parte de uma reflexão de Romano Guardini de 1939. Conforme esse teólogo, protagonista da renovação litúrgica, “toda ação litúrgica genuína” contem uma “Grundgestalt” “que a sustenta e lhe dá a vida específica”.
A palavra alemã Grundgestalt podemos traduzi-la como “figura fundamental“ (pode-se também relacionar o termo com “estrutura“ ou “forma“ fundamental). Especialmente os sacramentos “não são simples formas de aplicação dos dons divinos, mas eventos vitais, costruídos conforme a essência do homem cuja alma se exprime no corpo e cujo corpo vem formado pela alma. ‘Forma’ (Gestalt), porém, é o modo pelo qual o ser humano é vivo… Por isso é uma das exigências mais importantes da educação litúrgica fazer ver a forma interior das ações santas de um modo quanto mais claro e quanto mais forte forem possíveis. Mas em que consiste a estrutura fundamental da Missa? É a do banquete (Mahl)”. No mesmo momento Guardini afirma: “A sua forma é o banquete; atrás do qual, porém, não como forma mas como realidade, como fonte, como pressuposto, se acha o sacrifício”[9].
Falar de uma “forma fundamental” da Eucaristia foi um novo passo. Joseph Ratzinger observa: “Tratava-se de reconhecer, por trás da casualidade de cada um dos ritos em si mesmos, a forma geral e portadora que enquanto tal é contemporaneamente a chave para atingir a substância do evento eucarístico. Com o conceito de forma, entrara no diálogo teológico uma categoria desconhecida cuja dinâmica reformadora era inegável. Antes, pode-se dizer que a liturgia em sentido moderno nasceu com a descoperta desta categoria”[10].
É preciso compreender o acento dado à ceia respectivamente ao banquete da situação do tempo. No fim do séc. XIX, os fiéis recebiam a Eucaristia somente pouquíssimas vezes por ano. O Papa Pio X, no início do último século, encorajava os fiéis a se aproximarem mais vezes da Santa Comunhão. Já as criancinhas deviam se unir ao Senhor eucarístico. Para favorecer a participação ativa das pessoas a toda a liturgia eucarística, o movimento litúrgico punha então no primeiro plano da atenção o fato de que nos nutrimos com o corpo e o sangue de Cristo, acolhido em comunidade[11].
A proposta de Guardini vai ainda mais longe, apresentando o banquete como forma fundamental de todo o mistério eucarístico. Essa impostação tinha como conseqüência mudanças radicais nos edifícios de culto. Buscava-se estruturar as igrejas de modo a manifestar antes de tudo o aspeto de banquete, especialmente ao colocar a altar no meio para a celebração versus populum. O problema não está na devida redescoberta da categoria de banquete, mas na diferença entre “interno” e “externo”. Numa correta relação entre interno e externo, a realidade interior e a forma exterior deveriam corresponder-se mutuamente.
Se vamos, por exemplo, a um banquete nupcial, não saímos com roupas adaptadas para fazer uma escalada na montanha, mas sim com uma roupa festiva. E, vice-versa, nenhum esportista teria a idéia de subir ao topo da montanha com roupas próprias a um banquete nupcial. Essa correspondência entre “interno” e “externo” deveria valer também para a celebração eucarística. O Cardeal Ratzinger sublinha justamente que a distinção entre sacrifício e banquete, entre forma e conteúdo, entre dogmática e ciência litúrgica foi o problema central da reforma litúrgica, um peso negativo que explica a maior parte dos problema particulares no âmbito da liturgia[12].
3. A preeminência do “banquete”: o exemplo negativo do Catecismo Holandês
Se a forma exterior é totalmente determinada pela dimensão do banquete, arrisca-se colocar em primeira linha, até de modo exclusivo este aspeto. O Catecismo Holandês por exemplo, publicado em 1966, apresentou a Eucaristia como agradecimento e como banquete feito em comum.
A categoria do sacrifício é mencionada, mas explicada do seguinte modo: “Banquete e sacrifício não são duas coisas diversas. O sacrifício é o banquete, isto é, nós o recebemos enquanto o tomamos e comemos”[13]. Nesta explicação, o sacrifício desaparece no banquete. Identifica-se o sacrifício com a comunhão. Está por trás disto uma falta na cristologia: o Catecismo Holandês não professava claramente o sacrifício expiatório de Jesus, oferecido na cruz para a nossa salvação. Exatamente este ponto é salientado pela comissão cardinalícia que se ocupou criticamente deste catecismo. Por isso os cardeais pediram uma modificação:
“É preciso dizer claramente que Jesus se ofereceu ao Pai em reparação pelos nossos delitos como santo sacrifício no qual Deus acha seu beneplácito. Porque Cristo nos ‘amou e deu a si mesmo por nós, oferecendo-se a Deus em sacrifício de suave odor’ (Ef 5,2).
O sacrifício da cruz, porém, é perpetuado na Igreja de Deus incessantemente no sacrifício eucarístico (veja-se Vaticano II, Cost. Sacrosanctum Concilium, n. 47). Na celebração da Eucaristia, Jesus, o sacerdote principal, se oferece a Deus por meio da oferta consacratória a qual é realizada pelos sacerdotes e à qual se unem os fiéis. Essa celebração é sacrifício e banquete. A oferta do sacrifício é completada pela comunhão na qual o sacrifício oferecido a Deus é recebido como alimento para unir os fiéis com ele e entre si no amor (cf. 1 Cor 10,17)”[14].
O exemplo do Catecismo holandês mostra até que ponto extremo podia chegar a tese que vê a estrutura fundamental da Santa Missa no banquete.
4. A correta relação entre sacrifício e banquete
Mas como pôr em relação os elementos do sacrifício e do banquete? E como enquadrar os outros aspetos fundamentais da Eucaristia?
É elementar sublinhar o conjunto entre sacrifício e banquete na celebração eucarística. Este ponto básico se mostra, por exemplo, em um livro de Joseph Goldbrunner, a seu tempo muito difundido para a preparação catequética das crianças para a Primeira Comunhão, um texto que por vários aspetos é precioso ainda hoje: para explicar o que é a Santa Missa, o catequista desenha na lousa três quadros, dois no alto e um em baixo. Os dois quadros no alto representam a Última Ceia e o sacrifício da cruz no Calvário. Destes desenhos partem flechas que apontam para o terceiro quadro em baixo: ali se vê o altar, semelhante à da Última Ceia, junto a uma cruz que manifesta o evento do Calvário. Por fim o catequista escreve sob o terceiro quadro: “A Santa Missa é sacrifício e banquete”[15].
É interessante que Goldbrunner não diz: “A Santa Missa é banquete e sacrifício”, mas “sacrifício e banquete”. Aí se acha uma preeminência do sacrifício, se bem que este ponto evidentemente não seja exposto às crianças da Primeira Comunhão.
Uma precedência do sacrifício é estabelecida com clareza na Istrução Redemptionis Sacramentum (2004): “A ininterrupta doutrina da Igreja sobre a natureza não só de convívio, mas também e sobretudo sacrifical da Eucaristia é justamente considerada entre os principais critérios para uma plena participação de todos os fiéis num tão grande sacramento”[16]. O documento refere-se entre outras cosas à encíclica Ecclesia de Eucaristia de 2002. O primeiro ponto posto em evidência no capítulo sobre o “Mistério da fé” é exatamente o sacrifício:
“O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue’ (1 Cor 11,23), instituiu o Sacrifício eucarístico de seu corpo e sangue. As palavras do apóstolo Paulo nos reportam à circunstância dramática na qual nasceu a Eucaristia. Ela leva indelevelmente inscrito o evento da paixão e da morte do Senhor. Não é apenas a evocação dele, mas sua representação sacramental. É o sacrifício da Cruz que se perpetua nos séculos. Bem exprimem essa verdade as palavras com as quais o povo, no rito latino, responde à proclamação do ‘mistério da fé’ feita pelo sacerdote: “Anunciamos a tua morte, Senhor!”[17]
O papa acena depois às palavras da Última Ceia que manifestam a doação do corpo e do sangue de Cristo “por” nós[18]. O “per” (hyper em grego) indica duas coisas: a oferta de Cristo em nosso favor e em nosso lugar. A expiação vicária de Cristo por nós na cruz é antecipada já na Última Ceia. A Santa Missa, como já a Última Ceia, não é um ato independente da oferta no Calvário, mas toma a sua força do único sacrifício de Cristo, oferecido uma só vez e uma vez por todas, como reitera a Carta aos Hebreus (Eb 7,27; 9,12.26.28; 10,10). João Paulo II, com o Catecismo da Igreja Católica, sublinha pois: “o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício”[19]. A Eucaristia “aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida uma vez por todas por Cristo para a humanidade de todos os tempos”. “A Missa torna presente o sacrifício de Cristo, não se acrescenta a ele e não o multiplica”[20].
O papa oferece depois uma reflexão de grande importância também para a questão da “estrutura fundamental”:
“Por força de sua íntima relação com o sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não só em sentido genérico, como se se tratasse do simples oferecer-se de Cristo como alimento espiritual aos fiéis [como pretendia o Catecismo holandês, podemos acrescentar].
De fato, o dom de seu amor e da sua obediência até o extremo da vida (cf. Jo. 10,17-18) é em primeiro lugar um dom ao seu Pai. Certamente, é dom em nosso favor, antes de toda a humanidade (…), mas dom antes de tudo ao Pai: “sacrifício que o Pai aceitou, devolvendo essa total doação de seu Filho, que se fez ‘obediente até a morte’ (Fil 2,8), com a sua paterna doação, isto é, com o dom da nova vida imortal na resurreição”[21].
O sacrifício é pois uma doação de si feita a Deus, antes de tudo por Cristo ao Pai. A glorificação de Deus é o primeiro objetivo intrínseco da Eucaristia vista como sacrifício visível. Este sacrifício consiste em louvor, agradecimento, súplica e expiação. O sacrifício do Calvário, tornado presente na Santa Missa, se dirige ao Pai como mediação ascendente que sobe (por assim dizer) de baixo para o alto. O efeito desse movimento ascendente é a mediação descendente que faz descer (por assim dizer) o dom salvador da graça, oferecida aos homens a fim de que a recebam com a fé formada pela caridade. Há pois uma mediação ascendente, o sacrifício, da qual resulta uma mediação descendente, a comunicação da vida de Deus nos sacramentos, entre eles no banquete eucarístico. Para orientação dirigida a Deus, o sacrifício tem uma precedência lógica diante de seu efeito sacramental: antes se glorifica a Deus, por meio de Cristo, depois se recebe o efeito da graça. Em outras palavras: a dimensão anabática, a adoração de Deus que sobe como o incenso, tem uma precedência lógica frente à dimensão catabática, o efeito salvífico voltado aos homens.
Desta reflexão resulta a prioridade do sacrifício na celebração eucarística, uma prioridade que deve exprimir-se também no aspeto exterior. A comunhão com Deus e entre nós é um resultado do sacrifício de Cristo. Certo: também a oferta do Salvator é tornada possível por um processo catabático, por uma mediação descendente, isto é, pela Encarnação como “descida” do Filho de Deus que assume uma natureza humana. O sacrifício, no qual Jesus Cristo se oferece a Deus enquanto homem, traz consigo uma eficácia infinita por causa da união hipostática da humanidade de Cristo com a pessoa do Verbo: pois se o Cristo crucificado é o Filho de Deus encarnado, o seu oferecimento no Calvário é a máxima glorificação possível de Deus. Primeiro vem a glória de Deus, depois a salvação dos homens. Assim também o banquete eucarístico se manifesta como conseqüência lógica do sacrifício de Cristo: recebemos o corpo e o sangue de Cristo, oferecidos ao Pai no momento da consagração que torna presente o sacrifício do Gólgota. Esta estrutura é óbvia também no rito da Santa Missa: primeiro vem a oração eucarística e só depois a comunhão.
Tenhamos em conta, depois, ainda um outro fato: já no Antigo Testamento encontramos sacrifícios aos quais se associa um banquete, por exemplo na conclusão da aliança no monte Sinai (Êxodo 24,4-11). Aí se fala de um “sacrifício de comunhão” (Es 24,5). O sacrifício deve, pois, ser visto como evento que inclui, para a sua conclusão, um banquete. Similarmente, em vez de falar da “Ceia do Senhor”, seria preciso salientar o vocabulário sacrifical, por exemplo os termos “sacrifício da Missa”[22] e “sacrifício eucarístico”[23].
O primeiro grande opositor da tese de Guardini foi o liturgista austríaco Josef Andreas Jungmann, conhecido entre outras coisas por sua obra fundamental “Missarum solemnia”, uma explicação histórica da Santa Missa. Jungmann é, pois, diferentemente de Guardini (que é mais um filósofo e fenomenólogo), um profundo conhecedor da história da Eucaristia. Já é significativo, segundo ele, o fato de que a Santa Missa jamais era chamada simplesmente de “ceia” ou “banquete”. Os nomes dados nos primeiros séculos realçam o agradecimento (“eucharistia”) e, com vários termos, o sacrifício (como as palavras gregas “tusia” e “prosfora”)[24],não se presta como termo técnico hoje, porque se presupõe ainda a integração do ágape na mesma celebração. O ágape, um banquete para saciar-se materialmente e para favorecer a comunhão fraterna, separou-se, depois, da celebração litúrgica que se chamou “eucaristia”. O aspeto mais típico e fundamental é visto na oração de agradecimento dirigido a Deus, uma oração que leva consigo a presença corporal do Cristo crucificado e ressurrecto, uma oração e uma ação explicada em termos sacrificais, como “tusia” e “prosfora”.. O apelativo “ceia do Senhor”, utilizado por São Paulo (1 Cor 11,20).
As observações de Jungmann foram aprofundadas depois pelo Cardeal Ratzinger em suas contribuições magistrais sobre a “Festa da fé e sobre o espírito da liturgia”, um título inspirado na obra já citada de Guardini. “A última ceia é certamente o fundamento de cada liturgia cristã, mas ela mesma não é ainda uma liturgia cristã.
O ato de instituição do cristianismo ocorreu no judaísmo, mas ele não havia encontrado ainda uma forma própria enquanto liturgia cristã. A última ceia fundamenta o conteúdo dogmático da Eucaristia cristã, mas não a sua forma litúrgica”[25]. De fato, a Igreja não repetiu a última ceia, mas sim a ação eucarística. Enquanto a festa da Páscoa ocorre uma vez por ano, já a Igreja primitiva celebrava a Eucaristia todo domingo para recordar a resurreição do Senhor. A Eucaristia traz consigo a presença de Cristo crucificado e ressurecto.
5. As dimensões de sacrifício e de comunhão na completa apresentação da Eucaristia
A discussão contemporânea pôde integrar a contribuição de Jungmann, sobretudo nos trabalhos de Walter Kasper e de Joseph Ratzinger. Antes de nos determos sobre essas contribuições preciosas, quereria mencionar brevemente o êxito da pesquisa ecumênica sobre a Eucaristia. Aqui é importante o trabalho feito por Max Thurian († 1996), monge de Taizé proveniente do protestantesimo; no fim de sua vida ele recebeu a ordenação sacerdotal na Igreja Católica. O documento de Lima de 1982, do Conselho ecumênico das igrejas, inspira-se em suas pesquisas e põe em relevo cinco aspetos importantes: 1) a Eucaristia como agradecimento ao Pai, 2) como anamnese ou memorial de Cristo, 3) como invocação (epíclese) do Espírito Santo, 4) como comunhão dos fiéis e 5) como banquete do reino de Deus. Esta estrutura quer reunir todos os aspetos essenciais da Eucaristia[26].
Uma recente abordagem católica, de Lothar Lies (dogmático em Innsbruck falecido a poucos meses), integra essas dimensões, ainda que estendendo-as com algum aspecto mais preciso: a Eucaristia como anamnese da salvação, como epíclese, como celebração da presença da salvação, como prosfora (palavra grega que significa “oferta” ou “sacrifício“) e como koinonia (comunhão)[27].
Poderemos precisar ainda esta estrutura. A base é sem dúvida a anamnese que não é apenas uma recordação, mas mais ainda uma ação comemorativa que torna presente a eficácia do evento mencionado. Por isso, já o Concílio de Trento não se contenta em falar de uma memória, mas acrescenta duas outras categorias: a da applicatio (a Santa Missa aplica os frutos do único sacrifício para o bem da Igreja) e a da rappresentatio (a celebração eucarística é uma representação sacramental do sacrifício no Gólgota). Na proposta de Lothar Lies, a importäncia deste fato se manifesta na insistëncia sobre a categoria da prosfora, uma precisão não tão evidente para o documento de Lima. A Santa Missa não é só uma recordação do Gólgota, mas a presença de Cristo crucificado que se oferece ao Pai. A Missa e o evento do Gólgota são o mesmo sacrifício, se bem que seja diversa a modalidade da oferta: cruenta no Calvário, incruenta sob as espécies de pão e de vinho nas nossas igrejas. Por isso é legítimo o que fazia anos atrás um pároco alemão: antes de sair da sacristia para a Santa Missa, ele perguntava aos coroinhas: “Onde vamos?” E a resposta era sempre: “Vamos ao Gólgota”.
Portanto, a memória do evento salvífico contém o sacrifício. O sacrifício, por sua vez, não deve ser reduzido ao momento do agradecimento: há o elemento da adoração (de per si distinta do agradecer), mas também a súplica e a expiação. Os protestantes facilmente podem conceder que a “Ceia do Senhor” seja um sacrifício de louvor e de agradecimento (de fato, toda oração nossa dispõe destas qualidades), mas isso não vale outro tanto para a dimensão da expiação, reservada por eles somente ao evento da cruz e negada à Santa Missa. A anamnese contém em vez o sacrifício de Cristo com todas as suas dimensões e não só o elemento importante do agradecimento. Em vez de falar de “Eucaristia”, que significa agradecimento, parece preferível usar a expressão “Santa Missa” que inclui o louvor e o agradecimento, mas também a súplica e a expiação.
Anamnese e eucaristia trazem consigo por sua vez à epiclese, isto é à invocação de Deus, especialmente do Espírito Santo que desce sobre os dons eucarísticos e sobre a assembléia. O envio do Espírito Santo depois torna possível a comunhão entre os membros da Igreja, sobretudo quando se aproxiamam do corpo eucaristico de Cristo.
Diante destas visões panorâmicas permanece ainda a questão da “estrutura fundamental”: onde pôr o acento, como descrever a relação entre os vários elementos? Entre as tentativas publicadas nas últimas décadas, sobressaem as de Joseph Ratzinger e de Walter Kasper que nesse ponto são antes próximas[28]. Ratzinger trata o tema sobretudo em seu livro “A festa da fé” e retoma alguns elementos no “Introdução ao Espírito da Liturgia”[29].
Existe também em italiano um artigo significativo de Kasper: “Unicidade e multiplicidade dos aspetos da eucaristia: Em vista do recente debate sobre figura e sentido fundamentais da eucaristia”[30]. Ambos autores reafirmam a orientação teocêntrica da Eucaristia como memorial eficaz do sacrifício de Cristo e são críticos diante da teoria que vê a “estrutura fundamental” no banquete.
Sacrifício e banquete são dimensões que não devem se contrapor entre si, mas que devem ser integradas, ainda que dando uma certa precedência ao sacrifício. O Catecismo da Igreja Católica formula brevemente: “A Missa é, a um só tempo e inseparavelmente o memorial do sacrifício no qual si perpetua o sacrifício da Cruz e o sagrado banquete da comunhão do corpo e do sangue do Senhor”[31].
Seja a dimensão de sacrifício, seja a de banquete devem ser aplicadas de algum modo à toda celebração eucarística, mas o aspeto de banquete se refere principalmente à recepção da comunhão, enquanto o sacrifício se exprime de modo mais forte na parte mais central da celebração, na oração eucarística que culmina nas palavras da Última Ceia.
6. A preeminência do sacrifício na oração “versus orientem”
A preeminência do sacrifício pela descrição da Santa Missa tem tembém suas conseqüências para a orientação da oração. Ao sacrifício corresponde o voltar-se para Deus por parte do celebrante e de toda a assembléia litúrgica[32]. Quando o sacerdote fala com Deus, não faz sentido pedir que ele se volte em direção à assembléia. É melhor, se o celebrante se volta junto com toda a assembléia para a cruz e para o altar, possivelmente na direção do oriente. O oriente, o sol nascente, está no lugar de Cristo ressurrecto cujo retorno esperamos no fim dos tempos. Um voltar-se ao povo, pelo contrário, é conveniente para a proclamação da Palavra de Deus e pela comunicação da graça nas saudações, na bênção e na distribuição da Comunhão. Esta orientação é possível também no rito de Paulo VI, mas as disposições do rito antigo parecem mais propícias a este fim, colocando no centro a cruz, o altar e o próprio Senhor no Tabernáculo.
7. A centralidade do sacrifício na forma extraordinária do rito romano
A realidade do sacrifício está presente com particular clareza na forma mais antiga do rito romano. Esta clareza não é tanto uma conseqüência do Concílio de Trento, que, com um decreto adequado, defendeu a Santa Missa como sacrifício contra os reformadores[33], mas estava já presente em tempos antiqüíssimos. Já antes da trasmissão dos primeiros formulários da celebração eucarística, as fontes da Igreja antiga falavam disso com clareza. A carta do Papa Clemente aos Coríntios, por exemplo, escrita no ano 96, apresenta como função mais típica dos presbíteros (e dos Bispos) o oferecimento dos sacrifícios[34]. A mesma observação é reportada pela Didaché que fala do “sacrifício” (tusia) no qual se cumpre a profecia de Malaquias: “Em todo lugar se me oferece um sacrifício puro” (Ml 1,11)[35]. Quando os Padres antigos falam da Santa Missa, costumeiramente não usam a expressão “Ceia do Senhor”, mas termos que põem em destaque o sacrifício ou o culto prestado a Deus.
A idéia do sacrifício está presente, de algum modo, em todas as orações eucarísticas admitidas pela autoridade eclesiástica, mas encontramos um acento particular no Cânon Romano e na terceira oração eucarística[36]. Os primeiros testemunhos do Cânon Romano (também chamado “primeira oração eucarística” no Missal de Paulo VI) remontam ao quarto século, e ao tempo de Gregório Magno (início do séc. VII) o texto encontrou na sua substância aquela forma na qual ele existe ainda hoje[37]. Por isso, podemos falar também do “rito gregoriano”[38].
O sacerdote que celebra a Santa Missa no rito antigo recebe uma consciência mais intensa da centralidade do sacrifício. Para ilustrar esta afirmação, quereria só recordar as orações recitadas em voz baixa durante o ofertório sobre o pão e sobre o vinho. Conforme a avaliação di Robert Spaemann, trata-se aqui da mais radical do Novus Ordo na liturgia romana precedente[39]. No rito de Paulo VI, as duas orações se inspiram em fórmulas hebráicas de agradecimento pelas refeições, acrescentando muito discretamente a idéia de oferta”: “apresentamo-lo a ti, a fim de que se torne para nós alimento de vida eterna” respectivamente “bebida de salvação”.
No texto latino, Paulo VI insistiu em colocar o verbo offerimus (“oferecemos”) contra a maior parte dos liturgistas, que consideravam que se deveria remover a idéia do sacrifício do ofertório[40]. É verdade que o sacrifício verdadeiro e próprio se desenvolve durante a consagração, mas nos ritos eucarísticos a idéia do sacrifício vem já antecipada antes, no rito de são João Crisóstomo até mesmo desde a proscomídia, quando se preparam as hóstias no início da Divina Liturgia.
Na forma extraordinária do rito romano, a oração para oferecer o pão inclui uma descrição muito precisa de toda a ação litúrgica:
“Aceita, Pai santo, Deus onipotente e eterno, esta vítima imaculada, que eu, teu indigno servo, a ti ofereço, meu Deus, vivo e verdadeiro, pelos meus inumeráveis pecados, as minhas ofensas e as minhas faltas, e por todos aqueles que me estão aqui em torno, mas também por todos os fiéis cristãos vivos e defuntos: a fim de que a mim, e a eles, esta oferta produza a vida eterna”.
É evidente aqui que a Santa Missa é um sacrifício oferecido pelos vivos e pelos defuntos, em expiação dos pecados e para alcançar a vida eterna. É claro também que o oferecedor, operando em nome de Cristo cabeça da Igreja, é o sacerdote, embora os fiéis sejam convidados a se associarem ao ato sacrifical.
A oração para oferecer o cálice traz uma bela formulação poética, diferente da sobriedade talvez por demais grande da oração mais recente:
“Nós Te oferecemos, Senhor, o cálice da salvação, implorando a tua clemência: a fim de que suba como perfume agradável na presença de tua divina majestade, para a nossa salação e de todo o mundo”.
A imagem que o cálice “suba” com perfume agradável a Deus, corresponde a várias descrições do Antigo Testamento. Assim se reforça o primeiro objetivo do sacrifício, o que visa glorificar a Deus. Em seguida se acentua ademais que a ação sagrada não aproveita unicamente à assembléia visível, mas que se extende além “para a salvação de todo o mundo”.
Quando o sacerdote recita as orações de oferecimento sobre o pão e sobre o cálice, ele volta os olhos à cruz (no início para a oferta do pão e durante toda a oração para a oferta do cálice). Depois das orações, ele traça o sinal da cruz seja com a hóstia seja com o cálice. Aqui se vê muito bem a ligação intrínseca com o sacrifício da cruz representado durante a Santa Missa.
8. Uma visão de Santa Hildegarda
A correta relação entre sacrifício e banquete, entre mediação ascendente e descendente, mostra-se muito bem numa visão de Santa Hildegarda sobre a Eucaristia. Desejaria terminar minha exposição com este aceno. Santa Hildegarda viveu no século XII e foi também chamada de prophetissa teutonica, isto é, a “profetisa alemã”. A santa, dotada de carismas místicos, viu como um sacerdote, vestido de vestes sagradas, subiu ao altar para celebrar os divinos mistérios. “De repente, um resplendor de luz desceu do céu. Chegaram anjos e a luz circundava o altar. Esse resplendor permaneceu até que o sacerdote, depois de realizar o santo sacrifício, se afastou.
Quando foi lido o Evangelho da paz e foi apresentada a oferta sobre o altar para a consagração, o sacerdote cantou o louvor de Deus onipotente: ‘Sanctus, sanctus, sanctus, Dominus, Deus Sabaoth!’, iniciando o mistério indizível. Nesse momento se abriu o céu. Raios de fogo com uma limpidez indescritível cairam sobre as ofertas e as transformaram totalmente com a sua glória, como o sol penetra o objeto irradiado com a sua luz. O esplendor fulminante levou a oferta às alturas invisíveis até o íntimo do céu e depois a fez descer de novo sobre o altar …”[41].
Na visão, a luz celeste desce para trasformar os dons de pão e vinho. Depois as ofertas são levadas ao alto, sinal do sacrifício que se dirige a Deus, para descer depois de novo sobre o altar e servir para a santa comunhão. Procuremos associarmo-nos ao sacrifício da nova aliança, levando assim a luz celeste - a verdade de Deus e o mistério da graça - neste mundo que tem tanta necessidade dele.
[1] Novus Ordo Missae, Introductio generalis, primeira versão, § 7, citado in A. Ottaviani – A. Bacci, Kurze kritische Untersuchung des neuen “Ordo Missae”, in Aa. Vv., Liturgie und Glaube, Düsseldorf-Gerresheim 1971, 68-92 (73); E. J. Lengeling, Die neue Ordnung der Eucharistiefeier. Allgemeine Einführung in das Römische Messbuch … Einleitung und Kommentar, Münster 41972, 166: “Cena dominica sive Missa est sacra synaxis seu congregatio populi Dei in unum convenientis, sacerdote praeside, ad memoriale Domini celebrandum. Quare de sanctae Ecclesiae locali congregatione eminenter valet promissio Christi: ‚Ubi sunt duo vel tres congregati in nomine meo, ibi sum in medio eorum’”.
[2] Cf. A. Ottaviani – A. Bacci, op. cit.
[3] Cf. E. J. Lengeling, Die neue Ordnung der Eucharistiefeier. Allgemeine Einführung in das Römische Messbuch … Einleitung und Kommentar, Münster 41972, 166s. Eis a versão amplificada do § 7: “In Missa seu Cena dominica populus Dei in unum convocatur, sacerdote preside personamque Christi gerente, ad memoriale Domini seu sacrificium eucharisticum celebrandum. Quare de huiusmodi sanctae Ecclesiae coadunatione locali eminenter valet promissio Christi: ‚Ubi sunt duo vel tres congregati in nomine meo, ibi sum in medio eorum’ (Mt 18,20). In Missae enim celebratione, in qua sacrificium Crucis perpetuatur, Christus realiter praesens adest in ipso coetu in suo nomine congregato, in persona ministri, in verbo suo, et quidam substantialiter et continenter sub speciebus eucharisticis”. Citado in E. J. Lengeling, p. 165.
[4] As exposições seguintes já se encontram de modo semelhante em boa parte em um ensaio precedente: Hauke, "La Santa Messa – che cosa è? La “struttura fondamentale” della celebrazione eucaristica", in G. Borgonovo – K. charamsa (edd.), Eucaristica e libertà. Percorsi di formazione sacerdotale, vol. II, Libreria Editrice Vaticana: Città del Vaticano 2006, 37-52. Veja também M. Hauke, L’eucaristia: fonte e culmine della vita cristiana. L’enciclica Ecclesia de Eucaristia, in G. Borgonovo – A. Cattaneo (edd.), Giovanni Paolo teologo. Nel segno delle encicliche. Mondadori: Milano 2003, 253-270.
[5] T. Schnitzler, Was die Messe bedeutet. Hilfen zur Mitfeier, Freiburg i. Br. 1976, 16-43.
[6] Op. cit., 28-31.
[7] Para quem conhece alemão: o jogo tem um sentido (Sinn), mas sem nenhum fim (Zweck).
[8] R. Guardini, Vom Geist der Liturgie, Freiburg i. Br. 1934, 52-65.
[9] R. Guardini, Besinnung vor der Feier der heiligen Messe, Mainz 21939, 70. 72s. 76s.
[10] J. Ratzinger, La festa della fede, Milano 1984, 34 (or. td. 1981).
[11] Vejam-se as observações de A. Ziegenaus, Die Heilsgegenwart in der Kirche. Sakramentenlehre (Katholische Dogmatik VII), Aachen 2003, 344.
[12] Cf. J. Ratzinger, Festa della fede, 40.
[13] Glaubensverkündigung für Erwachsene. Deutsche Ausgabe des Holländischen Katechismus, Freiburg i. Br. 1969, 383.
[14] Op. cit., 55 (= AAS 60, 1968, 688).
[15] Cf. J. Goldbrunner, Sakramentenunterricht mit dem Werkheft. Beicht – Erstkommunion – Firmung, München 61963, 90-103.
[16] Redemptionis Sacramentum, 38.
[17] Ecclesia de Eucharistia, 11.
[18] Cf. Ecclesia de Eucharistia, 12.
[19] Ecclesia de Eucharistia, 12; CCC, 1367.
[20] Ecclesia de Eucharistia, 12. Para o ensinamento magisterial e a discussão teológica sobre o sacrifício da Santa Missa, veja-se entre outros A. Piolanti, Il Mistero Eucaristico, Libreria Editrice Vaticana: Città del Vaticano 31983, 375-556; A. Garcia Ibanez, L’Eucaristia, dono e mistero. Trattato storico-dogmatico sul mistero eucaristico, Edizioni Università della Santa Croce: Roma 2006,536-551.
[21] Ecclesia de Eucharistia, 13, com uma citação da Encíclioca Redemptor hominis, 20.
[22] Veja-se p.ex. Concílio de Trento, Doutrina e canonês sobre o sacrifício da Missa: DH 1738-59.
[23] Veja-se p.ex. CCC, 1356-72. Somente em seguida se trata do “banquete pascal”: CCC, 1382-1401.
[24] Cf. J.A. Jungmann, Missarum solemnia. Eine genetische Erklärung der römischen Messe I, Wien 1948, 217-224.
[25] J. Ratzinger, La festa della fede, 40.
[26] Cf. Documento de Lima: Batismo, eucarista e ministério (1982): Enchiridion oecumenicum I, Bologna 1986, nn. 3032-3181, qui 3071-3110.
[27] L. Lies, Eucharistie in ökumenischer Verantwortung, Graz ecc. 1996.
[28] Para uma resenha bibliográfica, veja-se H.B. Meyer, Eucharistie. Geschichte, Theologie, Pastoral (Gottesdienst der Kirche 4), Regensburg 1989, 443s.
[29] J. Ratzinger, Introduzione allo spirito della liturgia, Cinisello Balsamo 2001, parte II, cap. 3 (or. td. 2000).
[30] W. Kasper, Teologia e Chiesa, Brescia 1989, 313-334 (or. td. 1987).
[31] CCC, 1382; vedi anche Ecclesia de Eucharistia, 12.
[32] Sobre este aspecto, veja-se U.M. Lang, Rivolti al Signore: l’orientamento nella preghiera liturgica. Prefazione di Joseph Ratzinger, Cantagalli: Siena 2006.
[33] Cf. Denzinger-Hünermann, 1738-59.
[34] Cf. 1 Clem 44,4 (prosenenkontas ta dora) (ed. J.A. Fischer, 80).
[35] Didache 14,1-3 (Sources chretiennes 248, 192).
[36] Cf. V. Raffa, Liturgia eucarística. Mistagogia della Messa: dalla storia e dalla teologia alla pastorale pratica, Roma 1998, 571-575. 585-590. 614. 617. 620s (sobre os conteúdos das orações eucarísticas pósconcilares, veja-se op. cit., 599-694).
[37] Cf. Garcia Ibanez, op. cit., 145s; Raffa, op. cit., 547-558.
[38] A descrição mais antiga do antigo rito romano remonta ao fim do século XII, veja, por ex. A descrição in Raffa, op. cit., 79-96 (Ordo I: ed. M. Andrieu, Ordines Romani du haut moyen age II, Louvain 1948, 65-108
[39] Cf. R. Spaemann, Bemerkungen eines Laien, der die alte Messe liebt, in A. Gerhards (ed.), Ein Ritus – zwei Formen. Die Richtlinie Papst Benedikts XVI. zur Liturgie, Freiburg i.Br. 2008, 75-102 (89).
[40] Cf. A. Bugnini, La riforma liturgica (1948-1975), Roma 1983, 373s. Uma boa síntese, mesmo “antiga”, sobre a teologia do ofertório se acha in J. Brinktrine, Die heilige Messe, Paderborn 31950, 130-167. Um breve resumo sobre a discussão pós-conciliar vem fornecido entre outros (com posterior bibliografia) in J. Hermans, Die Feier der Eucaristie. Erklärung und spirituelle Erschließung, Regensburg 1984 209-228; veja-se também a bibliografia sobre o ofertório Raffa, op. cit., 324.
[41] Scivias, livro II, visão 6: Hildegard von Bingen, Wisse die Wege. Scivias, aos cuidados de Maura Böckeler, Salzburg 61975, 192.
Manfred Hauke - "A Santa Missa, Sacrifício da Nova Aliança"
Fonte:MONTFORT Associação Cultural
terça-feira, 23 de abril de 2013
Hoje ouviremos do próprio Mons. Fulton Sheen de uma maneira muito didática o que é a Missa.
Mais um tesouro deste grande missionário e santo do século XX.
Hoje ouviremos do próprio Mons. Fulton Sheen de uma maneira muito didática o que é a Missa.
Nos tempos do espetáculo, dos shows e da dessacralização, este servo de Deus nos leva a entender o seu real significado.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
CARTA APOSTÓLICA EN FORMA DE MOTU PROPRIO DE BENEDICTO XVI. CARTA DO SANTO PADRE BENTO XVI AOS BISPOS QUE ACOMPANHA O "MOTU PROPRIO" SUMMORUM PONTIFICUM SOBRE O USO DA LITURGIA ROMANA ANTERIOR À REFORMA REALIZADA EM 1970
MOTU PROPRIO SUMMORUM PONTIFICUM
CARTA APOSTÓLICA EN FORMA DE MOTU PROPRIO DE BENEDICTO XVI
"Los sumos pontífices hasta nuestros días se preocuparon constantemente porque la Iglesia de Cristo ofreciese a la Divina Majestad un culto digno de "alabanza y gloria de Su nombre" y "del bien de toda su Santa Iglesia".
"Desde tiempo inmemorable, como también para el futuro, es necesario mantener el principio según el cual, "cada Iglesia particular debe concordar con la Iglesia universal, no solo en cuanto a la doctrina de la fe y a los signos sacramentales, sino también respecto a los usos universalmente aceptados de la ininterrumpida tradición apostólica, que deben observarse no solo para evitar errores, sino también para transmitir la integridad de la fe, para que la ley de la oración de la Iglesia corresponda a su ley de fe". (1)
Dado en San Pedro, el 7 de Julio 2007."Entre los pontífices que tuvieron esa preocupación resalta el nombre de San Gregorio Magno, que hizo todo lo posible para que a los nuevos pueblos de Europa se transmitiera tanto la fe católica como los tesoros del culto y de la cultura acumulados por los romanos en los siglos precedentes. Ordenó que fuera definida y conservada la forma de la sagrada Liturgia, relativa tanto al Sacrificio de la Misa como al Oficio Divino, en el modo en que se celebraba en la Urbe. Promovió con la máxima atención la difusión de los monjes y monjas que, actuando según la regla de San Benito, siempre junto al anuncio del Evangelio ejemplificaron con su vida la saludable máxima de la Regla: "Nada se anticipe a la obra de Dios" (cap.43). De esa forma la Sagrada Liturgia, celebrada según el uso romano, enriqueció no solamente la fe y la piedad, sino también la cultura de muchas poblaciones. Consta efectivamente que la liturgia latina de la Iglesia en sus varias formas, en todos los siglos de la era cristiana, ha impulsado en la vida espiritual a numerosos santos y ha reforzado a tantos pueblos en la virtud de la religión y ha fecundado su piedad".
Dado en San Pedro, el 7 de Julio 2007."Muchos otros pontífices romanos, en el transcurso de los siglos, mostraron particular solicitud porque la sacra Liturgia manifestase de la forma más eficaz esta tarea: entre ellos destaca San Pío V, que sostenido de gran celo pastoral, tras la exhortación de Concilio de Trento, renovó todo el culto de la Iglesia, revisó la edición de los libros litúrgicos enmendados y "renovados según la norma de los Padres" y los dio en uso a la Iglesia Latina" .
"Entre los libros litúrgicos del Rito romano resalta el Misal Romano, que se desarrolló en la ciudad de Roma, y que, poco a poco, con el transcurso de los siglos, tomó formas que tienen gran semejanza con las vigentes en tiempos más recientes".
"Fue éste el objetivo que persiguieron los Pontífices Romanos en el curso de los siguientes siglos, asegurando la actualización o definiendo los ritos y libros litúrgicos, y después, al inicio de este siglo, emprendiendo una reforma general"(2). Así actuaron nuestros predecesores Clemente VIII, Urbano VIII, san Pío X (3), Benedicto XV, Pío XII y el beato Juan XXIII.
"En tiempos recientes, el Concilio Vaticano II expresó el deseo de que la debida y respetuosa reverencia respecto al culto divino, se renovase de nuevo y se adaptase a las necesidades de nuestra época. Movido de este deseo, nuestro predecesor, el Sumo Pontífice Pablo VI, aprobó en 1970 para la Iglesia latina los libros litúrgicos reformados, y en parte, renovados. Éstos, traducidos a las diversas lenguas del mundo, fueron acogidos de buen grado por los obispos, sacerdotes y fieles. Juan Pablo II revisó la tercera edición típica del Misal Romano. Así los Pontífices Romanos han actuado "para que esta especie de edificio litúrgico (...) apareciese nuevamente esplendoroso por dignidad y armonía" .
"En algunas regiones, sin embargo, no pocos fieles adhirieron y siguen adhiriendo con mucho amor y afecto a las anteriores formas litúrgicas, que habían embebido tan profundamente su cultura y su espíritu, que el Sumo Pontífice Juan Pablo II, movido por la preocupación pastoral respecto a estos fieles, en el año 1984, con el indulto especial "Quattuor abhinc annos", emitido por la Congregación para el Culto Divino, concedió la facultad de usar el Misal Romano editado por el beato Juan XXIII en el año 1962; más tarde, en el año 1988, con la Carta Apostólica "Ecclesia Dei", dada en forma de Motu proprio, Juan Pablo II exhortó a los obispos a utilizar amplia y generosamente esta facultad a favor de todos los fieles que lo solicitasen".
"Después de la consideración por parte de nuestro predecesor Juan Pablo II de las insistentes peticiones de estos fieles, después de haber escuchado a los Padres Cardenales en el consistorio del 22 de marzo de 2006, tras haber reflexionado profundamente sobre cada uno de los aspectos de la cuestión, invocado al Espíritu Santo y contando con la ayuda de Dios, con las presentes Cartas Apostólicas establecemos lo siguiente:
Art. 1.- El Misal Romano promulgado por Pablo VI es la expresión ordinaria de la "Lex orandi" ("Ley de la oración"), de la Iglesia católica de rito latino. No obstante el Misal Romano promulgado por San Pío V y nuevamente por el beato Juan XXIII debe considerarse como expresión extraordinaria de la misma "Lex orandi" y gozar del respeto debido por su uso venerable y antiguo. Estas dos expresiones de la "Lex orandi" de la Iglesia no llevarán
de forma alguna a una división de la "Lex credendi" ("Ley de la fe") de la Iglesia; son, de hecho, dos usos del único rito romano.
Por eso es lícito celebrar el Sacrificio de la Misa según la edición típica del Misal Romano promulgado por el beato Juan XXIII en 1962, que no se ha abrogado nunca, como forma extraordinaria de la Liturgia de la Iglesia. Las condiciones para el uso de este misal establecidas en los documentos anteriores "Quattuor abhinc annis" y "Ecclesia Dei", se sustituirán como se establece a continuación:
Art. 2.- En las Misas celebradas sin el pueblo, todo sacerdote católico de rito latino, tanto secular como religioso, puede utilizar sea el Misal Romano editado por el beato Papa Juan XXIII en 1962 que el Misal Romano promulgado por el Papa Pablo VI en 1970, en cualquier día, exceptuado el Triduo Sacro. Para dicha celebración siguiendo uno u otro misal, el sacerdote no necesita ningún permiso, ni de la Sede Apostólica ni de su Ordinario.
Art. 3.- Las comunidades de los institutos de vida consagrada y de las Sociedades de vida apostólica, de derecho tanto pontificio como diocesano, que deseen celebrar la Santa Misa según la edición del Misal Romano promulgado en 1962 en la celebración conventual o "comunitaria" en sus oratorios propios, pueden hacerlo. Si una sola comunidad o un entero Instituto o Sociedad quiere llevar a cabo dichas celebraciones a menudo o habitualmente o permanentemente, la decisión compete a los Superiores mayores según las normas del derecho y según las reglas y los estatutos particulares.
Art 4.- A la celebración de la Santa Misa, a la que se refiere el artículo 2, también pueden ser admitidos -observadas las normas del derecho- los fieles que lo pidan voluntariamente.
Art.5. §1.- En las parroquias, donde haya un grupo estable de fieles adherentes a la precedente tradición litúrgica, el párroco acogerá de buen grado su petición de celebrar la Santa Misa según el rito del Misal Romano editado en 1962. Debe procurar que el bien de estos fieles se armonice con la atención pastoral ordinaria de la parroquia, bajo la guía del obispo como establece el can. 392 evitando la discordia y favoreciendo la unidad de toda la Iglesia.
§ 2.-La celebración según el Misal del beato Juan XXIII puede tener lugar en día ferial; los domingos y las festividades puede haber también una celebración de ese tipo.
§ 3.- El párroco permita también a los fieles y sacerdotes que lo soliciten la celebración en esta forma extraordinaria en circunstancias particulares, como matrimonios, exequias o celebraciones ocasionales, como por ejemplo las peregrinaciones.
§ 4.- Los sacerdotes que utilicen el Misal del beato Juan XXIII deben ser idóneos y no tener ningún impedimento jurídico.
§ 5.- En las iglesias que no son parroquiales ni conventuales, es competencia del Rector conceder la licencia más arriba citada.
de forma alguna a una división de la "Lex credendi" ("Ley de la fe") de la Iglesia; son, de hecho, dos usos del único rito romano.
Art.6. En las misas celebradas con el pueblo según el Misal del Beato Juan XXIII, las lecturas pueden ser proclamadas también en la lengua vernácula, usando ediciones reconocidas por la Sede Apostólica.
Art.7. Si un grupo de fieles laicos, como los citados en el art. 5, §1, no ha obtenido satisfacción a sus peticiones por parte del párroco, informe al obispo diocesano. Se invita vivamente al obispo a satisfacer su deseo. Si no puede proveer a esta celebración, el asunto se remita a la Pontificia Comisión "Ecclesia Dei".
Art. 8. El obispo, que desea responder a estas peticiones de los fieles laicos, pero que por diferentes causas no puede hacerlo, puede indicarlo a la Comisión "Ecclesia Dei" para que le aconseje y le ayude.
Art. 9. §1. El párroco, tras haber considerado todo atentamente, puede conceder la licencia para usar el ritual precedente en la administración de los sacramentos del Bautismo, del Matrimonio, de la Penitencia y de la Unción de Enfermos, si lo requiere el bien de las almas.
§2. A los ordinarios se concede la facultad de celebrar el sacramento de la Confirmación usando el precedente Pontifical Romano, siempre que lo requiera el bien de las almas.
§3. A los clérigos constituidos "in sacris" es lícito usar el Breviario Romano promulgado por el Beato Juan XXIII en 1962.
Art. 10. El ordinario del lugar, si lo considera oportuno, puede erigir una parroquia personal según la norma del canon 518 para las celebraciones con la forma antigua del rito romano, o nombrar un capellán, observadas las normas del derecho.
Art. 11. La Pontificia Comisión "Ecclesia Dei", erigida por Juan Pablo II en 1988, sigue ejercitando su misión. Esta Comisión debe tener la forma, y cumplir las tareas y las normas que el Romano Pontífice quiera atribuirle.
Art. 12. La misma Comisión, además de las facultades de las que ya goza, ejercitará la autoridad de la Santa Sede vigilando sobre la observancia y aplicación de estas disposiciones.
Todo cuanto hemos establecido con estas Cartas Apostólicas en forma de Motu Proprio, ordenamos que se considere "establecido y decretado" y que se observe desde el 14 de septiembre de este año, fiesta de la Exaltación de la Santa Cruz, pese a lo que pueda haber en contrario.
Dado en Roma, en San Pedro, el 7 de julio de 2007, tercer año de mi Pontificado.
NOTAS
(1) Ordinamento generale del Messale Romano 3ª ed. 2002, n.937
(2) JUAN PABLO II, Lett. ap. Vicesimus quintus annus, 4 dicembre 1988, 3: AAS 81 (1989), 899
(3) Ibid. JUAN PABLO II, Lett. ap. Vicesimus quintus annus, 4 dicembre 1988, 3: AAS 81 (1989), 899
(4) S. PIO X, Lett. ap. Motu propio data, Abhinc duos annos, 23 ottobre 1913: AAS 5 (1913), 449-450; cfr JUAN PABLO II lett. ap. Vicesimus quintus annus, n. 3: AAS 81 (1989), 899
(5) Cfr IOANNES PAULUS II, Lett. ap. Motu proprio data Ecclesia Dei, 2 luglio 1988, 6: AAS 80 (1988), 1498
CARTA DO SANTO PADRE
BENTO XVI
AOS BISPOS QUE ACOMPANHA O "MOTU PROPRIO"
SUMMORUM PONTIFICUM
SOBRE O USO DA LITURGIA ROMANA
ANTERIOR À REFORMA REALIZADA EM 1970
Amados Irmãos no Episcopado,
Com grande confiança e esperança, coloco nas vossas mãos de Pastores o texto duma nova Carta Apostólica «Motu Proprio data» sobre o uso da liturgia romana anterior à reforma realizada em 1970. O documento é fruto de longas reflexões, múltiplas consultas e de oração.
Notícias e juízos elaborados sem suficiente informação criaram não pouca confusão. Há reacções muito divergentes entre si que vão de uma entusiasta aceitação até uma férrea oposição a respeito de um projecto cujo conteúdo na realidade não era conhecido.
Contrapunham-se de forma mais directa a este documento dois temores, dos quais me quero ocupar um pouco mais detalhadamente nesta carta.
Em primeiro lugar, há o temor de que seja aqui afectada a autoridade do Concílio Vaticano II e que uma das suas decisões essenciais – a reforma litúrgica – seja posta em dúvida. Tal receio não tem fundamento. A este respeito, é preciso antes de mais afirmar que o Missal publicado por Paulo VI, e reeditado em duas sucessivas edições por João Paulo II, obviamente é e permanece a Forma normal – a Forma ordinária – da Liturgia Eucarística.
A última versão do Missale Romanum, anterior ao Concílio, que foi publicada sob a autoridade do Papa João XXIII em 1962 e utilizada durante o Concílio, poderá, por sua vez, ser usada como Forma extraordinária da Celebração Litúrgica. Não é apropriado falar destas duas versões do Missal Romano como se fossem «dois ritos». Trata-se, antes, de um duplo uso do único e mesmo Rito.
Quanto ao uso do Missal de 1962, como Forma extraordinária da Liturgia da Missa, quero chamar a atenção para o facto de que este Missal nunca foi juridicamente ab-rogado e, consequentemente, em princípio sempre continuou permitido. Na altura da introdução do novo Missal, não pareceu necessário emanar normas próprias para um possível uso do Missal anterior. Supôs-se, provavelmente, que se trataria de poucos casos individuais que seriam resolvidos um a um na sua situação concreta.
Bem depressa, porém, se constatou que não poucos continuavam fortemente ligados a este uso do Rito Romano que, desde a infância, se lhes tornara familiar. Isto aconteceu sobretudo em países onde o movimento litúrgico tinha dado a muitas pessoas uma formação litúrgica notável e uma profunda e íntima familiaridade com a Forma anterior da Celebração Litúrgica.
Todos sabemos que, no movimento guiado pelo Arcebispo Lefebvre, a fidelidade ao Missal antigo apareceu como um sinal distintivo externo; mas as razões da divisão, que então nascia, encontravam-se a maior profundidade. Muitas pessoas, que aceitavam claramente o carácter vinculante do Concílio Vaticano II e que eram fiéis ao Papa e aos Bispos, desejavam contudo reaver também a forma, que lhes era cara, da sagrada Liturgia; isto sucedeu antes de mais porque, em muitos lugares, se celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou frequentemente a deformações da Liturgia no limite do suportável.
Falo por experiência, porque também eu vivi aquele período com todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas que estavam totalmente radicadas na fé da Igreja.
Por isso, o Papa João Paulo II viu-se obrigado a estabelecer, através do Motu Proprio «Ecclesia Dei» de 2 de Julho de 1988, um quadro normativo para o uso do Missal de 1962, que no entanto não contém prescrições detalhadas, mas fazia apelo, de forma mais geral, à generosidade dos Bispos para com as «justas aspirações» dos fiéis que requeriam este uso do Rito Romano. Naquela altura, o Papa queria assim ajudar sobretudo a Fraternidade São Pio X a encontrar de novo a plena unidade com o Sucessor de Pedro, procurando curar uma ferida que se ia fazendo sentir sempre mais dolorosamente.
Até agora, infelizmente, esta reconciliação não se conseguiu; todavia várias comunidades utilizaram com gratidão as possibilidades deste Motu Proprio. Continuava aberta, porém, a difícil questão do uso do Missal de 1962 fora destes grupos, para os quais faltavam precisas normas jurídicas, antes de mais porque, nestes casos, frequentemente os Bispos temiam que a autoridade do Concílio fosse posta em dúvida. Logo a seguir ao Concílio Vaticano II podia-se supor que o pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse à geração mais idosa que tinha crescido com ele, mas entretanto vê-se claramente que também pessoas jovens descobrem esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por ela e nela encontram uma forma, que lhes resulta particularmente apropriada, de encontro com o Mistério da Santíssima Eucaristia.
Surgiu assim a necessidade duma regulamentação jurídica mais clara, que, no tempo do Motu Proprio de 1988, não era previsível; estas Normas pretendem também libertar os Bispos do dever de avaliar sempre de novo como hão-de responder às diversas situações.
Cheguei assim à razão positiva que me motivou para actualizar através deste Motu Proprio o de 1988. Trata-se de chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja.
Olhando para o passado, para as divisões que no decurso dos séculos dilaceraram o Corpo de Cristo, tem-se continuamente a impressão de que, em momentos críticos quando a divisão estava a nascer, não fora feito o suficiente por parte dos responsáveis da Igreja para manter ou reconquistar a reconciliação e a unidade; fica-se com a impressão de que as omissões na Igreja tenham a sua parte de culpa no facto de tais divisões se terem podido consolidar.
Esta sensação do passado impõe-nos hoje uma obrigação: realizar todos os esforços para que todos aqueles que nutrem verdadeiramente o desejo da unidade tenham possibilidades de permanecer nesta unidade ou de encontrá-la de novo. Vem-me à mente uma frase da segunda carta aos Coríntios, quando Paulo escreve: «Falámo-vos com toda a liberdade, ó Coríntios. O nosso coração abriu-se plenamente. Há nele muito lugar para vós, enquanto no vosso não há lugar para nós (…): pagai-nos na mesma moeda, abri também vós largamente o vosso coração» (2 Cor 6, 11-13).
É certo que Paulo fala noutro contexto, mas o seu convite pode e deve tocar-nos também a nós, precisamente neste tema. Abramos generosamente o nosso coração e deixemos entrar tudo aquilo a que a própria fé dá espaço.
Não existe qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar.
Obviamente, para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das Comunidades aderentes ao uso antigo não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros. De facto, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do novo rito a exclusão total do mesmo.
Em conclusão, amados Irmãos, tenho a peito sublinhar que as novas normas não diminuem de modo algum a vossa autoridade e responsabilidade sobre a liturgia nem sobre a pastoral dos vossos fiéis. Com efeito, cada Bispo é o moderador da liturgia na própria diocese (cf. Sacrosanctum Concilium, n.º 22: «Sacræ Liturgiæ moderatio ab Ecclesiæ auctoritate unice pendet quæ quidem est apud Apostolicam Sedem et, ad normam iuris, apud Episcopum»).
Por conseguinte, nada se tira à autoridade do Bispo, cuja tarefa, em todo o caso, continuará a ser a de vigiar para que tudo se desenrole em paz e serenidade. Se por hipótese surgisse qualquer problema que o pároco não pudesse resolver, sempre poderia o Ordinário local intervir, mas em plena harmonia com quanto estabelecido pelas novas normas do Motu Proprio.
Além disso, convido-vos, amados Irmãos, a elaborar para a Santa Sé um relatório sobre as vossas experiências, três anos depois da entrada em vigor deste Motu Proprio. Se verdadeiramente tiverem surgido sérias dificuldades, poder-se-á procurar meios para lhes dar remédio.
Amados Irmãos, com ânimo grato e confiante, entrego ao vosso coração de Pastores estas páginas e as normas do Motu Proprio. Tenhamos sempre presente as palavras dirigidas pelo Apóstolo Paulo aos anciãos de Éfeso: «Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, do qual o Espírito Santo vos constituiu vigilantes para apascentardes a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho» (Act 20, 28).
Confio à poderosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja, estas novas normas e de coração concedo a minha Bênção Apostólica a vós, amados Irmãos, aos párocos das vossas dioceses, e a todos os sacerdotes, vossos colaboradores, como também a todos os vossos fiéis.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 7 de Julho de 2007.
BENEDICTUS PP. XVI
CARTA APOSTÓLICA EN FORMA DE MOTU PROPRIO DE BENEDICTO XVI
"Los sumos pontífices hasta nuestros días se preocuparon constantemente porque la Iglesia de Cristo ofreciese a la Divina Majestad un culto digno de "alabanza y gloria de Su nombre" y "del bien de toda su Santa Iglesia".
"Desde tiempo inmemorable, como también para el futuro, es necesario mantener el principio según el cual, "cada Iglesia particular debe concordar con la Iglesia universal, no solo en cuanto a la doctrina de la fe y a los signos sacramentales, sino también respecto a los usos universalmente aceptados de la ininterrumpida tradición apostólica, que deben observarse no solo para evitar errores, sino también para transmitir la integridad de la fe, para que la ley de la oración de la Iglesia corresponda a su ley de fe". (1)
Dado en San Pedro, el 7 de Julio 2007."Entre los pontífices que tuvieron esa preocupación resalta el nombre de San Gregorio Magno, que hizo todo lo posible para que a los nuevos pueblos de Europa se transmitiera tanto la fe católica como los tesoros del culto y de la cultura acumulados por los romanos en los siglos precedentes. Ordenó que fuera definida y conservada la forma de la sagrada Liturgia, relativa tanto al Sacrificio de la Misa como al Oficio Divino, en el modo en que se celebraba en la Urbe. Promovió con la máxima atención la difusión de los monjes y monjas que, actuando según la regla de San Benito, siempre junto al anuncio del Evangelio ejemplificaron con su vida la saludable máxima de la Regla: "Nada se anticipe a la obra de Dios" (cap.43). De esa forma la Sagrada Liturgia, celebrada según el uso romano, enriqueció no solamente la fe y la piedad, sino también la cultura de muchas poblaciones. Consta efectivamente que la liturgia latina de la Iglesia en sus varias formas, en todos los siglos de la era cristiana, ha impulsado en la vida espiritual a numerosos santos y ha reforzado a tantos pueblos en la virtud de la religión y ha fecundado su piedad".
Dado en San Pedro, el 7 de Julio 2007."Muchos otros pontífices romanos, en el transcurso de los siglos, mostraron particular solicitud porque la sacra Liturgia manifestase de la forma más eficaz esta tarea: entre ellos destaca San Pío V, que sostenido de gran celo pastoral, tras la exhortación de Concilio de Trento, renovó todo el culto de la Iglesia, revisó la edición de los libros litúrgicos enmendados y "renovados según la norma de los Padres" y los dio en uso a la Iglesia Latina" .
"Entre los libros litúrgicos del Rito romano resalta el Misal Romano, que se desarrolló en la ciudad de Roma, y que, poco a poco, con el transcurso de los siglos, tomó formas que tienen gran semejanza con las vigentes en tiempos más recientes".
"Fue éste el objetivo que persiguieron los Pontífices Romanos en el curso de los siguientes siglos, asegurando la actualización o definiendo los ritos y libros litúrgicos, y después, al inicio de este siglo, emprendiendo una reforma general"(2). Así actuaron nuestros predecesores Clemente VIII, Urbano VIII, san Pío X (3), Benedicto XV, Pío XII y el beato Juan XXIII.
"En tiempos recientes, el Concilio Vaticano II expresó el deseo de que la debida y respetuosa reverencia respecto al culto divino, se renovase de nuevo y se adaptase a las necesidades de nuestra época. Movido de este deseo, nuestro predecesor, el Sumo Pontífice Pablo VI, aprobó en 1970 para la Iglesia latina los libros litúrgicos reformados, y en parte, renovados. Éstos, traducidos a las diversas lenguas del mundo, fueron acogidos de buen grado por los obispos, sacerdotes y fieles. Juan Pablo II revisó la tercera edición típica del Misal Romano. Así los Pontífices Romanos han actuado "para que esta especie de edificio litúrgico (...) apareciese nuevamente esplendoroso por dignidad y armonía" .
"Después de la consideración por parte de nuestro predecesor Juan Pablo II de las insistentes peticiones de estos fieles, después de haber escuchado a los Padres Cardenales en el consistorio del 22 de marzo de 2006, tras haber reflexionado profundamente sobre cada uno de los aspectos de la cuestión, invocado al Espíritu Santo y contando con la ayuda de Dios, con las presentes Cartas Apostólicas establecemos lo siguiente:
Art. 1.- El Misal Romano promulgado por Pablo VI es la expresión ordinaria de la "Lex orandi" ("Ley de la oración"), de la Iglesia católica de rito latino. No obstante el Misal Romano promulgado por San Pío V y nuevamente por el beato Juan XXIII debe considerarse como expresión extraordinaria de la misma "Lex orandi" y gozar del respeto debido por su uso venerable y antiguo. Estas dos expresiones de la "Lex orandi" de la Iglesia no llevarán
de forma alguna a una división de la "Lex credendi" ("Ley de la fe") de la Iglesia; son, de hecho, dos usos del único rito romano.
Por eso es lícito celebrar el Sacrificio de la Misa según la edición típica del Misal Romano promulgado por el beato Juan XXIII en 1962, que no se ha abrogado nunca, como forma extraordinaria de la Liturgia de la Iglesia. Las condiciones para el uso de este misal establecidas en los documentos anteriores "Quattuor abhinc annis" y "Ecclesia Dei", se sustituirán como se establece a continuación:
Art. 2.- En las Misas celebradas sin el pueblo, todo sacerdote católico de rito latino, tanto secular como religioso, puede utilizar sea el Misal Romano editado por el beato Papa Juan XXIII en 1962 que el Misal Romano promulgado por el Papa Pablo VI en 1970, en cualquier día, exceptuado el Triduo Sacro. Para dicha celebración siguiendo uno u otro misal, el sacerdote no necesita ningún permiso, ni de la Sede Apostólica ni de su Ordinario.
Art. 3.- Las comunidades de los institutos de vida consagrada y de las Sociedades de vida apostólica, de derecho tanto pontificio como diocesano, que deseen celebrar la Santa Misa según la edición del Misal Romano promulgado en 1962 en la celebración conventual o "comunitaria" en sus oratorios propios, pueden hacerlo. Si una sola comunidad o un entero Instituto o Sociedad quiere llevar a cabo dichas celebraciones a menudo o habitualmente o permanentemente, la decisión compete a los Superiores mayores según las normas del derecho y según las reglas y los estatutos particulares.
Art 4.- A la celebración de la Santa Misa, a la que se refiere el artículo 2, también pueden ser admitidos -observadas las normas del derecho- los fieles que lo pidan voluntariamente.
Art.5. §1.- En las parroquias, donde haya un grupo estable de fieles adherentes a la precedente tradición litúrgica, el párroco acogerá de buen grado su petición de celebrar la Santa Misa según el rito del Misal Romano editado en 1962. Debe procurar que el bien de estos fieles se armonice con la atención pastoral ordinaria de la parroquia, bajo la guía del obispo como establece el can. 392 evitando la discordia y favoreciendo la unidad de toda la Iglesia.
§ 2.-La celebración según el Misal del beato Juan XXIII puede tener lugar en día ferial; los domingos y las festividades puede haber también una celebración de ese tipo.
§ 3.- El párroco permita también a los fieles y sacerdotes que lo soliciten la celebración en esta forma extraordinaria en circunstancias particulares, como matrimonios, exequias o celebraciones ocasionales, como por ejemplo las peregrinaciones.
§ 4.- Los sacerdotes que utilicen el Misal del beato Juan XXIII deben ser idóneos y no tener ningún impedimento jurídico.
§ 5.- En las iglesias que no son parroquiales ni conventuales, es competencia del Rector conceder la licencia más arriba citada.
de forma alguna a una división de la "Lex credendi" ("Ley de la fe") de la Iglesia; son, de hecho, dos usos del único rito romano.
Art.6. En las misas celebradas con el pueblo según el Misal del Beato Juan XXIII, las lecturas pueden ser proclamadas también en la lengua vernácula, usando ediciones reconocidas por la Sede Apostólica.
Art.7. Si un grupo de fieles laicos, como los citados en el art. 5, §1, no ha obtenido satisfacción a sus peticiones por parte del párroco, informe al obispo diocesano. Se invita vivamente al obispo a satisfacer su deseo. Si no puede proveer a esta celebración, el asunto se remita a la Pontificia Comisión "Ecclesia Dei".
Art. 8. El obispo, que desea responder a estas peticiones de los fieles laicos, pero que por diferentes causas no puede hacerlo, puede indicarlo a la Comisión "Ecclesia Dei" para que le aconseje y le ayude.
Art. 9. §1. El párroco, tras haber considerado todo atentamente, puede conceder la licencia para usar el ritual precedente en la administración de los sacramentos del Bautismo, del Matrimonio, de la Penitencia y de la Unción de Enfermos, si lo requiere el bien de las almas.
§2. A los ordinarios se concede la facultad de celebrar el sacramento de la Confirmación usando el precedente Pontifical Romano, siempre que lo requiera el bien de las almas.
§3. A los clérigos constituidos "in sacris" es lícito usar el Breviario Romano promulgado por el Beato Juan XXIII en 1962.
Art. 10. El ordinario del lugar, si lo considera oportuno, puede erigir una parroquia personal según la norma del canon 518 para las celebraciones con la forma antigua del rito romano, o nombrar un capellán, observadas las normas del derecho.
Art. 11. La Pontificia Comisión "Ecclesia Dei", erigida por Juan Pablo II en 1988, sigue ejercitando su misión. Esta Comisión debe tener la forma, y cumplir las tareas y las normas que el Romano Pontífice quiera atribuirle.
Art. 12. La misma Comisión, además de las facultades de las que ya goza, ejercitará la autoridad de la Santa Sede vigilando sobre la observancia y aplicación de estas disposiciones.
Todo cuanto hemos establecido con estas Cartas Apostólicas en forma de Motu Proprio, ordenamos que se considere "establecido y decretado" y que se observe desde el 14 de septiembre de este año, fiesta de la Exaltación de la Santa Cruz, pese a lo que pueda haber en contrario.
Dado en Roma, en San Pedro, el 7 de julio de 2007, tercer año de mi Pontificado.
NOTAS
(1) Ordinamento generale del Messale Romano 3ª ed. 2002, n.937
(2) JUAN PABLO II, Lett. ap. Vicesimus quintus annus, 4 dicembre 1988, 3: AAS 81 (1989), 899
(3) Ibid. JUAN PABLO II, Lett. ap. Vicesimus quintus annus, 4 dicembre 1988, 3: AAS 81 (1989), 899
(4) S. PIO X, Lett. ap. Motu propio data, Abhinc duos annos, 23 ottobre 1913: AAS 5 (1913), 449-450; cfr JUAN PABLO II lett. ap. Vicesimus quintus annus, n. 3: AAS 81 (1989), 899
(5) Cfr IOANNES PAULUS II, Lett. ap. Motu proprio data Ecclesia Dei, 2 luglio 1988, 6: AAS 80 (1988), 1498
CARTA DO SANTO PADRE BENTO XVI AOS BISPOS QUE ACOMPANHA O "MOTU PROPRIO" SUMMORUM PONTIFICUM SOBRE O USO DA LITURGIA ROMANA ANTERIOR À REFORMA REALIZADA EM 1970
CARTA DO SANTO PADRE
BENTO XVI
AOS BISPOS QUE ACOMPANHA O "MOTU PROPRIO"
SUMMORUM PONTIFICUM
SOBRE O USO DA LITURGIA ROMANA
ANTERIOR À REFORMA REALIZADA EM 1970
Amados Irmãos no Episcopado,
Com grande confiança e esperança, coloco nas vossas mãos de Pastores o texto duma nova Carta Apostólica «Motu Proprio data» sobre o uso da liturgia romana anterior à reforma realizada em 1970. O documento é fruto de longas reflexões, múltiplas consultas e de oração.
Notícias e juízos elaborados sem suficiente informação criaram não pouca confusão. Há reacções muito divergentes entre si que vão de uma entusiasta aceitação até uma férrea oposição a respeito de um projecto cujo conteúdo na realidade não era conhecido.
Contrapunham-se de forma mais directa a este documento dois temores, dos quais me quero ocupar um pouco mais detalhadamente nesta carta.
Em primeiro lugar, há o temor de que seja aqui afectada a autoridade do Concílio Vaticano II e que uma das suas decisões essenciais – a reforma litúrgica – seja posta em dúvida. Tal receio não tem fundamento. A este respeito, é preciso antes de mais afirmar que o Missal publicado por Paulo VI, e reeditado em duas sucessivas edições por João Paulo II, obviamente é e permanece a Forma normal – a Forma ordinária – da Liturgia Eucarística.
A última versão do Missale Romanum, anterior ao Concílio, que foi publicada sob a autoridade do Papa João XXIII em 1962 e utilizada durante o Concílio, poderá, por sua vez, ser usada como Forma extraordinária da Celebração Litúrgica. Não é apropriado falar destas duas versões do Missal Romano como se fossem «dois ritos». Trata-se, antes, de um duplo uso do único e mesmo Rito.
Quanto ao uso do Missal de 1962, como Forma extraordinária da Liturgia da Missa, quero chamar a atenção para o facto de que este Missal nunca foi juridicamente ab-rogado e, consequentemente, em princípio sempre continuou permitido. Na altura da introdução do novo Missal, não pareceu necessário emanar normas próprias para um possível uso do Missal anterior. Supôs-se, provavelmente, que se trataria de poucos casos individuais que seriam resolvidos um a um na sua situação concreta.
Bem depressa, porém, se constatou que não poucos continuavam fortemente ligados a este uso do Rito Romano que, desde a infância, se lhes tornara familiar. Isto aconteceu sobretudo em países onde o movimento litúrgico tinha dado a muitas pessoas uma formação litúrgica notável e uma profunda e íntima familiaridade com a Forma anterior da Celebração Litúrgica.
Todos sabemos que, no movimento guiado pelo Arcebispo Lefebvre, a fidelidade ao Missal antigo apareceu como um sinal distintivo externo; mas as razões da divisão, que então nascia, encontravam-se a maior profundidade. Muitas pessoas, que aceitavam claramente o carácter vinculante do Concílio Vaticano II e que eram fiéis ao Papa e aos Bispos, desejavam contudo reaver também a forma, que lhes era cara, da sagrada Liturgia; isto sucedeu antes de mais porque, em muitos lugares, se celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou frequentemente a deformações da Liturgia no limite do suportável.
Falo por experiência, porque também eu vivi aquele período com todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas que estavam totalmente radicadas na fé da Igreja.
Por isso, o Papa João Paulo II viu-se obrigado a estabelecer, através do Motu Proprio «Ecclesia Dei» de 2 de Julho de 1988, um quadro normativo para o uso do Missal de 1962, que no entanto não contém prescrições detalhadas, mas fazia apelo, de forma mais geral, à generosidade dos Bispos para com as «justas aspirações» dos fiéis que requeriam este uso do Rito Romano. Naquela altura, o Papa queria assim ajudar sobretudo a Fraternidade São Pio X a encontrar de novo a plena unidade com o Sucessor de Pedro, procurando curar uma ferida que se ia fazendo sentir sempre mais dolorosamente.
Até agora, infelizmente, esta reconciliação não se conseguiu; todavia várias comunidades utilizaram com gratidão as possibilidades deste Motu Proprio. Continuava aberta, porém, a difícil questão do uso do Missal de 1962 fora destes grupos, para os quais faltavam precisas normas jurídicas, antes de mais porque, nestes casos, frequentemente os Bispos temiam que a autoridade do Concílio fosse posta em dúvida. Logo a seguir ao Concílio Vaticano II podia-se supor que o pedido do uso do Missal de 1962 se limitasse à geração mais idosa que tinha crescido com ele, mas entretanto vê-se claramente que também pessoas jovens descobrem esta forma litúrgica, sentem-se atraídas por ela e nela encontram uma forma, que lhes resulta particularmente apropriada, de encontro com o Mistério da Santíssima Eucaristia.
Surgiu assim a necessidade duma regulamentação jurídica mais clara, que, no tempo do Motu Proprio de 1988, não era previsível; estas Normas pretendem também libertar os Bispos do dever de avaliar sempre de novo como hão-de responder às diversas situações.
Cheguei assim à razão positiva que me motivou para actualizar através deste Motu Proprio o de 1988. Trata-se de chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja.
Olhando para o passado, para as divisões que no decurso dos séculos dilaceraram o Corpo de Cristo, tem-se continuamente a impressão de que, em momentos críticos quando a divisão estava a nascer, não fora feito o suficiente por parte dos responsáveis da Igreja para manter ou reconquistar a reconciliação e a unidade; fica-se com a impressão de que as omissões na Igreja tenham a sua parte de culpa no facto de tais divisões se terem podido consolidar.
Esta sensação do passado impõe-nos hoje uma obrigação: realizar todos os esforços para que todos aqueles que nutrem verdadeiramente o desejo da unidade tenham possibilidades de permanecer nesta unidade ou de encontrá-la de novo. Vem-me à mente uma frase da segunda carta aos Coríntios, quando Paulo escreve: «Falámo-vos com toda a liberdade, ó Coríntios. O nosso coração abriu-se plenamente. Há nele muito lugar para vós, enquanto no vosso não há lugar para nós (…): pagai-nos na mesma moeda, abri também vós largamente o vosso coração» (2 Cor 6, 11-13).
É certo que Paulo fala noutro contexto, mas o seu convite pode e deve tocar-nos também a nós, precisamente neste tema. Abramos generosamente o nosso coração e deixemos entrar tudo aquilo a que a própria fé dá espaço.
Não existe qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar.
Obviamente, para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das Comunidades aderentes ao uso antigo não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros. De facto, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do novo rito a exclusão total do mesmo.
Em conclusão, amados Irmãos, tenho a peito sublinhar que as novas normas não diminuem de modo algum a vossa autoridade e responsabilidade sobre a liturgia nem sobre a pastoral dos vossos fiéis. Com efeito, cada Bispo é o moderador da liturgia na própria diocese (cf. Sacrosanctum Concilium, n.º 22: «Sacræ Liturgiæ moderatio ab Ecclesiæ auctoritate unice pendet quæ quidem est apud Apostolicam Sedem et, ad normam iuris, apud Episcopum»).
Por conseguinte, nada se tira à autoridade do Bispo, cuja tarefa, em todo o caso, continuará a ser a de vigiar para que tudo se desenrole em paz e serenidade. Se por hipótese surgisse qualquer problema que o pároco não pudesse resolver, sempre poderia o Ordinário local intervir, mas em plena harmonia com quanto estabelecido pelas novas normas do Motu Proprio.
Além disso, convido-vos, amados Irmãos, a elaborar para a Santa Sé um relatório sobre as vossas experiências, três anos depois da entrada em vigor deste Motu Proprio. Se verdadeiramente tiverem surgido sérias dificuldades, poder-se-á procurar meios para lhes dar remédio.
Amados Irmãos, com ânimo grato e confiante, entrego ao vosso coração de Pastores estas páginas e as normas do Motu Proprio. Tenhamos sempre presente as palavras dirigidas pelo Apóstolo Paulo aos anciãos de Éfeso: «Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, do qual o Espírito Santo vos constituiu vigilantes para apascentardes a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho» (Act 20, 28).
Confio à poderosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja, estas novas normas e de coração concedo a minha Bênção Apostólica a vós, amados Irmãos, aos párocos das vossas dioceses, e a todos os sacerdotes, vossos colaboradores, como também a todos os vossos fiéis.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 7 de Julho de 2007.
BENEDICTUS PP. XVI
sábado, 20 de abril de 2013
LE TRÉSOR DE LA MESSE par saint Léonard de Port-Maurice
par saint Léonard de Port-Maurice
Introduction
Ce petit livre me fut offert, jadis, par un pieux chrétien,
tout animé du zèle de l’apostolat, qui s’en est fait le propagateur. À mon tour,
je voudrais le répandre, afin que beaucoup d’âmes en recueillent le profit
spirituel et que, dans le monde, l’étiage de la vertu, de la charité, de la vie
surnaturelle en soit exhaussé, car c’est un véritable trésor. Car, si la sainte
Messe était quotidiennement entendue par tous les fidèles à qui cet effort n’est
pas impossible, et si tous les fidèles, qui assistent au Sacrifice divin, s’y
unissaient avec plus de foi, plus d’intelligence et plus de ferveur, il y aurait
dans le monde, une surabondance de grâces qui suffiraient à rétablir la concorde
et la sérénité.
Et ceci, je ne le dis point de mon autorité personnelle; en
l’affirmant, je me borne à répéter les paroles d’un grand saint, lui-même
interprète exact et approuvé de la plus pure doctrine et de tout l’enseignement
de la sainte Église.
De ce petit livre, en effet, ce qui constitue la très haute et
très précieuse valeur, c’est qu’il fut composé, voici bien longtemps, par Saint
Léonard de Port-Maurice, apôtre de la sainte Messe. En le lisant, vous
n’entendez donc point la voix plus ou moins sûre et plus ou moins autorisée d’un
bon chrétien, rempli seulement d’excellentes intentions: vous recueillez, des
lèvres d’un saint, la moelle de sa science théologique et le suc de ses
méditations au pied du Tabernacle.
Écoutez-le donc et gardez avec soin tout ce qu’il vous dira. Ce
qu’il vous dira, c’est le prix infini de la sainte Messe, renouvellement
multiple et quotidien du Sacrifice du Calvaire, offert à l’autel comme au
Golgotha, par Notre-Seigneur Jésus-Christ lui-même, et que chacun de nous peut
offrir avec Jésus-Christ. Ce qu’il vous dira, ce sont les infinis bienfaits
qu’une seule Messe, étant elle-même un trésor infini, peut répandre sur les âmes
et sur toute la terre. Ce qu’il vous dira, c’est dans quelles dispositions
intimes, c’est à quelles intentions personnelles ou générales, vous devez
assister, je veux dire prendre part, au divin Sacrifice. Ce qu’il vous dira,
c’est quelles grâces incommensurables vous laissez perdre étourdiment, lorsque,
pouvant entendre la Messe, vous négligez cette faveur insigne.
Et je devine, ici, que beaucoup de mes lecteurs vont me
répondre que, toutes ces vérités, ils les connaissent depuis longtemps. À cette
objection, je pourrais répliquer, simplement, que tout homme a besoin de
réapprendre et d’approfondir les vérités qu’il connaît; car, parmi les choses
que l’on sait, combien d’essentielles à quoi l’on ne pense plus! Mais, j’irai
plus outre et j’oserai leur dire:
Non! Ces vérités, vous ne les connaissez pas!… Croyez-moi! J’en
ai fait l’expérience personnelle. Moi aussi, je me flattais de savoir, autant
que je le puis, ce qu’est la sainte Messe; or, en lisant le petit traité de
Saint Léonard de Port-Maurice, j’ai constaté mon ignorance. Il y a, dans ces
pages, une si intense et si douce lumière, que l’on découvre, à sa clarté, des
beautés nouvelles et jusqu’alors inaperçues, comme un visage, illuminé soudain
d’un puissant rayon, révèle à l’observateur des détails ignorés. Et puis
surtout, les méditations du saint apôtre sont animées d’une telle ardeur
d’amour, d’une force et d’une chaleur de persuasion si conquérantes et
pénétrantes, que, l’intelligence en fut-elle insuffisamment convaincue, le cœur
en serait totalement saisi.
L’auteur a terminé son écrit par quelques résolutions
pratiques. Et certes, en précisant les conclusions du livre, et en orientant la
conduite des lecteurs, elles offrent une évidente et précieuse utilité; mais je
crois pouvoir dire qu’elles sont presque superflue tellement les résolutions
proposées par saint Léonard jaillissent déjà de toutes les pages et s’imposent à
notre volonté!…
François Veuillot.
Le trésor caché
Si rare et si précieux qu’il soit en réalité, un trésor ne
saurait être estimé qu’autant qu’il est connu. Voilà sans doute, cher lecteur,
pourquoi le très Saint Sacrifice de la Messe n’est point apprécié d’un grand
nombre de chrétiens dans la mesure de sa réelle valeur: il est la plus belle
richesse, la plus divine gloire de l’Église de Dieu; mais c’est un trésor caché
que trop peu connaissent. Ah! si tous savaient quelle est cette perle du
paradis, il n’est pas sur la terre un homme qui ne donnât volontiers en échange
tout ce qu'il possède ici bas.
Savez-vous donc ce qu’est, en réalité, que la sainte Messe?
Elle n’est rien de moins que le soleil du christianisme, l’âme de la foi, le
cœur de la religion de Jésus-Christ; tous les rites, toutes les cérémonies, tous
les sacrements s’y rapportent. Elle est, en un mot, l’abrégé de tout ce qu’il y
a de beau et de bon dans l’Église de Dieu.
Ce Sacrifice est vraiment le plus vénérable et le plus parfait;
et, afin qu’un pareil trésor obtienne de vous l’estime qu’il mérite, nous
examinerons ici rapidement, en peu de mots, quelques-uns de ses titres. Je dis
quelques-uns: les embrasser tous serait chose impossible à l’intelligence
humaine.
1 - Le sacrifice de la Messe est le même que Celui du Calvaire.
Le premier et principal caractère d’excellence de la sainte
Messe, c’est que nous devons la considérer comme étant essentiellement et
absolument le même Sacrifice que celui qui fut offert au Calvaire. Une seule
différence se présente: sur la croix il fut sanglant et il n’eut lieu qu’une
seule fois, et cette seule fois il eut assez de vertu pour expier pleinement
toutes les iniquités de l’univers: sur l’autel, il n’y a point de sang répandu;
de plus, le Sacrifice se renouvelle à l’infini, et son objet direct est
d’appliquer à chacun en particulier, la rédemption générale acquise par Jésus
dans sa douloureuse immolation.
Le Sacrifice sanglant a été le principe de notre rançon, le
Sacrifice non sanglant nous met en possession de cette rançon; le premier nous
ouvre le trésor des mérites de Notre-Seigneur, l’autre nous en assure l’usage.
Remarquons-le attentivement, du reste: la sainte Messe n’est
point une simple représentation, un simple mémorial de la passion et de la mort
du Sauveur: c’est une reproduction réelle et certaine de ce qui s’est accompli
sur la croix: en sorte qu’on peut dire, en toute vérité, que dans chaque Messe
notre Rédempteur subit de nouveau pour nous la mort, d’une manière mystique,
sans mourir en réalité. Il vit tout à la fois et il est immolé. "J’ai vu, dit
saint Jean, l’Agneau qui était comme égorgé."
Le jour de Noël, par exemple, l’Église nous représente comme
actuelle la naissance de Jésus; à l’Ascension et à la Pentecôte, elle nous le
montre triomphant, quittant la terre, ou bien envoyant aux Apôtres le
Saint-Esprit; sans que pour cela il soit vrai qu’à pareil jour le Seigneur monte
au ciel et que l’Esprit-Saint descende visiblement sur les fidèles.
Or, il ne serait pas permis de raisonner ainsi quand au
Sacrifice de la Messe: là, ce n’est point une simple représentation, c’est
exactement le même Sacrifice que celui du Calvaire; seulement il n’est plus
sanglant. Ce même corps, ce même sang, ce même Jésus qui s’offrit sur la croix,
sont offerts sur l’autel.
"C’est, dit l’Église, c’est l’œuvre même de notre rédemption
qui s’accomplit de nouveau." Oui, elle s’accomplit très certainement, oui, c’est
le même Sacrifice, absolument le même, que le Sacrifice du Calvaire.
Ô merveille inexprimable! Avouez-le sincèrement: si, lorsque
vous allez à l’église entendre la Messe, vous réfléchissiez que vous montez au
Calvaire pour assister à la mort de Notre-Seigneur, vous verrait-on si peu
recueilli, si dissipé, si mondain? Qu’eût-on pensé de Marie-Madeleine si on
l’avait rencontrée au pied de la croix couverte de ses plus beaux vêtements,
parfumée, parée comme au temps où elle s’abandonnait à ses passions? Que faut-il
dire de vous, quand vous vous rendez au saint lieu comme vous iriez à une
réunion vulgaire?
Et que serait-ce, grand Dieu! si vous vous oubliiez jusqu’à
profaner cette action, de toutes la plus sainte, par des regards et des signes
inconvenants, par des rires, des conversations, des rencontres coupables, des
sacrilèges?
Le péché est chose horrible en tout lieu et en tout temps; mais
celui qui se commet pendant le temps de la Messe, à côté même des saints autels,
attire plus que tout autre la malédiction de Dieu.
"Maudit, s’écrie le prophète Jérémie, maudit l’homme qui fraude
dans l’œuvre divine." — Pensez-y sérieusement. — Mais il est dans ce Trésor
admirable d’autres merveilles encore et d’autres excellences.
2. - Le prêtre principal, à la sainte Messe, est Jésus-Christ lui-même.
Dans le nombre des prérogatives sublimes de cet adorable
Sacrifice, aucune semble-t-il, n’est plus admirable que d’être non pas seulement
la copie mais l’original même du Sacrifice de la croix: et pourtant il en est
une supérieure encore à celle-là, qui est d’avoir pour ministre et pour prêtre
un Dieu-Homme.
Dans une action aussi sainte que celle du Saint Sacrifice, il y
a trois choses à considérer spécialement: le prêtre qui offre, la victime qui
est offerte, la majesté de celui à qui on l’offre. Eh bien! ici nous trouvons, à
ce triple égard, l’Homme-Dieu, Jésus-Christ, pour prêtre; la vie d’un Dieu pour
victime; Dieu lui-même pour fin.
Excitez donc votre foi, et reconnaissez dans le prêtre qui est
à l’autel la personne adorable de Notre-Seigneur Jésus-Christ, qui est le prêtre
principal, non seulement parce que c’est lui qui a institué cet auguste
Sacrifice, et lui a donné par ses mérites toute son efficacité, mais encore
parce qu’à chaque Messe, il daigne changer pour nous le pain et le vin en son
Corps adorable et son Sang précieux.
Voici le plus grand privilège de la sainte Messe; c’est d’avoir
pour prêtre l’Homme-Dieu!
Sachez donc, quand vous voyez le célébrant à l’autel, que son
principal mérite est d’être le ministre de ce prêtre éternel et invisible
Notre-Seigneur Jésus-Christ.
C’est pour cela que le saint Sacrifice de la Messe ne cesse pas
d’être agréable à Dieu, lors même que le prêtre qui l’offre est sacrilège; parce
que le prêtre principal est Notre-Seigneur Jésus-Christ, et que celui que vous
voyez n’est que son ministre.
Si quelqu’un fait l’aumône par la main de son serviteur, c’est
à lui qu’on l’attribue, et lors même que ce dernier serait un scélérat, si le
maître est juste, son aumône est sainte et méritoire.
Béni soit donc le Seigneur de nous avoir accordé ce Prêtre
saint, la sainteté même, chargé d’offrir au Père éternel l’auguste Sacrifice non
seulement en tous lieux puisque la foi est désormais répandue dans l’univers
entier, mais en tout temps, chaque jour, à toute heure même, car le soleil ne
disparaît à notre horizon que pour se lever sur d’autres contrées.
C’est pourquoi, à chaque heure, sur chaque point du globe, ce
Prêtre très saint présente à Dieu son Sang, son Âme, sa Personne entière: il les
présente pour nous, et cela autant de fois qu’il se célèbre de Messes dans le
monde.
Ô trésor immense! Ô source d’inappréciables richesses! Ah! que
ne pouvons-nous assister à toutes les Messes qui se disent! quels mérites nous
gagnerions! que de grâces en cette vie et quelle gloire dans l’autre nous
pourrions acquérir!
3. - Dignité à laquelle est élevé le fidèle qui assiste à la Messe.
Mais que parlé-je d’assister? Entendre la sainte Messe, ce
n’est pas seulement cela, c’est l’offrir soi-même. Oui, le simple fidèle peut et
doit être appelé sacrificateur, ainsi que nous le lisons au chapitre V de
l’Apocalypse: "Vous avez fait de nous, Seigneur, votre royaume et vos prêtres."
Le célébrant à l’autel, c’est le ministre de l’Église agissant
au nom de la communauté; il est le médiateur de tous les fidèles, spécialement
de ceux qui sont présents, auprès de Jésus-Christ le prêtre invisible, uni à
lui, il offre à Dieu le Père, tant au nom de tous qu’en son nom particulier, le
prix divin de la rédemption des hommes.
Mais comprenons-le bien, il n’agit pas seul dans une si auguste
fonction: chacun de ceux qui assistent à son sacrifice concourt avec lui à
l’accomplir et à l’offrir, et c’est pourquoi, lorsque après l’offertoire, il se
tourne vers le peuple, il dit: Priez, mes frères, pour que mon sacrifice qui et
aussi le vôtre soit agréable au Dieu tout-puissant; afin que nous entendions par
là que, bien qu’il fasse les fonctions de principal ministre, tous ceux qui sont
présents offrent avec lui le saint Sacrifice.
Ainsi toutes les fois que vous assistez à la Messe, vous faites
en un certain sens l’office du prêtre. Oserez-vous maintenant entendre la Messe
en causant, en regardant de côté et d’autre, peut-être même en dormant, vous
contentant de réciter tant bien que mal quelques prières vocales, sans faire
aucune attention aux fonctions redoutables de prêtre que vous exercez ?
Ah! je ne puis m’empêcher de m’écrier ici: Monde insensé, qui
ne comprend rien à ces sublimes mystères! Comment est-il possible que l’on se
tienne auprès de l’autel, l’esprit distrait et le cœur dissipé, pendant que les
anges contemplent dans une sainte ferveur l’accomplissement d’une œuvre
merveilleuse.
Vous êtes peut-être étonné de m’entendre dire que la Messe est
une œuvre pleine de merveilles. N’est-ce pas, en effet, une merveille digne de
toutes nos admirations, que le changement opéré par les paroles d’un simple
mortel?
Qui, non seulement parmi le hommes, mais encore parmi les
anges, pourra expliquer une telle puissance? Qui pourrait s’imaginer que la voix
d’un homme, lequel n’a pas même la force de soulever de terre une paille sans y
mettre la main, ait reçu de Dieu le pouvoir merveilleux de faire descendre du
ciel sur la terre le Fils de Dieu lui-même.
C’est là un pouvoir plus grand que celui de transporter les
montagnes, de dessécher la mer et de bouleverser les cieux. Les paroles que
prononce le prêtre à la consécration sont aussi puissantes, en un certain sens,
que ce premier Fiat avec lequel Dieu tira du néant toutes choses; il semble même
qu’elles surpassent cet autre Fiat, avec lequel la sainte Vierge conçut dans son
sein le Verbe éternel.
Car elle ne fit alors que fournir la matière du corps de
Jésus-Christ, qui fut formé, il est vrai de son sang, mais non par elle; tandis
que le prêtre, instrument, ministre du Seigneur dans l’acte de la consécration,
il produit lui-même Jésus-Christ d’une manière ineffable, sacramentellement,
autant de fois qu’il offre le Saint Sacrifice.
Le bienheureux Jean de Mantoue, dit le Bon, avait pour
compagnon un ermite, qui ne pouvait comprendre comment les paroles d’un simple
prêtre avaient le pouvoir de changer la substance du pain et du vin, en celle du
Corps et du Sang de Jésus-Christ; il avait même prêté quelque consentement au
doute que le démon lui avait suggéré sur ce point.
Le bon serviteur de Dieu s’étant aperçu de son erreur, le
conduisit à une fontaine, et y ayant puisé une coupe d’eau, il la lui donna à
boire. L’autre l’ayant bue, confessa qu’il n’avait jamais goûté de vin aussi
délicieux.
"Eh bien, mon frère, lui dit alors Jean, vois-tu le miracle? Si
Dieu a permis que l’eau ait été changée en vin par moi, homme misérable,
pourquoi ne croirais-tu pas que, par le moyen des paroles du prêtre, qui sont
après tout les paroles de Dieu, la substance du pain et du
vin est changée en la substance du Corps et du Sang de
Jésus-Christ?
Qui oserait assigner des limites à la toute-puissance de Dieu?"
C’en fut assez pour éclairer l’ermite, qui, chassant de son esprit tous les
doutes, fit une pénitence sévère de son péché. Il ne faut qu’un peu de foi, pour
reconnaître que les prérogatives contenues dans cet adorable Sacrifice sont
innombrables.
Et d’abord, c’est déjà un grand prodige qu’à toute heure, en
mille lieux différents, l’humanité sainte de Jésus se multiplie, jouissant pour
ainsi dire d’une sorte d’immensité, que ne possède aucun autre corps, et qu’il a
méritée en s’immolant à son Père.
C’est ce que déclarait le démon, parlant par la bouche d’une
possédée, à un Juif incrédule. Celui-ci se trouvait sur une place où étaient en
même temps beaucoup de personnes, et entre autres une femme possédée.
Un prêtre passa en ce moment, portant le saint viatique à un
malade, au milieu d’une grande foule de peuple. Tous s’agenouillèrent pour
adorer le Saint Sacrement à son passage: le Juif seul se tint debout, sans
donner aucun signe de respect.
La femme, à cette vue se leva furieuse, arracha le chapeau du
Juif et lui donna un grand soufflet, en disant: "Malheureux, pourquoi
n’honores-tu pas le vrai Dieu, qui se trouve en ce divin sacrement?
— Le vrai Dieu? répondit le Juif; si cela était vrai, il y
aurait donc plusieurs Dieux, puisqu’il y en a un sur chacun de vos autels,
lorsqu’on y dit la Messe?"
À ce raisonnement, la possédée saisit un tamis, et, le plaçant
devant le soleil, elle dit au Juif de regarder les rayons qui pénétraient par
les ouvertures. Puis elle ajouta: "Y a-t-il plusieurs soleils qui passent par
les trous de ce crible, ou n’y en a-t-il qu’un seul?
Il n’y en a qu’un seul?
— Pourquoi t’étonnes-tu donc que Dieu, quoiqu’il soit invisible
et inaltérable, soit par un excès d’amour, réellement présent sur plusieurs
autels à la fois?"
Il n’en fallut pas davantage pour confondre le Juif, et le
forcer à confesser la vérité.
Oh! si nous avions un peu de foi, nous nous écrierions aussi,
dans la ferveur de notre âme: "Non, il n’est point de bornes à la divine
puissance." Sainte Thérèse avait de cette puissance une si haute idée, que
souvent elle répétait: "Plus les mystères de notre sainte religion sont élevés,
profonds, inaccessibles à l’intelligence humaine, plus il convient de les
admettre avec fermeté et amour: car nous savons que Dieu, dont le pouvoir est
infini, pourrait réaliser des prodiges plus grands encore."
Ravivez donc votre croyance, je vous en conjure, et confessez
que cet auguste Sacrifice est le miracle des miracles, la merveille des
merveilles, et que sa prérogative la plus étonnante consiste précisément à
dominer notre pauvre et court esprit.
Redites, dans votre admiration: "Oh! le rare, l’inappréciable
trésor!" — Si de telles considérations vous laissaient indifférent, voyez encore
à quel point la sainte Messe vous est nécessaire.
Nécessité de la sainte Messe pour apaiser la justice de Dieu.
Si le soleil n’éclairait pas le monde qu’arriverait-il? Il n’y
aurait plus que ténèbres, horreur, stérilité et misère. Et, sans le saint
Sacrifice de la Messe, que serions-nous? Nous serions privés de tout bien, en
butte à tous les maux et à tous les traits de la colère de Dieu. On s’étonne que
Dieu ait en quelque sorte changé sa manière de gouverner les hommes.
Autrefois il prenait le titre de Dieu des armées, il parlait
aux peuples au milieu des nuages et la foudre à la main, et il châtiait avec une
justice rigoureuse toutes les fautes.
Pour un seul adultère, il fit passer au fil de l’épée
vingt-cinq mille personnes de la tribu de Benjamin, pour le péché d’orgueil que
commit David en faisant le dénombrement de son peuple, il enleva en peu de temps
par la peste soixante mille personnes.
Pour un regard curieux et irrespectueux jeté sur l’arche par
les Bethsamites, il en fit massacrer plus de cinquante mille.
Et maintenant, il supporte avec patience, non seulement les
vanités et les légèretés, mais les adultères les plus criminels, les plus grands
scandales et les blasphèmes les plus horribles que vomissent à chaque instant
tant de chrétiens contre son saint Nom.
D'où vient cette différence dans la manière de gouverner les
hommes? Nos ingratitudes sont-elles plus excusables qu’autrefois?
Qui osera le dire? Les bienfaits immenses que nous avons reçus
nous rendent, au contraire, sans comparaison plus coupables… Le secret, la
raison d’une si touchante clémence, c’est à l’autel qu’il réside; c’est dans le
Sacrifice de Jésus immolé pour nous à la sainte Messe,
devenu notre victime d’expiation, qu’il faut le chercher. Oui,
voilà le soleil de l’Église catholique, qui dissipe les nuages et rend au ciel
sa sérénité; voilà l’arc-en-ciel qui apaise les tempêtes de l’éternelle Justice.
Pour moi, je n’en doute guère, sans la sainte Messe le monde
serait à cette heure au fond de l’abîme, entraîné par le poids épouvantable de
tant d’iniquités. La Messe, voilà le victorieux levier qui le soutient. Voyez
donc, après cela, à quel point le divin Sacrifice nous est indispensable.
Ce serait peu de le comprendre si on ne savait pas, lorsqu’il
en est besoin, chercher en lui ce qu’il nous offre. Lorsque nous assistons à la
sainte Messe, imitons ce que fit un jour le grand Alphonse d’Albuquerque,
conquérant des Indes.
L’historien Osorio raconte que cet illustre capitaine, se
trouvant avec une partie de son armée sur un navire que les fureurs de la mer
allaient faire sombrer, prit dans ses bras un petit enfant qui était là, et,
l’élevant vers le ciel: "Si nous autres sommes des pécheurs, ô mon Dieu,
s’écria-t-il, cette innocente créature ne vous a jamais offensé: au nom de son
innocence, épargnez les coupables!" Chose merveilleuse! le regard du Seigneur
s’arrête avec complaisance sur l’enfant, l’Océan s’apaise, le danger disparaît
et l’équipage change en cris de joie et d’action de grâces ses mortelles
angoisses.
Que fera donc pour nous Dieu le Père, alors que le prêtre,
élevant vers lui l’Hostie sacrée, lui présente avec elle son Fils, la parfaite
Innocence? Sa miséricorde pourra-t-elle nous refuser quelque chose?
pourra-t-elle résister à cette supplication, ne point calmer les flots qui nous
assaillent, ne point subvenir à toutes nos nécessités?
Ah! sans cette admirable et divine Victime, sacrifiée pour nous
sur la croix d’abord, et ensuite journellement sur nos autels, tout était fini,
tout était perdu, et chacun de nous pouvait dire à son frère expirant: "Au
revoir en enfer! l’enfer nous réunira!" Mais maintenant, enrichis de ce trésor
protecteur, le fruit de la sainte Messe entre les mains, nous surabondons
d’espérance; le Paradis est à nous, et une seule chose nous en écarterait, notre
perversité calculée.
Baisons-les donc avec amour, ces saints autels; brûlons autour
d’eux l’encens et les parfums; mais surtout environnons-les de vénération et de
respect, puisqu’ils nous procurent tant et de si précieux biens.
Avantages de la sainte Messe.
Elle nous permet de satisfaire à toutes nos obligations envers
la Justice divine. L’honnête et le sublime sont deux motifs très puissants sur
nos cœurs: mais de tous les motifs qui peuvent agir sur nous, l’utile est le
plus efficace, et il triomphe presque toujours de nos répugnances.
Si vous appréciez peu l’excellence et la nécessité de la Messe,
comment ne seriez-vous pas frappé de la très grande utilité qu’elle procure aux
vivants et aux défunts, aux justes et aux pécheurs, pendant la vie et à l’heure
de la mort, et même après celle-ci?
Représentez-vous que vous êtes ce débiteur de l’Évangile,
lequel ayant à payer dix mille talents, et étant appelé à rendre compte de son
administration, s’humilie, implore son créancier, et lui demande du temps pour
remplir ses engagements:
"Ayez patience et je vous rendrai tout ce que je vous dois."
Vous devez faire la même chose, vous qui avez contracté tant de
dettes envers la justice divine: humiliez-vous, demandez seulement le temps
d’entendre une Messe, et c’en est assez pour payer toutes vos dettes.
NOS QUATRE OBLIGATIONS
ENVERS DIEU.
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Saint Thomas nous dit que nous avons quatre obligations
principales envers Dieu, dont chacune est infinie.
La première est de louer et d’honorer son infinie majesté,
infiniment digne d’honneur et de louanges;
La seconde est de satisfaire pour tant de péchés que nous avons
commis;
La troisième, de le remercier pour tant de bienfaits que nous
avons reçus de lui;
La quatrième enfin, de lui demander les grâces qui nous sont
nécessaires.
Or, comment nous, misérables créatures, qui avons besoin qu’il
nous donne jusqu’au souffle que nous respirons, pourrons-nous satisfaire à
toutes ces obligations?
Voici un moyen très facile, qui doit nous consoler tous:
entendons souvent la sainte Messe, avec toute la dévotion dont nous sommes
capables, faisons dire souvent des Messes à notre intention, et nos dettes,
fussent-elles sans nombre, nous pourrons les payer toutes parfaitement, avec le
trésor que nous tirons du saint Sacrifice.
Pour que vous compreniez mieux les obligations que nous avons
envers Dieu, nous allons les expliquer l’une après l’autre, et vous serez
grandement consolés, en voyant l’immense profit et les trésors innombrables que
vous pouvez recueillir de cette source infinie et féconde.
1° GLORIFIER DIEU.
Notre première obligation envers Dieu est de l’honorer.
La loi naturelle nous dit elle-même que tout inférieur doit
honorer son supérieur, et que plus celui-ci est grand, plus l’hommage qu’on lui
rend doit être profond.
Il résulte de là que, Dieu possédant une grandeur infinie, nous
lui devons un honneur infini.
Mais où trouver une offrande digne de lui. Jetez les yeux sur
toutes les créatures de l’univers, où trouverez-vous quelque chose qui soit
digne de Dieu?
Il n’y a qu’un Dieu qui puisse être une offrande digne de Dieu.
Il faut donc qu’il descende de son trône comme victime sur nos autels, pour que
l’hommage corresponde parfaitement à sa Majesté infinie.
Or, c’est là ce qui se fait au saint Sacrifice; Dieu y est
honoré autant qu’il le mérite, parce qu’il est honoré par un Dieu lui-même.
Notre-Seigneur se plaçant dans l’état de victime sur l’autel,
adore, par un acte ineffable de soumission, la sainte Trinité, autant qu’elle
mérite de l’être; de sorte que tous les autres hommages paraissent, en présence
de cette humiliation de Jésus, comme les étoiles devant le soleil.
Le père saint Jure parle d’une sainte âme, qui, éprise d’amour
pour Dieu, soulageait son cœur par mille tendres désirs.
"Mon Dieu, lui disait-elle, je voudrais avoir autant de cœurs
et de langues qu’il y a de feuilles dans les arbres, d’atomes dans l’air et de
gouttes d’eau dans l’Océan, pour vous aimer et vous honorer autant que vous le
méritez.
"Oh! si j’avais toutes les créatures en mon pouvoir, je
voudrais les mettre à vos pieds, afin qu’elles fondent d’amour pour vous; mais
je voudrais vous aimer plus qu’elles toutes ensemble, plus que tous les anges,
plus que tous les saints, plus que tout le ciel."
Un jour qu’elle formait ce désir avec plus de ferveur que de
coutume, Notre-Seigneur lui répondit: "Console-toi, ma fille, car avec une seule
Messe que tu entendras dévotement, tu me rendras toute la gloire que tu désires
et infiniment plus encore."
Cette proposition vous étonne? Mais c’est à tort; car notre bon
Jésus étant non seulement homme, mais vraiment Dieu, et tout-puissant, quand il
s’humilie sur l’autel, il rend à son Père, par cet acte d’humiliation, un
hommage et un honneur infinis; et nous, en offrant avec lui ce grand Sacrifice,
nous rendons aussi par Lui à Dieu un hommage et un honneur infinis.
Oh! le grand prodige; répétons-le, car il est essentiel qu’on
s’en pénètre. Oui, oui, chrétiens, par l’assistance à la sainte Messe, le fidèle
rend à Dieu une gloire infinie, un honneur sans bornes.
Secouez votre torpeur, méditez tout émus cette vérité si
consolante et si douce: entendre avec dévotion la Messe, c’est procurer à votre
Dieu plus d’honneur que ne lui en peuvent apporter dans le ciel tous les anges,
tous les saints, tous les bienheureux. Ils ne sont, eux aussi, que de simples
créatures, et leurs hommages sont par conséquent finis et bornés; tandis qu’au
saint Sacrifice de la Messe, c’est Jésus-Christ qui s’humilie; Lui dont
l’humiliation et le mérite ont une valeur infinie: c’est pour cela que l’hommage
et l’honneur que nous rendons à Dieu par Lui, à la Messe, sont infinis.
S’il en est ainsi, vous voyez combien nous payons largement à
Dieu cette première dette, en assistant au saint Sacrifice.
Ô monde aveugle, quand ouvriras-tu les yeux pour comprendre des
vérités si importantes? Et vous, pourrez-vous dire encore: une Messe de plus ou
de moins, qu’importe?
2° SATISFAIRE POUR NOS PÉCHÉS.
Notre seconde obligation envers Dieu est de satisfaire à sa
justice, pour tant de péchés que nous avons commis.
Dette effroyable! Un seul péché mortel est d’un tel poids dans
la balance de Dieu, que pour le mettre en équilibre ce ne serait pas assez des
mérites de tous les martyrs et de tous les saints qui sont, qui ont été et qui
seront.
Mais nous possédons la sainte Messe, dont le prix intrinsèque
est assez grand pour compenser, et au delà, tous les péchés du monde.
Faites-y bien attention, afin de comprendre la reconnaissance
extrême que vous devez à Notre-Seigneur.
C’est lui-même qui est l’offensé: et malgré cela, non content
d’avoir payé pour vous dans les tortures du Calvaire, il vous a remis et il
entretient parmi vous, à votre usage, cette autre source de satisfaction
continuelle qui est: le saint Sacrifice.
Là il renouvelle l’immolation que sur la croix il fit de sa
Divine
Personne, en rachat de nos fautes; ce même sang adorable qu’il
répandit alors en faveur du genre humain coupable, il veut bien l’offrir encore,
l’appliquer spécialement, par la Messe, aux péchés de celui qui la célèbre, de
ceux qui la font célébrer et de quiconque y assiste.
Ce n’est pas que le Sacrifice de la Messe efface immédiatement
et par lui-même nos péchés comme fait le sacrement de pénitence; mais il nous
obtient de bonnes inspirations, de bons mouvements intérieurs et des grâces
actuelles pour nous repentir, comme il faut, de nos péchés, soit pendant la
Messe, soit dans un autre temps opportun.
Dieu seul sait combien d’âmes doivent leur conversion aux
secours extraordinaires qui leur viennent de ce divin Sacrifice.
Il ne sert point, il est vrai, comme sacrifice de propitiation
à ceux qui sont en état de péché mortel, mais il leur sert comme sacrifice
d’impétration; et tous les pécheurs devraient assister souvent à la Messe, afin
d’obtenir plus facilement la grâce de se convertir.
Quand aux âmes qui sont en état de grâce, le saint Sacrifice
leur donne une force merveilleuse pour s’y maintenir; et, selon l’opinion la
plus commune, il efface immédiatement tous les péchés véniels, pourvu qu’on s’en
repente au moins en général, comme le dit clairement saint Augustin:
"Si quelqu’un, dit-il, entend dévotement la Messe, il ne
tombera point dans le péché mortel, et les péchés véniels lui seront remis."
Et cela ne doit pas vous étonner: saint Grégoire raconte au
livre IV de ses Dialogues, ch. 27, qu’une pauvre femme faisait dire tous les
lundis une Messe pour l’âme de son mari, qui avait été fait esclave par les
barbares, et qu’elle croyait mort.
Or, chaque Messe lui faisait tomber les chaînes des pieds et
les menottes des mains, de sorte que, pendant tout le temps qu’elle durait, il
restait libre comme il l’avoua à sa femme dès qu’il eut recouvré sa liberté.
Combien plus devons-nous croire que cet auguste Sacrifice sera
très efficace, pour briser les liens spirituels des péchés véniels, lesquels
tiennent l’âme captive, et ne la lassent point agir avec cette liberté et cette
ferveur qu’elle aurait sans eux!
Oh! qu’il est précieux, cet adorable Sacrifice, qui nous rend
la liberté des enfants de Dieu, et satisfait pour toutes les peines que nous lui
devons à cause de nos péchés!
Il suffira donc, me direz-vous, d’entendre ou de faire dire une
seule Messe, pour payer à Dieu toutes les dettes que nous avons contractées
envers lui, à cause de nos péchés; car la Messe ayant une valeur infinie, elle
donne à Dieu une satisfaction infinie.
La Messe a, en effet, une valeur infinie: mais vous devez
savoir que Dieu l’accepte d’une manière limitée et proportionnée aux
dispositions de celui qui la dit ou la fait dire ou de ceux qui y assistent.
"Leur foi, Seigneur, vous est connue, leur dévotion est devant
vos yeux", dit l’Église dans les prières du Canon.
Et, par là, elle fait entendre ce qu’enseignent expressément
les Maîtres de la théologie, à savoir que la satisfaction plus ou moins grande
pour les peines dues à nos péchés est déterminée, dans l’application des mérites
du Sacrifice, par les dispositions et la ferveur du ministre et des assistants,
ainsi que je viens de l’expliquer.
Et ici, considérez la folie de ceux qui courent après les
Messes les plus expéditives, les moins édifiantes, ou bien, ce qui est pis, qui
s’y tiennent sans recueillement ou avec une dévotion presque nulle, ou bien
encore qui s’inquiètent peu, lorsqu’ils les font célébrer pour eux, de
s’adresser à un prêtre pieux et fervent.
Sans doute, en tant que sacrement, toutes les Messes ont la
même valeur: cependant, observe saint Thomas, elles ne sont plus égales s’il
s’agit des fruits qu’on en retire.
Plus la piété actuelle ou habituelle du célébrant sera grande,
plus le fruit de son application sera grand aussi.
Il faut dire la même chose de ceux qui assistent à la Messe; et
quoique je vous exhorte de tout mon pouvoir à y assister souvent, je vous
avertis néanmoins d’avoir moins d’égard au nombre de Messes qu’à la dévotion que
vous y apporterez; car si vous avez plus de piété dans une seule Messe qu’un
autre en cinquante, cette seule Messe donnera plus d’honneur à Dieu, et à vous
plus de profit, même de celui qu’elle produit ex opere operato , que n’en
retirera l’autre avec ses cinquante Messes.
"Dans la satisfaction, nous dit saint Thomas, on considère
plutôt les dispositions de celui qui offre que la quantité de l’oblation."
Il est certain, comme l’affirme un grave auteur, qu’une seule
Messe entendue avec une dévotion singulière, suffit pour satisfaire à la justice
divine, pour tous les péchés que nous avons commis, quelque grands et nombreux
qu’ils soient.
Et cette vérité est exprimée en termes formels par le saint
Concile de Trente.
"Le Seigneur, apaisé par cette oblation et accordant sa grâce
avec le don de la pénitence, remet les péchés, les crimes les plus graves."
Cependant, comme vous ne connaissez ni les dispositions
intérieures avec lesquelles vous assistez à la Messe, ni le degré de
satisfaction qui leur correspond, vous devez prendre vos sûretés le plus que
vous pouvez, en y assistant souvent, avec toute la dévotion possible.
Heureux, si vous y apportez une grande confiance dans la
miséricorde de Dieu, qui opère des choses merveilleuses en ce divin Sacrifice;
et si vous y assistez souvent avec recueillement et dévotion, vous pouvez alors
nourrir en votre cœur l’espoir d’aller au ciel sans passer par le Purgatoire.
Allez donc souvent à la Messe, et qu’on n’entende plus sortir de votre bouche
cette proposition scandaleuse: une Messe de plus ou de moins, qu’importe?
3° REMERCIER DIEU.
Notre troisième dette envers Dieu est celle de la
reconnaissance, pour les immenses bienfaits dont il nous a comblés. Réunissez
toutes les faveurs, toutes les libéralités, toutes les grâces que vous avez
reçues de lui: bienfaits selon la nature et selon la grâce, bienfaits du corps
et bienfaits de l’âme, vos sens, vos facultés, votre santé, votre vie; et puis
la vie même de Jésus son divin Fils et la mort qu’il a souffert pour nous:
toutes ces choses augmentent outre mesure notre dette envers Dieu.
Comment pourrons-nous donc le remercier dignement? Nous voyons
que la loi de la reconnaissance est observée par les bêtes féroces, qui
deviennent quelquefois dociles envers leurs bienfaiteurs.
À combien plus forte raison doit-elle être observée par les
hommes, doués d’intelligence, et comblés de tant de bienfaits par la libéralité
divine!
Mais d’un autre côté notre pauvreté est si grande, que nous ne
pouvons satisfaire pour le moindre des bienfaits reçus de Dieu; parce que le
moindre d’entre eux, nous venant d’une majesté si grande, et étant accompagné
d’une charité infinie acquiert un prix infini, et nous oblige à une
correspondance infinie.
Malheureux que nous sommes! Si nous ne pouvons soutenir le
poids d’un seul bienfait, comment pourrons-nous jamais supporter la masse de
ceux dont Dieu nous a comblés? Nous voilà donc réduits à la dure nécessité de
vivre et de mourir ingrats envers notre souverain Bienfaiteur.
Mais non: rassurons-nous. Le moyen de satisfaire amplement,
parfaitement, à ce nouveau devoir nous est indiqué par le prophète David, qui
avait vu en esprit le divin Sacrifice, et qui savait bien qu’avec lui seul nous
serions au-dessus de la tâche.
Que rendrai-je au Seigneur, s’écrie-t-il, pour tous les biens
qu’il m’a faits? Je prendrai le calice du salut, se répondit-il à lui-même; ou,
d’après une autre version, j’élèverai là-haut le calice du Seigneur,
c’est-à-dire je lui offrirai un Sacrifice très agréable, et je paierai aussi la
dette que je lui dois pour tant de bienfaits signalés.
Ajoutez à cela que ce Sacrifice a été principalement établi par
notre divin Sauveur pour reconnaître et remercier la munificence divine: c’est
pour cela qu’il s’appelle par excellence l’Eucharistie, c’est-à-dire action de
grâces.
Au reste, il nous en a donné lui-même l’exemple, lorsque à la
dernière cène, avant de consacrer le pain et le vin dans cette première Messe,
il leva les yeux au ciel, et rendit grâce à son
Père.
Ô remerciement divin, qui nous découvre la fin sublime d’un si
redoutable mystère, et qui en même temps nous invite à nous conformer à notre
Chef, afin que, à chaque Messe à laquelle nous assisterons, nous sachions nous
prévaloir d’un si grand trésor et l’offrir à notre éternel Bienfaiteur dans le
sentiment d’une immense gratitude; d’autant que le ciel tout entier, la sainte
Vierge, les anges et les saints nous voient avec joie payer à notre grand Roi ce
tribut de reconnaissance.
La vénérable sœur Françoise Farnèse, lisons-nous dans sa vie,
était tourmentée du souci de tout ce qu’elle avait reçu de Dieu et de
l’impuissance où elle se trouvait d’acquitter la dette de son cœur pénétré
d’amour.
Mais voici qu’un beau jour lui apparaît la très sainte Vierge:
elle dépose entre les bras de Françoise le divin Enfant et dit à sa servante:
"Prenez-le, ma fille; il est à vous: sachez seulement vous en servir pour ce qui
fait le sujet de vos inquiétudes: Jésus suffit à tout..."
Eh bien! dans la Messe, nous recevons non seulement entre nos
bras, mais dans notre cœur, le Fils de Dieu: un petit enfant nous a été donné,
dit Isaïe, et nous pouvons avec lui remplir entièrement la dette de
reconnaissance que nous avons contractée envers Dieu.Et même, à bien considérer
les choses, nous donnons en quelque sorte à Dieu dans la Messe plus qu’il ne
nous a donné, sinon en réalité, du moins en apparence; car le Père éternel ne
nous a donné qu’une fois son divin Fils dans l’Incarnation, et nous le lui
rendons un nombre infini de fois dans cet auguste Sacrifice.
Et ainsi jusqu’à un certain point, Dieu serait en retour avec
nous, sinon quant à la qualité de l’offrande, car il ne se peut rien de
supérieur au Fils de Dieu, du moins quant à la multiplicité des actes qui la lui
présentent en satisfaction.
Ô Dieu grand et miséricordieux! Que n’avons-nous un nombre
infini de langues afin de vous rendre des actions de grâces infinies, pour le
trésor précieux que vous nous avez donné dans la sainte Messe!
Comprenez-vous maintenant combien ce trésor est précieux? S’il
a été caché pour vous jusqu’ici, maintenant que vous commencez à le connaître,
comment ne vous écrieriez-vous pas, dans un saint étonnement: Oh! quel grand
trésor! quel grand trésor!
4° DEMANDER LES GRÂCES DONT NOUS AVONS BESOIN.
Mais ce n’est pas tout: nous pouvons encore dans le saint
Sacrifice de la Messe nous acquitter de notre dernière obligation envers Dieu,
c’est-à-dire lui demander les grâces dont nous avons besoin.
Nous connaissons par une triste expérience, les désolantes
misères auxquelles l’homme est soumis, dans le corps aussi bien que dans l’âme,
et par conséquent le besoin que nous avons de l’appui et du paternel secours de
Dieu, à tout moment, en toute circonstance. Lui seul est l’auteur et le principe
de tout bien, temporel ou spirituel.
Mais d’un autre côté, au nom de quoi, avec quelle espérance
solliciteriez-vous de sa miséricorde de nouveaux dons, lorsque telle a été votre
insensibilité, votre ingratitude pour des faveurs qu’il vous a déjà prodiguées,
ingratitude qui est allée à cet excès de tourner le bienfait même contre le
bienfaiteur?
Ici encore, néanmoins, ne perdez pas confiance; reprenez tout
espoir. Vous n’êtes pas dignes de ces biens que vous souhaitez et dont vous
sentez la nécessité; mais le miséricordieux Sauveur accourt se faire votre
intercesseur, se constituer votre caution.
Pour vous il a acquis des mérites infinis, pour vous il devient
à la Messe l’hostie pacifique, c’est-à-dire la Victime auguste à l’immolation de
laquelle notre Père des Cieux ne peut rien refuser. Oui, dans la sainte Messe,
l’adorable, le bien-aimé Jésus, à titre de principal et de souverain prêtre
prend en main notre cause, intercède pour nous, se fait notre puissant avocat.
N’oublions pas que Marie, elle aussi, joint ses supplications aux nôtres pour
tout ce que la foi nous porte à demander à Dieu.
Que faut-il de plus à qui veut être exaucé? La confiance,
l’espoir ferme et assuré vous manqueront-ils quand vous songerez qu’à l’autel
c’est Jésus-Christ qui parle pour vous, qui pour vous offre son Sang très
précieux, qui prend en un mot le rôle de divin intermédiaire?
— Ô Messe bénie, source de tous les bienfaits et de tous les
dons!
Mais il faut creuser bien avant cette mine afin de découvrir
les grands trésors qu’elle renferme. Oh! que de grâces, de dons et de vertus
nous obtient le saint Sacrifice!
Nous y obtenons d’abord toutes les grâces spirituelles, tous
les biens de l’âme, le repentir de nos péchés, le triomphe des tentations qui
nous viennent, soit du dehors, de la part des mauvaises compagnies et des démons
de l’enfer, ou du dedans, de la part de notre chair rebelle.
Nous y obtenons les grâces nécessaires pour nous convertir, ou
pour nous maintenir dans la grâce et avancer dans les voies de Dieu; nous y
obtenons de saintes inspirations et des mouvements intérieurs, qui nous
disposent à secouer notre tiédeur, et nous portent à agir avec plus de ferveur,
avec une volonté plus prompte, une intention plus droite et plus pure, et c’est
là un trésor inestimable, ces moyens étant très efficaces pour obtenir de Dieu
la persévérance finale, d’où dépend notre salut, et cette assurance morale que
l’on peut avoir ici-bas de la béatitude éternelle.
Nous y obtenons encore les biens temporels, autant qu’ils
peuvent concourir à notre salut: la santé, l’abondance, la paix, avec
l’exclusion de tous les maux qui s’opposent au bien de notre âme tels que la
peste, les tremblements de terre, la guerre, la famine, les persécutions, les
procès, les inimitiés, les calomnies, les injures: en un mot, le saint Sacrifice
de la Messe est propre à nous délivrer de tous les fléaux, à nous enrichir de
tous les biens.
Il est la clé d’or du paradis: quels biens pourrait nous
refuser le Père éternel, après nous l’avoir donnée? Celui qui n’a pas épargné
son propre Fils, dit saint Paul aux Romains, mais l’a livré pour nous tous,
comment ne nous aurait-il pas donné tout avec lui?
Il avait donc bien raison, ce saint prêtre dont un auteur nous
rapporte qu’il disait souvent: "Lorsque au saint autel je demande à Dieu, pour
moi ou pour d’autres, quelque faveur insigne, la plus extraordinaire des grâces,
il me semble ne rien demander, en comparaison de ce que j’offre moi-même?"
Et il ajoutait, expliquant sa pensée: "Toutes les grâces que je
puis solliciter à la sainte Messe sont des biens créés et finis, pendant que mon
offrande est sans limite et incréée. Ainsi, en faisant arithmétiquement nos
comptes, c’est moi qui suis le créancier, Dieu reste mon débiteur."
C’est pourquoi il demandait de grandes grâces, et il obtenait
beaucoup de Dieu. Pourquoi n’en faites-vous pas autant? Si vous suivez mon
conseil, vous demanderez à Dieu, toutes les fois que vous assisterez à la Messe,
qu’il fasse de vous un grand saint. Ne craignez pas que ce soit trop demander.
Notre bon Maître ne nous dit-il pas dans l’Évangile que, pour
un verre d’eau donné en son nom, il nous donnera le Paradis?
Comment ne nous donnerait-il pas cent fois davantage, si
c’était possible, lorsque nous lui offrons tout le Sang de son Fils bien-aimé?
Comment pouvez-vous douter qu’il vous donne toutes les vertus
et toutes les perfections nécessaires, pour faire de vous un grand saint?
Dilatez donc votre cœur, et demandez à Dieu de grandes choses;
car Celui que vous invoquez ne s’appauvrit point en donnant, et plus vous
demanderez, plus vous obtiendrez.
Autres bienfaits de la Messe.
Mais ce n’est pas tout encore: outre les biens que nous
demandons à la Messe, Dieu nous en accorde beaucoup d’autres, sans que nous les
lui demandions, pourvu que nous n’y mettions point d’obstacle de notre côté.
On peut donc dire que la Messe est pour le genre humain comme
un soleil qui répand ses splendeurs sur les bons et sur les méchants, et qu’il
n’y a point d’âme, si criminelle qu’elle soit, qui n’en remporte quelque grand
bien, souvent même sans le demander, et encore plus sans y penser, comme il
arriva dans le cas raconté par saint Antonin.
Deux jeunes libertins, dont l’un avait entendu la Messe le
matin, étant sortis un jour, pour aller se promener dans un bois, furent
assaillis par une violente tempête.
Ils entendirent au milieu du tonnerre et des éclairs une voix
qui criait: tue, tue.
Celui qui n’avait point entendu la Messe, fut aussitôt frappé
par la foudre et mourut; l’autre, épouvanté, continua sa course, cherchant un
lieu de refuge, lorsqu’il entendit de nouveau la même voix répéter ces paroles:
tue, tue.
Comme il attendait la mort, il entendit une autre voix crier:
Je ne puis, je ne puis, car il a entendu aujourd’hui le Verbum caro factum
est; la Messe à laquelle il a assisté m’empêche de le frapper.
Combien de fois, par la sainte Messe, Dieu vous a-t-il préservé
de la mort, ou du moins d’imminents périls!
C’est ce que nous assure saint Grégoire, lorsqu’il nous dit au
livre IV de ses Dialogues: "Celui qui entend la sainte Messe est délivré de
beaucoup de maux et de dangers."
Saint Augustin va plus loin encore: "Celui qui entend
dévotement la Messe, nous dit-il, ne périra point de mort subite."
Voilà donc un préservatif admirable pour nous préserver de ce
malheur: c’est d’assister tous les jours à la Messe avec dévotion. Au dire de
saint Grégoire, "le juste qui entend la Messe se maintient dans la justice."
Ce n’est pas assez, il croît toujours davantage en mérites, en
grâces et en vertus, et plaît toujours davantage à Dieu. Bien plus, reprend
saint Bernard: "Celui qui entend ou célèbre dévotement la Messe mérite bien plus
que s’il donnait tous ses biens aux pauvres et parcourait le monde entier en
pèlerinage."
Ces paroles s’entendent de la valeur intrinsèque du saint
Sacrifice.
Quels trésors immenses renferme-t-il donc?
Comprenez bien cette vérité: en considérant le saint Sacrifice
en lui-même et selon sa valeur intrinsèque, on peut dire que l’on mérite plus,
en entendant ou célébrant une seule Messe, que si l’on distribuait tous ses
biens aux pauvres, et si l’on parcourait le monde entier en pèlerinage, visitant
avec une grande dévotion les sanctuaires de Jérusalem, de Rome, de Lorette, de
Compostelle, etc.
Saint Thomas nous en donne la raison: "C’est que, dit-il, la
Messe renferme tous les fruits, toutes les grâces et tous les trésors que le
Fils de Dieu a répandus si abondamment sur son Église, dans le Sacrifice
sanglant de la croix."
Arrêtez-vous ici un instant, fermez le livre, et réunissez par
la pensée tous les biens et tous les fruits que procure la sainte Messe;
considérez-les en silence, et dites-moi ensuite si vous hésitez à croire qu’une
seule Messe, quant à sa valeur intrinsèque, est tellement efficace, qu’au dire
de plusieurs docteurs, elle suffirait pour obtenir le salut de tout le genre
humain.
Supposez que Notre-Seigneur Jésus-Christ n’ait point souffert
sur le Calvaire, et qu’au lieu du Sacrifice sanglant de la croix, il ait
institué seulement celui de l’autel, mais avec l’ordre formel qu’il ne se
célébrât qu’une seule Messe dans le monde entier.
Eh bien! cette supposition une fois admise, il est très vrai
que cette seule Messe célébrée par le dernier prêtre du monde, aurait suffi,
considérée en elle-même et dans sa valeur intrinsèque, pour obtenir de Dieu le
salut de tous les hommes.
Oui, dans cette hypothèse, une seule Messe suffirait pour
obtenir la conversion de tous les Turcs, de tous les hérétiques, de tous les
schismatiques, en un mot, de tous les infidèles et de tous les mauvais
chrétiens, pour fermer les portes de l’enfer à tous les pécheurs, et ouvrir
celles du purgatoire à toutes les âmes qui souffrent.
Mais, hélas! malheureux que nous sommes, nous bornons la sphère
immense de cet auguste Sacrifice, et le rendons inefficace par notre tiédeur.
Ah! je voudrais pouvoir me faire entendre de tous les hommes,
pour leur dire: malheureux, que faites-vous? Que ne courez-vous tous dans les
églises, pour entendre dévotement autant de Messes que vous pouvez?
Pourquoi n’imitez-vous pas les anges, qui, au dire de saint
Jean Chrysostome, descendent en foule du ciel, pendant qu’on célèbre la sainte
Messe et se tiennent auprès de l’autel, dans un saint respect, attendant que la
Messe commence, afin d’intercéder pour nous plus efficacement: car ils savent
bien que c’est là le temps le plus opportun et le moment le plus propice pour
obtenir les grâces du ciel.
Confondez-vous donc, et rougissez d’avoir si peu apprécié
jusqu’ici la sainte Messe, d’avoir même profané tant de fois une action si
sainte.
Vous avez bien plus sujet encore de rougir, si vous êtes du
nombre de ceux qui sont assez téméraires pour dire qu’une Messe de plus ou de
moins, c’est peu de chose.
La Messe et les Âmes du purgatoire
Je vous prie de remarquer que ce n’est pas sans intention que
j’ai dit plus haut qu’une seule Messe, en ne considérant que sa valeur
intrinsèque, suffit pour ouvrir les portes du Purgatoire à toutes les âmes qui y
souffrent et les faire entrer au ciel: car ce divin
Sacrifice sert aux défunts, non seulement comme propitiatoire,
pour payer les peines qu’ils doivent à la justice de Dieu, mais encore comme
impétratoire, pour en obtenir la rémission.
Comme on le voit par la coutume de l’Église, laquelle non
seulement offre la Messe pour les âmes du Purgatoire, mais y prie encore pour
leur délivrance.
Afin d’exciter votre compassion en faveur de ces saintes âmes,
considérez donc que le feu où elles souffrent égale, au dire de saint Grégoire,
celui de l’enfer, et que, comme instrument de la justice divine, il agit avec
une telle puissance, qu’il leur cause des peines insupportables, et supérieures
à tous les tourments qui se peuvent imaginer dans ce monde.
Elles souffrent bien plus encore de la privation de la vue de
Dieu, comme le dit le docteur angélique; l’impossibilité où elles sont de voir
ce souverain Bien, vers lequel elles aspirent, les plonge en des angoisses
intolérables.
Rentrez ici un peu en vous-mêmes. Si vous voyiez votre père ou
votre mère près de se noyer dans un étang, et que pour les délivrer vous
n’eussiez qu’à leur tendre la main, ne seriez-vous pas obligé par charité, et
par justice en même temps, à le faire?
Or, vous voyez des yeux de la foi tant de pauvres âmes, parmi
lesquelles se trouvent peut-être vos plus proches parents, brûler dans un étang
de feu, et vous ne vous astreindriez pas à entendre dévotement pour elles une
seule Messe?
Où est donc votre cœur? Qui peut douter que la Messe procure un
soulagement considérable à ces pauvres âmes?
Écoutez saint Jérôme, un des grands docteurs de l’Église, qui
vous dit expressément que, lorsqu’on célèbre le très saint Sacrifice pour une
âme du Purgatoire, ce feu dévorant suspend ses rigueurs, et que, tout le temps
que dure la Messe, le supplice s’arrête.
Il affirme en outre, qu’à chaque Messe il en est beaucoup qui
sortent du lieu d’expiation pour voler aux joies du Paradis.
Ajoutez à cela que votre charité envers les âmes du Purgatoire
tournera tout entière à votre profit.
Je pourrais vous apporter en preuve une multitude d’exemples
mais je me contenterai de vous raconter un seul fait arrivé à saint Pierre
Damien.
Étant resté orphelin, dans un âge encore tendre, il fut
recueilli par un de ses frères, qui le maltraitait d’une manière incroyable,
jusqu’à le faire marcher pieds nus, et le laisser dans une extrême pénurie de
toutes choses.
Il trouva un jours en chemin je ne sais quelle monnaie; il
croyait avoir en main un trésor. Mais qu’en faire?
La nécessité où il était lui suggérait bien des moyens de
l’employer, cependant, après y avoir bien pensé, il résolut d’aller porter cette
monnaie chez un prêtre, et de lui demander une Messe pour les âmes du
Purgatoire.
À partir de ce moment, sa fortune changea: il fut recueilli par
un autre frère, meilleur que le premier, qui l’aima comme son fils, le vêtit
avec décence, l’envoya à l’école, après quoi il devint ce grand homme et ce
grand saint, qui orna la pourpre et soutint l’Église.
Voyez de quels biens cette Messe et la privation qu’il s’imposa
furent pour lui la source.Oh! quel précieux trésor, qui sert aux morts et aux
vivants, dans le temps et dans l’éternité en même temps.
Ces saintes âmes, en effet, sont si reconnaissantes envers
leurs bienfaiteurs, qu’une fois arrivées au ciel, elles se font leurs avocates,
et ne se donnent de repos qu’après les avoir vus en possession de la gloire:
comme l’éprouva ici-même, à Rome, une femme qui, oubliant son salut éternel, et
esclave de ses passions, n’était occupée qu’à faire tomber dans ses filets la
jeunesse imprudente.
La seule bonne chose qu’elle fît, c’est qu’il ne se passât pas
de jours, où elle ne fît célébrer quelques Messes pour les âmes du Purgatoire.
Celles-ci prièrent sans doute avec tant de zèle pour leur
bienfaitrice, que, rougissant un jour de ses péchés, elle renonça à sa vie
criminelle, alla trouver un prêtre, lui fit une confession générale, et mourut
peu de temps après, bien disposée, laissant à tous les signes évidents de son
salut éternel.
Cette grâce extraordinaire, elle la dut aux Messes qu’elle
avait fait célébrer pour les âmes du Purgatoire.
Réveillons-nous donc, nous aussi, et ne nous laissons pas
précéder dans le royaume de Dieu par les publicains et les femmes perdues.
Nos devoirs envers les défunts.
Si vous étiez du nombre de ces avares, lesquels non seulement
manquent à la charité, en omettant de prier pour les défunts, et d’assister à la
Messe pour ces pauvres âmes affligées, mais qui de plus foulant aux pieds les
droits les plus sacrés, refusent de remplir les legs pieux que leur ont laissés
leurs parents, et de faire dire les Messes qu’ils ont mises à leur charge dans
leur testament:
Oh! alors, je vous dirais, enflammé d’un saint zèle: allez,
allez, vous êtes pires que les démons; car ceux-ci ne tourmentent que les
damnés; mais vous, vous tourmentez les élus; ils sont cruels à l’égard des
réprouvés, mais vous l’êtes à l’égard des prédestinés.
Non, il n’y a pour vous ni confession ni absolution, si vous ne
faites pénitence d’un aussi grand péché, et si vous ne remplissez toutes vos
obligations à l’égard des défunts.
Je ne le puis, me direz-vous, mes moyens ne le permettent pas.
Vos moyens ne vous le permettent pas?
Vous savez bien trouver de l’argent pour paraître dans le
monde, pour satisfaire votre luxe: vous savez bien en trouver pour ces festins,
pour ces dépenses folles et souvent criminelles; et quand il s’agit d’acquitter
vos dettes, non seulement avec les vivants, mais encore avec les pauvres
défunts, vous n’avez plus rien.
Ah! je vous comprends; il n’y a personne pour vous demander
compte de votre conduite, mais Dieu vous le demandera plus tard.
Employez à d’autres usages l’argent que vous ont laissé les
défunts pour des œuvres pies, mais je vous annonce de la part du Roi-Prophète
des disgrâces sans nombre, des maladies, des banqueroutes, des traverses, des
ruines irréparables dans votre fortune, dans votre honneur et dans votre vie.
C’est un oracle divin, il ne peut manquer d’avoir son effet:
Ils ont dissipé les sacrifices des morts, et les calamités se sont multipliées.
Oui, oui, des malheurs, des ruines irréparables à ces familles
qui ne remplissent point les obligations qu’elles ont envers les défunts.
Parcourez cette ville (la ville de Rome), et voyez combien de
familles dispersées, de maisons ruinées, de boutiques fermées, d’affaires
interrompues, de faillites, de disgrâces et de malheurs de toute sorte.
Quelle est la cause de toutes ces calamités? Une des causes
principales, c’est la dureté envers les pauvres défunts, la négligence à remplir
les legs pieux, la cruauté avec laquelle on refuse aux âmes du Purgatoire le
soulagement qu’on leur doit.
C’est pour cela qu’il se commet tant de sacrilèges, et que la
maison de Dieu est devenue, comme le dit Notre-Seigneur Jésus-Christ, une
caverne de voleurs.
Ne vous étonnez pas si Dieu fait pleuvoir ses foudres sur la
terre, et nous menace de guerre, de tremblements de terre, et de calamités de
toute sorte.
La cause, la voici: Ils ont dissipé les sacrifices des morts,
et les calamités se sont multipliées sur leurs têtes.
C’est donc avec raison que le quatrième concile de Carthage
excommunie ces ingrats comme de vrais homicides, et que le concile de Valence
ordonne de les chasser de l’Église comme des infidèles.
Encore n’est-ce pas là le plus grand des châtiments dont Dieu
punit ces âmes insensibles.
C’est dans l’autre vie qu’il réserve ses plus grands supplices;
car saint Jacques nous enseigne qu’un jugement sans miséricorde est réservé à
celui qui n’a point fait miséricorde.
Dieu permettra qu’ils soient traités de la même manière qu’ils
ont employée envers les autres, c’est-à-dire que leurs dernières volontés seront
violées aussi, qu’on ne célébrera point les Messes qu’ils auront ordonnées par
testament pour assurer leur délivrance; que si on les célèbre, le mérite en sera
appliqué à d’autres qui pendant leur vie auront été plus charitables et plus
justes envers les défunts.
On lit dans les Chroniques des Frères Mineurs, qu’un frère
apparut après sa mort à un autre religieux, et lui révéla les supplices affreux
qu’il endurait au Purgatoire, particulièrement pour avoir négligé de prier pour
les autres frères défunts.
Il lui dit que jusqu’ici le bien qu’on avait fait pour lui, les
Messes qu’on avait dites ne lui avaient servi de rien, parce que Dieu, pour
punir sa négligence, les avait appliquées à d’autres qui avaient été pendant
leur vie charitables envers les âmes du
Purgatoire, et cela dit, il disparut.
RÉSOLUTIONS À PRENDRE:
1° Faire dire beaucoup de Messes pour les âmes du Purgatoire
et pour toutes nos intentions.
Je vous supplie donc, cher lecteur, à genoux et de toute mon
âme, de ne pas fermer ce livre avant d’avoir pris la ferme résolution d’assister
autant que vos occupations vous le permettent, au saint Sacrifice de la Messe,
et de faire dire autant de Messes que vous le pourrez, non seulement pour les
âmes des défunts, mais encore pour la vôtre. Et cela pour deux motifs:
2° Pour obtenir une bonne et sainte mort; car c’est
l’opinion de tous les saints Docteurs, qu’il n’y a point de moyen plus efficace
pour cela que le Saint Sacrifice de la Messe.
Notre-Seigneur Jésus-Christ a révélé à sainte Mechtilde, que
celui qui aura eu la pieuse coutume d’assister dévotement à la Messe pendant sa
vie, sera consolé à la mort, par la présence des anges et de ses saints patrons,
qui le défendront contre toutes les embûches des démons.
Oh! quelle belle mort couronnera votre vie, si pendant
celle-ci, vous avez eu soin d’assister à la Messe, toutes les fois que vous
l’aurez pu!
3° L’autre motif, c’est que vous mériterez par là de sortir
promptement du Purgatoire, et de vous envoler au ciel; car il n’y a pas de
moyen plus efficace pour obtenir de Dieu la grâce si précieuse d’aller droit au
ciel sans passer par le Purgatoire, ou du moins de rester peu de temps en ce
lieu, que les indulgences et le saint Sacrifice de la Messe.
Quand aux indulgences, les souverains pontifes en ont été
prodigues envers ceux qui entendent dévotement la sainte Messe.
Nous avons suffisamment démontré plus haut combien elle est
efficace pour hâter la rémission des peines du Purgatoire.
L’exemple et l’autorité de Jean d’Avila devraient nous suffire
pour nous en persuader.
Ce grand serviteur de Dieu, qui fut l’oracle de l’Espagne,
étant sur le point de mourir, on lui demanda quelle sorte de secours il désirait
qu’on ménageât à son âme lorsque le Seigneur l’aurait rappelée à lui: "Des
Messes, des Messes, des Messes."
Permettez-moi de vous donner à ce sujet un conseil d’un grand
poids; c’est de faire dire pendant votre vie toutes les Messes que vous voulez
que l’on dise pour vous après votre mort, et de ne point vous fier a ceux que
vous laissez en ce monde après vous.
D’autant plus que saint Anselme nous apprend qu’une seule Messe
que vous aurez entendue, ou fait dire pour vous, pendant que vous vivez, vous
sera plus profitable que mille après votre mort.
Cette vérité fut bien comprise d’un riche marchand de la
rivière de Gênes, lequel étant sur le point de mourir, ne laissa rien pour le
soulagement de son âme.
Tout le monde était étonné qu’un homme si riche, si pieux, si
généreux envers tous, se fût montré à sa mort si cruel envers lui-même.
Mais lorsqu’il fut enterré, on trouva dans son livre le détail
de tout le bien qu’il avait fait pendant sa vie, pour le soulagement de son âme.
Deux mille francs pour deux mille Messes; dix mille francs pour
doter de pauvres orphelines, deux cents francs pour tel lieu pieux, etc. Et à la
fin du livre il avait écrit: "Que celui qui se veut du bien se le fasse pendant
sa vie, et ne se fie point à ceux qu’il laisse après lui."
On connaît ce proverbe: qu’une chandelle que l’on porte devant
nous éclaire plus qu’une torche derrière.
Tirez profit de cette sentence, et considérant l’excellence et
l’utilité de la sainte Messe, déplorez l’aveuglement où vous avez vécu
jusqu’ici, en n’estimant point assez ce trésor précieux, qui a été pour vous,
hélas! un trésor caché.
Maintenant que vous en connaissez la valeur, ne vous permettez
plus de penser, et moins encore de dire, qu’une Messe de plus au de moins, c’est
peu de chose.
Renouvelez, au contraire, votre sainte résolution d’entendre, à
partir de ce jour, autant de Messes que vous en pourrez trouver l’heureuse
occasion, et de les entendre avec les sentiments d’une vraie piété.
Que la bénédiction de Dieu descende aujourd’hui sur vous. Ainsi
soit-il.
4° Assister souvent à la Messe, et si possible, tous les
jours.
Ceux qui font des difficultés d’assister tous les jours à la
Messe trouvent bien des prétextes pour excuser leur tiédeur.
Lorsqu’il s’agit des misérables intérêts de cette terre, vous
les trouvez pleins de zèle, d’ardeur et d’activité.
Toute fatigue est légère alors; aucune incommodité ne les
retient.
Mais lorsqu’il est question d’assister à la Messe, quoiqu’il
n’y ait aucune affaire plus importante que celle-ci, ils sont froids et sans
volonté, ils savent trouver mille prétextes frivoles pour s’en dispenser; ils
mettent en avant des occupations graves, leur peu de santé, des intérêts de
famille, le manque de temps, la multitude de leurs affaires, etc.
En un mot, si la sainte Église ne les obligeait sous peine de
péché mortel, à entendre la Messe au moins les jours de fêtes, Dieu sait s’ils
visiteraient jamais une église, s’ils ploieraient jamais les genoux devant un
autel.
Quelle honte, et quel malheur en même temps.
Ah! combien nous sommes déchus de la ferveur de ces premiers
fidèles lesquels, comme nous l’avons vu plus haut, assistaient chaque jour au
saint Sacrifice, et se nourrissaient du pain des anges dans la sainte communion.
Et cependant ils avaient aussi leurs affaires; mais c’est
précisément par le moyen de cette pieuse pratique qu’ils savaient si bien
ménager leurs intérêts spirituels et temporels
Monde aveugle, quand ouvriras-tu les yeux pour reconnaître ton
erreur? Réveillons-nous tous de notre torpeur, et que notre dévotion la plus
chère soit d’entendre chaque jour la sainte Messe, et d’y faire la sainte
communion.
Pour obtenir un but aussi saint, je ne connais point de moyen
plus efficace que l’exemple; car c’est une maxime irréfutable que nous vivons
tous d’exemples, et trouvons facile ce que nous voyons faire à ceux qui sont
comme nous.
Saint Augustin lui-même s’encourageait en se disant: "Quoi, tu
ne pourrais pas ce qu’ont pu ceux-ci ou ceux-là?"
Et après avoir pris modèle sur de plus pieux que nous, devenons
nous-mêmes des exemples! Quels fruits ne recueillerons-nous pas du bien que nous
aurons ainsi fait aux autres, même à notre insu.
La Messe et les Honoraires.
Je voudrais conclure par deux remarques très opportunes.
La première, c’est l’ignorance profonde d’un grand nombre de
chrétiens, lesquels n’appréciant point les richesses immenses que renferme le
saint Sacrifice, lui attribueraient volontiers une valeur purement matérielle.
De là viennent ces manières de parler de certaines personnes,
qui, voulant avoir une Messe, ne craignent pas de dire au prêtre à qui elles la
demandent.
"Voulez-vous dire la Messe pour moi, ce matin? Je vais vous la
payer?"
Comment, payer la Messe! Mais quelle somme pourrait égaler la
valeur d’une Messe, puisque celle-ci vaut plus que le ciel tout entier?
Quelle ignorance lamentable!
Cet argent que vous donnez au prêtre, vous le lui donnez pour
le faire vivre, mais non comme paiement de la Messe qu’il dit pour vous.
Je vous ai engagé, dans cette brochure, il est vrai, à assister
tous les jours au saint Sacrifice, et à faire dire autant de Messes que vous
pouvez.
Or, je m’imagine que le démon peut très bien vous suggérer des
réflexions comme celle-ci: "Les prêtres nous exhortent par de bonnes raisons à
faire dire beaucoup de Messes. Mais sous l’apparence d’un beau zèle, ils
cherchent leur intérêt, et tout se fait et tout se dit pour de l’argent.
Quelle erreur! Je remercie Dieu de m’avoir fait embrasser un
institut, où l’on professe la plus stricte pauvreté, où l’on ne reçoit aucune
aumône pour les Messes.
Nous offrît-on cent écus pour en dire une, nous ne pourrions
les accepter.
Je puis donc vous parler hardiment sans craindre ni vos
soupçons, ni vos accusations; car étant désintéressé dans cette question, je ne
puis avoir en vue que votre bien.
Or, ce que je vous ai dit, je vous le répète encore. Entendez
beaucoup de Messes, je vous prie, et faites-en dire le plus que vous pourrez;
vous acquerrez ainsi un grand trésor qui vous profitera en ce monde et dans
l’autre.
La seconde vérité dont vous devez être bien pénétrés, c’est
l’efficacité du saint Sacrifice pour nous obtenir tous les biens, et nous
délivrer de tous les maux, mais particulièrement pour nous ranimer dans nos
défaillances et nous fortifier contre les tentations.
Laissez-moi donc vous répéter: allez à la Messe, allez à la
Messe tous les jours, si cela vous est possible, et compatible avec les devoirs
de votre état, mais assistez-y avec une grande dévotion.
Vous éprouverez en peu de temps, je vous l’assure, un
changement merveilleux en vous-mêmes, et toucherez de la main, pour ainsi dire,
le bien qu’en retirera votre âme.
FIN
Nihil obstat Parisiis, die 18e oct. 1933 A. Gabon
Imprimatur : Lutetiæ Parisiorum,
die 19e octobris 1933 V. Dupin, v. g.
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