sexta-feira, 2 de novembro de 2012

As Excelências da Santa Missa – São Leonardo de Porto Maurício. A Santa Missa Salva Almas



 




Para concluir esta instrução, refleti que não foi premeditado desígnio que disse anteriormente que uma única Santa Missa, tomada em si e em relação ao seu valor intrínseco, basta para esvaziar inteiramente o Purgatório e abrir a todas as almas, que lá se acham, as portas do Paraíso.


Com efeito, este Divino Sacrifício vai em auxílio das lamas dos falecidos, não só satisfazendo por suas dívidas como propiciatório, mas ainda obtendo-lhes a libertação, como impetratório. Isto decorrente claramente da conduta da Igreja, que não somente oferece a Santa Missa pelas almas sofredoras, como também insere orações para libertá-las.


Ora, a fim de excitar vossa compaixão por essas santas almas, sabei que o fogo em que estão mergulhados é tão devorador quanto o do próprio Inferno. Tal é a opinião de São Gregório. Instrumento da Justiça Divina, ele age sobre as almas com tão grande ardor, que lhes causa dores intoleráveis e superiores a todos os suplícios que jamais se pode ver, experimentar ou sequer imaginar aqui na Terra.


Muito mais, porém, sofrem elas pela pena de dano, e é, a privação da bem-aventurada visão de DEUS. Elas experimentam, diz São Tomás, uma insuportável angústia, causada pelo desejo que têm de ver o Soberano Bem, desejo que não pode ser satisfeito.


Pois bem, consulta-vos intimamente e respondei à pergunta: Se vísseis vosso pai e vossa mãe a ponto de afogar-se num lago e que para salvá-los vos bastasse estender a mão, não seríeis levados, pela caridade e pela Justiça, a socorrê-los!?


E então! vedes com os olhos da Fé tantas pobres almas de vossos parentes próximos, queimando vivas num lago de fogo, e não quereis impor-vos um pequeno incômodo para assistir devotamente à uma Santa Missa em seu sufrágio. De que é feito o vosso coração? Pois quem pode duvidar que a Santa Missa leve um grande auxílio a essas pobres almas? Quanto a isto, ouvi São Jerônimo. Ele vos dirá claramente que, ao celebrar-se a Santa Missa por uma alma do Purgatório, o fogo tão devorante que ordinariamente a consome, suspende sua ação e ela não sofre pena alguma enquanto dura o Sacrifício.

Animae quae sunt in Purgatorio pro quibus solet sacerdos in Missa orare, ínterim nullum tormentum sentiunt dum Missa celebratur.


Além disso, afirma que, a cada Santa Missa, muitas almas ficam livres do Purgatório e voam para o Paraíso? Missa celebrata, plures animae exeunt de Purgatório. Acresce que esta caridade, exercida em favor das pobres almas, redundará inteiramente em vosso proveito.


Infinidade de exemplos poderia eu apresentar-vos em apoio desta afirmação. Contentar-me-ei com um fato perfeitamente autêntico, acontecido com São Pedro Damião. Criança ainda, ele perdeu o pai e foi recolhido na casa de um dos irmãos, que o tratava com muita desumanidade a ponto de deixá-lo andar descalço, em andrajos e lhe faltando tudo.

Sucedeu que um dia o menino achou, na rua, uma moeda qualquer. Imaginai a sua alegria e como lhe pareceu ter achado um tesouro. Mas em que empregá-lo! A pobreza sugeria-lhe mil projetos. Por fim, depois de refletir longamente, decidiu dar o dinheiro a um sacerdote para que celebrasse uma Santa Missa pelas santas almas do Purgatório. Podeis acreditar: desde então a fortuna mudou para ele. Recolheu-o outro dos irmãos, mais compassivo, que o amou como um filho deu-lhe roupas convenientes, enviou-o à escola, contribuindo assim para que ele se tornasse esse grande homem e grande Santo, ornamento púrpuro e forte sustentáculo da Igreja. Vede como uma única Santa Missa, encomendada com ligeiro sacrifício, se tornou para ele a origem de tão grande bem.



Ó bem-aventurada Santa Missa! Que ajuda ao mesmo tempo os mortos e os vivos, que alcança graças para o tempo presente e para a eternidade. Essas santas almas são tão gratas a seus benfeitores, que chegando ao Céu, elas se constituem seus advogados e jamais os abandonam até que os vejam de posse da glória.


Foi o que verificou uma mulher de má vida em Roma. Inteiramente esquecida de sua salvação, não pensava senão em satisfazer suas paixões, e servia de agente de satanás para corromper a mocidade.

Já não fazia nenhuma boa ação, a não se encomendar quase todos os dias uma Santa Missa pelas almas do Purgatório.


Oh! Essas almas, como se pode crer piedosamente, oraram tão bem por sua benfeitora, que um belo dia, tomada de profunda contrição de suas faltas, ela abandonou sua casa infame, foi prostrar-se aos pés de um zeloso confessor, fez sua confissão geral e pouco tempo depois morreu em consoladoras disposições que todos ficaram persuadidos de sua salvação eterna. Esta graça tão admirável foi atribuída à eficácia das Santas Missas que ela encomendava pelas lamas do Purgatório.

Despertemos também nós, e não deixemos que os publicanos e as mulheres da má vida nos precedam no Reino de DEUS (Mt 21,31)

Se fôsseis dessa raça de ingratos que não só faltam à caridade, que se esquecem de rezar por seus falecidos, e não participam nunca de uma Santa Missa por esses pobres afligidos, mas ainda, violando toda justiça, recusam aplicar os legados piedosos de Missas, indicados no testamento de seus parentes.


Oh! Então eu me inflamaria a vos diria em face: “Retira-vos, sois piores que um demônio, pois, realmente, os demônios só torturam as almas dos réprobos, mas vós, vós atormentais as almas dos eleitos; os demônios exercem sua raiva sobre os condenados, mas vós sois cruéis com os predestinados, os amigos de DEUS. Não, não há para vós, nem confissão que valha, nem padre que vos possa absolver se não fizerdes penitência de tão grande pecado e não solverdes inteiramente as dívidas que tendes com os mortos.”


- Mas, direis, não tenho meios de encomendar essas missas, não é possível.

- Não tendes meios? Não é possível? E para manter essa casa confortável, para andar suntuosamente vestido, para gastar loucamente em festins, em recepções de prazer, e, às vezes, em, divertimentos criminosos, tendes meios.Depois quando se trata de pagar vossas dívidas, aos pobres defuntos; não possuís nada! Não é possível?! Ah! compreendo: não há ninguém na Terra para cobrar essas contas. Mas tereis que prestá-las a DEUS. Continuai, portanto, a comer os bens dos mortos, os legados piedosos, os sacrifícios, mas sabei que é para vós que está escrito nos Profetas uma ameaça de desgraças, de calamidades, de tribulações, de ruína irreparável para vossos bens, vossa honra e vossa vida. Eis a palavra de DEUS que não poderá ficar sem efeito: Comederunt sacrificia mortuorum et multiplicata est in eis ruína – “Comeram os sacrifícios dos mortos e multiplicou-se neles a ruína” (Sl 102, 28-29).


Sim, ruínas, infortúnios, perdas irreparáveis às casas que não se desobrigaram de seus deveres para com os mortos.

Vede quantas famílias extintas, quantas casas arruinadas, lojas fechadas, comércio em apuros, falências, quantos males, quantos lamentos! Mas qual é a causa? Um exame atento revelaria que uma das causas principais é a crueldade para com os pobres mortos, recusando-lhes os sufrágios devidos, negligenciando o cumprimento dos legados piedosos. Comederunt sacrificia mortuorum et multiplicata est in eis ruín.


Entretanto, não consiste ainda nisto todo o castigo de DEUS àqueles sem amor a seus falecidos: outro maior lhes está reservado na outra vida. São Tiago assegura que eles serão julgados por DEUS com todo o rigor da justiça, sem misericórdia, pois que eles mesmos foram impiedosos com os pobres mortos. Judicium sine misericordia illi qui non fecit misericordiam. (Tg 2, 13). Permitirá DEUS que seus herdeiros lhes paguem na mesma moeda, e é, que suas últimas disposições não sejam cumpridas, as Missas deixadas em testamento não sejam realizadas: e, se forem celebradas, DEUS não as aplicará a eles, mas a outras almas que nesta vida tiveram compaixão dos mortos.

Isto nos ensinam, outrossim, nossas crônicas, a respeito de um irmão que, após a morte, apareceu a um de seus companheiros, revelando-lhe que no Purgatório sofria dores extremas, especialmente por ter sido muito negligente em rezar por seus irmãos falecidos. Até aquele momento ele não recebera nenhum alívio dos sufrágios e Missas oferecidos em seu favor. Como punição por sua negligência, DEUS os aplicava a outras almas que em vida tinham sido devotas das almas sofredoras.


Ante de terminar esta instrução, permiti-me caro leitor, suplicar-vos de joelhos e mãos postas de não fechar este livro sem tomar a firme resolução de fazer, no futuro, todo o esforço para assistir ou encomendar todas as Santas Missas que vossas ocupações e vossa condição vos permitirem, não só pelas almas dos falecidos, mas também pela vossa, e isto por dois motivos. Em primeiro lugar, para alcançardes uma boa e santa morte, pois é opinião constante dos teólogos que não há meio mais eficaz para se chegar a um bom fim, do que a Santa Missa. Ainda mais, Nosso Senhor JESUS CRISTO revelou a Santa Mectilde que aquele que, durante a vida, tiver tido o hábito de assistir devotamente à Santa Missa, será consolado na morte pela presença dos Anjos e dos Santos protetores, que o defenderão poderosamente contra todos os ataques dos demônios. Ah!

De que bela morte será coroada a vossa vida, se a tiverdes empregado em assistir a todas as Santas Missas que puderdes.

Em segundo lugar, par sair prontamente do Purgatório e voar à glória eterna. Já provamos suficientemente a eficácia da Santa Missa para apressar a remissão das penas do Purgatório. Contentai-vos aqui com o exemplo e autoridade do grande servo de DEUS, João d´Ávila, oráculo da Espanha. Encontra-se em artigo de morte e alguém lhe perguntou o que mais queria depois da morte, e ele respondeu: Missas, Missas, Missas! Mas se me permite, eu quisera dar-vos, sobre este ponto, um conselho de grande importância: cuidai de mandar celebrar durante vossa vida todas as Santas Missas que desejaríeis que fossem celebradas depois de vossa morte, e não encarregueis disto os que ficarem no mundo depois de vós.

Tanto mais que Santo Anselmo vos ensina que uma única Santa Missa assistida ou celebrada por vossa intenção durante vossa vida, vos será talvez mais útil que mil depois de morrerdes.

Audire devote unicam Missam in vita vel dare eleemosynam pro ea, pordest magis quam relinquere ad celebrandum mille post obitum.


Bem compreendera esta verdade aquele rico mercador de Gênova que ao morrer, não deixou nenhuma disposição para assegura-se sufrágios.

Todos se admiravam de que um homem tão rico, tão piedoso e generoso para com todo mundo, tivesse sido tão cruel consigo. Mas, terminados os funerais, encontraram-se lançadas, em um de sus livros de contas, as grandes caridades que fizera por sua alma durante a vida. “Missas celebradas por minha alma, dois mil escudos; para o casamento das jovens, dez mil; para tal santuário, duzentos, etc.”

E no fim lá estava escrito: “Porque quem deseja o próprio bem, faça-o a si durante a vida, e não conte com os outros para que lho façam depois de morto.”

É provérbio bastante conhecido que uma vela à frente clareia mais que uma tocha atrás.

Aproveitai tão belo exemplo e pesai bem a utilidade e as vantagens da Santa Missa. Deplorai a cegueira em que tendes vivido até agora, desestimando o valor de tão grande tesouro, que por longo tempo tem sido para vós um tesouro oculto.

Agora, portanto, que lhe conheceis o preço, bani de vosso espírito e mais ainda de vossos lábios estas expressões escandalosas: “Uma missa a mais, uma missa a menos, pouco importa. Já basta assistir à Santa Missa nos dias de preceito! A Missa daquele padre é uma Missa de semana santa: quando ele sobe ao altar, eu fujo da Igreja.” E tomai novamente a resolução de assistir, de hoje em diante, a todas as Santas Missas que puderes, e assistir com a devida devoção: e, para que assim seja, servi-vos, com a graça de DEUS do método piedoso e fácil que segue.



As Excelências da Santa Missa – São Leonardo de Porto Maurício - Pags 34-41

A Santa Missa Salva Almas

A Santa Missa Salva Almas
A Santa Missa é o sacrifício de expiação por excelência. É a renovação do Calvário, que salvou o gênero humano. Na Missa colocou a Igreja a memória dos mortos, e isso no momento mais solene, em que a divina Vítima está presente sobre o altar. É a melhor, a mais eficaz, a mais rápida maneira de aliviar e libertar as almas dos nossos queridos mortos.
Certa feita, celebrando a Missa em uma igreja de Roma, São Bernardo caiu em êxtase e viu uma escada que ia da terra ao céu, pela qual os anjos conduziam as almas libertadas do purgatório em virtude do santo sacrifício. Nessa Igreja - Santa Maria Escada do Céu - há um quadro que representa essa visão.
Não há maior socorro às almas, diz Guerranger, que a Santa Missa: A Missa é a esperança e a riqueza das almas.
Podemos duvidar do valor de nossas orações; mas da eficácia do Santo Sacrifício, no qual se oferece o Sangue de Jesus pelas almas, que dúvida podemos ter?
Ao Beato João D'Avila, nos últimos instantes de vida, Perguntaram o que mais desejaria depois da morte. Missas! Missas!
Ao Beato Henrique Suzo apareceu depois da morte um amigo íntimo gemendo de dor e a se queixar: "Ai, já te esqueceste de mim".
- Não, meu amigo, responde Henrique, não cesso de rezar pela tua alma, desde que morreste.
- Ó, mas isto não me basta, não basta! Falta-me para apagar as chamas que me abrasam o Sangue de Jesus Cristo.
Henrique mandou celebrar inúmeras Missas pelo amigo. Este lhe apareceu então já glorificado e lhe diz: "Meu querido amigo, mil vezes agradecido. Graças ao Sangue de Jesus Cristo Salvador, estou livre das chamas expiadoras. Subo ao céu e lá nunca te esquecerei”.
A cada missa, diz São Jerônimo, saem muitas almas do purgatório. E não sofrem tormento algum durante a Missa que lhes é aplicadas.
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São Vicente Ferrer tinha uma irmã frívola e vaidosa. Vindo a falecer, apareceu-Ihe em meio de chamas e sofrendo penas horríveis. "Ai de mim, meu irmão, fui condenada a estes suplícios até o dia do JuIzo. Mas tu poderás ajudar-me. É de grande valia a virtude do santo sacrifício. Oferece por mim trinta missas".
Mais que depressa, pôs-se o santo a celebrá-las. No 30° dia, apareceu-Ihe a irmã cercada de anjos a caminho do céu.
"Graças à valia da Santa Missa ficou reduzida a 30 dias uma expiação que deveria durar séculos".
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Certo homem de negócios juntava a todos os meses o montante de suas despesas a soma necessária para mandar celebrar, todos os dias; missas pelas almas. Eis como dizia ele: - Fui recompensado: Desde que coloquei em minha casa um cofre destinado a estas esmolas, essas almas trabalham por mim.
Depois da Missa... A Comunhão
Não há sufrágio mais poderoso, depois da Santa Missa, para socorrer as almas, que a santa comunhão, diz São Boaventura.
A Eucaristia é um sacramento de descanso e paz para os defuntos, diz Santo Ambrósio. Eco mesmo afirmam S. Cirilo e S. João Crisóstomo. Procuremos fazer boas comunhões lembrando-nos que quanto melhor as fizermos tanto mais aliviaremos os mortos.
E célebre a sentença do Papa Alexandre VI: "Todo que reza, e muito mais ainda quem comunga pelas almas, com o desejo de ajudá-Ias, as obriga a gratidão e remuneração”.
O Papa Paulo V estimulou a prática das comunhões pelas almas padecentes.
O Venerável Luiz Blois tendo feito uma comunhão muito fervorosa por um amigo que sofria no purgatório, recebeu a sua visita, com estas palavras: "Graças, mil graças, meu amigo. Vou contemplar a face de meu Deus para sempre”.
http://www.almasdopurgatorio.com.br/artigos_detalhes.asp?codFin=1&codConteudo=6


A SANTA MISSA É O MAIS EFICAZ
ALÍVIO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO.
Não podendo compreender, durante esta vida, o rigor das chamas do purgatório, virá, porém, o dia em que o experimentaremos. Meditemos, enquanto podemos, a doutrina dos Santos e Doutores da Igreja.
Santo Agostinho diz: "O eleito e o condenado são atormentados pelo fogo, cuja ação é mais violenta que tudo quanto, sobre a terra, se pode imaginar, ver e sentir" (Sermão 41). Fosse este testemunho o único, e bastaria para espantar-nos, porque os males de que a terra está cheia, são incalculáveis, e nossa capacidade de sofrer é um abismo de que ninguém sondou a fundo. Pensa nas terríveis doenças que corrompem o corpo; lê, no martirológio, as torturas espantosas, a que foram submetidos os confessores da fé, e persuadir-te-ás de que tudo isto é apenas uma pálida imagem do que te espera, segundo a afirmação de São Cirilo: "Todas as penas e torturas, diz ele, todos os tormentos desta vida, comparados à menor pena do purgatório, parecem ainda uma consolação". São Tomás de Aquino afirma também: "A menor faísca desse fogo é mais cruel que todos os males desta vida" (In e. Sent. dist. 20, qu. 1. c. 2).
Meu Deus! Como minha alma suportará essas dores terríveis? Ora, é quase certo que não chegará ao céu sem passar por essas chamas purificadoras, porque, longe de ser bastante perfeita para evitá-las, está repleta de manchas e de más inclinações.
Há vários meios eficazes de aliviar as almas do purgatório; porém, o mais salutar, declara o Concílio de Trento, é o santo Sacrifício da Missa: "As almas do purgatório são aliviadas pelas orações e sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do Altar" (Conc. Trento, Sess. 25). Dois séculos antes, São Tomás de Aquino dizia: "Segundo o uso geral, a Igreja sacrifica e ora pelos defuntos e, assim, liberta-os, prontamente, do purgatório".
A razão é porque, na santa Missa, o sacerdote e os assistentes não somente pedem misericórdia, mas oferecem também a Deus um resgate preciosíssimo. As almas do purgatório não estão fora dos favores de Deus, visto que, por sua contrição e confissão, reconciliaram-se com Ele, porém ficam prisioneiras, para se purificarem das chamas. Por conseguinte, se cheio de compaixão, orares por elas, cedendo-lhes teus méritos, contribuis para saldar uma parte desta dívida de que o Juiz supremo diz: Toma cuidado "para que não sejas lançado na prisão, donde não sairás sem ter pago o último ceitil" (Mt. 5, 25-26). Entretanto, se assistes, ou fazes celebrar a santa Missa por uma destas almas, satisfarás grande parte de sua dívida.
Ignora-se em que medida são remidas as penas do purgatório pelo santo Sacrifício. Em todo o caso, fica certo que uma Missa celebrada, ou ouvida durante tua vida, serve-te mais do que outra oferecida em tua intenção depois da morte, segundo a palavra de Santo Anselmo: "Uma única Missa assistida por uma pessoa durante a vida, lhe é mais vantajosa do que muitas oferecidas, em sua intenção, depois da morte". Eis porque:
1. Se estiveres em estado de graça, quando ouvires, ou mandares celebrar a santa Missa por ti, obterás um aumento de glória para o paraíso; vantagem que, mesmo cem missas, celebradas depois de teu falecimento, não poderiam merecer-te, visto que o tempo de merecer acabou.
2. Se estiveres em estado de pecado mortal, a santa Missa te atrairá, pela infinita misericórdia de Deus, a luz necessária para reconhecer os pecados e a dor de havê-los cometidos, dor que te põe em graça com ele, cousa impossível depois da morte. Se, em vida, já estás marcado com o selo da reprovação, a santa Missa pode ainda deter-te na beira do abismo infernal e conceder-te o inestimável benefício de morreres na graça de Deus.
3. Missas ouvidas, ou celebradas te esperam além do túmulo, onde, como outros tantos advogados eloqüentes, solicitarão, para ti, o perdão no tribunal da Justiça divina. Se não te preservam inteiramente do purgatório, abreviar-lhe-ão a duração e diminuir-lhe-ão a intensidade. Apesar de Deus aplicar-te todo o fruto de uma Missa após tua morte, seria ainda mister que fosse celebrada, e deverias esperá-la.
4. Supõe que morras à tarde e devas permanecer nas chamas do purgatório somente até a hora da Missa do dia imediato, oh, como seria longa esta única noite! Supõe mesmo o caso mais favorável em que tua pena duraria o tempo de uma Missa; caro leitor, esta meia hora te pareceria ainda uma eternidade. Se te obrigassem a ter a mão em fogo vivo durante o tempo em que se pode celebrar uma santa Missa, quanto não darias para escapar a uma prova tão cruel?
5. Entretanto, não atingiria senão a um membro de teu corpo, e não se pode comparar à pena muito mais intensa que tem sede na alma. Poderíamos ter menos compaixão de nossa alma que de nosso corpo? Em todo caso, é melhor que as Missas nos esperem na outra vida do que termos que esperá-las. Amontoemos, pois, tesouros no céu, pela piedosa assistência à santa Missa, porque a noite virá, e quem trabalhará então por nós?
A esmola que consagras para fazer celebrar a santa Missa, é um dom espontâneo, voluntário, muito agradável a Deus, ao passo que, depois de tua morte, não será mais dado por ti, mas por teus herdeiros. Não vemos, todos os dias, como demoram a satisfazer os piedosos desejos dos moribundos?
Acredita-nos, é mais conveniente assegurar o futuro, desde a vida presente, enquanto podes dispor de teus bens.
Enfim, não esqueçamos que o tempo presente é o tempo da misericórdia, e o tempo futuro, o da justiça.
São Boaventura diz: "Assim como uma palheta de ouro é mais preciosa do que um pedaço de chumbo, também uma pequena penitência, a que nos submetemos, voluntariamente, nesta vida, é mais agradável aos olhos de Deus do que uma grande penitência feita na outra.
Ah, se pudesses contemplar, com teus olhos mortais, os rios de graças que, do altar, se derramam sobre o purgatório, com que pressa procurarias, para as almas exiladas, este divino benefício! Não objetes tua pobreza. É verdade, a pobreza pode privar-te do prazer de mandar celebrar os divinos Mistérios; porém, não te explicamos que a simples audição da santa Missa é, por si, muito meritória? Pede a teus amigos que ouçam também uma ou mais Missas, na intenção das almas do purgatório.
Era o conselho de um homem de Deus a uma pobre viúva que lamentava não poder mandar celebrar Missas por seu defunto marido: "Assisti, freqüentemente, ao santo Sacrifício por ele; deste modo será mais prontamente libertado do que por uma ou duas Missas celebradas em sua intenção".
Este excelente conselho o damos, de bom grado, aos pobres; não que seja menos vantajoso fazer celebrar a Missa, quando se pode, porém, é uma consolação para a alma do purgatório ver-te oferecer, por ela, nosso Senhor a seu Pai. Então o precioso Sangue inunda-a como orvalho celeste. Jamais um doente devorado pela febre foi tão aliviado por um copo d'água fresca, como nossos caros defuntos, quando na santa Missa, derramamos, misticamente, sobre eles algumas gotas deste Sangue divino.

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